in loco
3 filmes da Quinzena
por Leonardo Sette

Savage Grace, de Tom Kalin (Espanha/Estados Unidos, 2007) – Quinzena dos Realizadores

Pequena jóia semi-lapidada, banhada de inteligência, humor e talento. Primeiro filme a brilhar de fato na Quinzena dos Realizadores e até aqui o melhor entre os que pude ver nesse festival, ao lado do excelente romeno 4 Luni, 3 Saptamini si 2 Zile. Adaptação de um best-seller homônimo, Savage Grace conta a história real e trágica de Barbara Daly (Julianne Moore, excelente) que nos anos 40 se lança na alta-sociedade ao casar-se com um riquíssimo aristocrata. No filme, a história gira em torno do filho do casal, Tony, herdeiro da salada de espinhos que é a relação de seus pais – relação perturbada pela luta de Daly para sobreviver em mundo estranho. Um filme anarquicamente tecido, no bom sentido, com reconstrução de época “barata” funcionando surpreendentemente bem.

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Control, de Anton Corbijn (Reino Unido/Austrália, 2007) – Quinzena dos Realizadores

Belo filme redondo em torno do vocalista do Joy Division, Ian Curtis. Boa parte da força vem da convincente encarnação do ator Sam Riley e da utilização da música, sempre alguns pontos de volume acima das demais seqüências. Não transcende como cinema, em parte por contentar-se com opções narrativas típicas do gênero – como as letras das canções em sintonia com as etapas da vida de Curtis e um certo excesso de tinta em alguns personagens – artifícios que, em contrapartida, servem eficazmente ao lado didático do filme, do qual Corbijn prefere não abrir mão.

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Un homme perdu, Danielle Arbid (Líbano/França, 2007) – Quinzena dos Realizadores

Inspirado no método de trabalho do fotógrafo Antoine d’Agata (analisado em texto de Cezar Migliorin), traz a relação entre um fotógrafo francês e um homem de origem desconhecida, recrutado como intérprete para sessões de fotos no Líbano e Oriente Médio. Faz pensar em algo que seria Cinema, Aspirina e Urubus (2005) num terreno mais minado. Mas ao contrario do filme de Marcelo Gomes, Un homme perdu lança pequenas doses de julgamento sobre seus personagens e utiliza um deles como cobaia para tese um tanto simplista – danos psicológicos como fruto da guerra. Também não resiste à facilidade de glamourizar e higienizar o personagem do fotógrafo que, ao contrario de d’Agata, não passa perto de nenhuma seringa de heroína – além de estar mais próximo visualmente de Tom Cruise em Top Gun (1986) que do “rato” de inferninhos Antoine d’Agata. Ainda assim, filme interessante, com bons momentos sobre a relação do fotógrafo e seu objeto.

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