A Bússola de Ouro (The Golden
Compass), de Chris Weitz (EUA, 2007) por
Felipe Bragança
Um filme fora do seu tempo
Uma desarticulação essencial
entre a cadência narrativa e a vontade de se encenar a aventura como fórmula fazem
com que A Bússola de Ouro soe como um amontoado de ante-salas de cenas
e imagens. Nada se realiza a contento e a costura entre o afeto e a ação se torna
rarefeita fazendo com que cada peripécia pareça estar ali apenas para entre-ter
uma maratona de eventos. As metáforas por vezes inteligentes
sobre o poder e a base original de algumas das imaginações propostas pelo livro
original parecem só alcançar alguma verdade na belíssima construção de cenografia,
figurinos e texturas de imagem (e num ou outro lampejo da jovem protagonista).
No mais, o que se vê é o desencantado embate entre a vontade de ser fiel a uma
narrativa épica e o desejo de se fazer do cinema um lugar para a diluição do esforço.
A Bússola de Ouro apenas repete uma série de trajetórias obvias no menu
dos filmes de aventura contemporâneos (combates, vôos, seres fantásticos, muito
uso de subwoofers...) e não sabe valorizar a contento aquilo que teria
de, digamos, original (ou, melhor dizendo: de verdadeiro). Se
a proposta era de um filme-em-capítulos (de uma grife!), fica aqui a questão de
até que ponto essa seara (bem resolvida no mega fenômeno Harry Potter) pode começar
a mostrar sinais de cansaço quando o fato seus filmes de estréia tem de se submeter
a uma cartilha tão, digamos, cerimoniosa e enfadonha (víde os filmes de estréia
de Narnia ou Eragon, por exemplo) de “apresentação de universo”.
Um certo turismo sub-mitológico que se abstém do mistério e prefere o confete. A
Bússola de Ouro, assim, parece acima de tudo querer vender suas continuações,
seja lá quantas forem ( 2, 3, 4, 5...), e acaba esquecendo de fazer viver suas
imagens propriamente ditas e PRESENTES na tela. O binômio estrutural roteiro-montagem
vai se tornando alijeado de qualquer resquício de alma e, no fundo, o filme que
está se vendo não importa. É desimportante e blasé – o que me parece um
paradoxo desinteressante para um filme que se vende como mágico, como alegoria
juvenil que seja... Aos produtores e realizadores, parece importar apenas sua
capacidade de instaurar uma grife futura, uma ansiedade pelo por-vir, pelo próximo
trailer... E aí, aiaiai..., não há imagem que sobreviva que não na sua presença
mesma, aqui, agora – ativada! Filmar para depois
é sempre uma bobagem – e por fim, é isso o que acaba sendo esse A Bússola de
Ouro. Janeiro de 2008
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