in loco - cobertura dos festivais
A Um Tiro de Pedra (A Tiro de Piedra),
de Sebastián Hiriart (México, 2010)
por Raul Arthuso

RaniaNada de novo no front

O primeiro plano de A Um Tiro de Pedra, ao mesmo tempo em que apresenta seu protagonista Jacinto (Gabino Rodríguez), também revela o fim de sua trajetória, mostrando-o num interrogatório de deportação dos EUA. A estratégia é arriscada, pois se pode pressupor que o interessante será o recheio desse bolo. E, a essa altura, o tema da fronteira México-Estados Unidos não pode ser considerado exatamente inexplorado.

Isso aponta para fraqueza de A Um Tiro de Pedra pois, ao tratar desse tema, não traz outro aspecto para entendê-lo ou revelá-lo complexo, nem se arrisca formalmente em sua abordagem. O filme vai na linha das obras que mostram a dureza da vida no México e o sonho de um lugar idílico – literalmente – no vizinho desenvolvido. Há de se considerar a possibilidade deste paraíso ser um comentário irônico, na medida em que uma casa no meio da neve no Oregon é um lugar tão deserto quanto o lar do protagonista na primeira parte do filme. O caminho até lá, contudo, é cheio de peripécias previsíveis, como apaixonar-se pela prostituta Penélope/Laura (Monserrat Angeles) – e o momento em que ele descobre seu verdadeiro nome beira o constrangedor – ser enganado por um malandro que vai trocar seus pesos por dólares, ter sua mala roubada quando faz um lanche e, depois, roubar a bolsa de uma mulher quando precisa de dinheiro.

RaniaHá, na evolução das cenas, uma funcionalidade dramática que guarda semelhanças com o cinema de Iñarritú, cujos recursos narrativos servem a um efeito para lidar com temas importantes, em vez de articulá-los como uma forma de se olhar para eles. Por outro lado, o diretor Sebastián Hiriart não tem a mesma mão pesada e, eventualmente, sua câmera se volta com alguma graça para o personagem, principalmente quando confia no ator como centro da cena – como quando Jacinto e Penélope brincam no café, como que esquecidos de seus “grandes temas”, simplesmente soltos em frente à câmera que parece estar ali para eles e não o contrário. Mas momentos como este, em que os tais “grandes temas” se rendem a apenas instante de descontração, são raros no filme.

Outubro de 2011

editoria@revistacinetica.com.br


« Volta