Dies irae! dies illa
Solvet saeclum in favilla
Tomás de Celano (?)
Os pés descalços deixam marcas
na terra seca. A fome é o combustível de suas passadas
largas, decididas, eficientes; a viagem é longa e urgente
– na verdade, perpétua. Depois de muitos séculos, tudo
o que conseguiu foi uma túnica puída e uma sandália
fina, mas a disposição é a mesma. Cruza agora Judá,
território disputado por Egito e Assíria. A areia acende
sua ira, sua sede de vingança frente aos ricos e injustos
idólatras em conflito. Javé fala
através de sua voz gutural, e seu amigo Sofonias escreve:
Eliminarei o ser humano da face da terra (...).pedirei
contas aos nobres e príncipes (...) Nesse dia (...)
um clamor se levantará das colinas um grande lamento.
(...) Será um dia de cólera, esse dia; um dia de angústia
e aflição, dia de devastação e ruína (...) o sangue
deles [dos homens] se derramará como poeira e suas
vísceras como esterco. (...) procurem a justiça, procurem
a pobreza. [1]
O peregrino segue viagem, deixando-se guiar
pela intensidade sangüínea, estomacal, do ressentimento.
Seu mote é a luta, a permanência e a disseminação da
luta dos famintos como valor, como verdade. Não o fim
da fome, mas, ao contrário, e paradoxalmente, a manutenção
da fome como salvação, aceitação da politização da vida
nua através da dedicação à luta e à vingança. Assim
supera mil lugares e tempos. Duplica-se. Mesmo permanecendo
na região de Jerusalém, aparece também na Itália, bastando-se
com as tetas da loba como condição para ressurgir no
futuro, voraz e irado como sempre.
Na Grécia se confunde, perplexo,
diante do cinismo de um outro miserável, faminto e cosmopolita
como ele, mas que simplesmente o ignorou, tanto quanto
havia ignorado o imperador. Confuso, fingiu não se abalar
e seguiu, encontrando-se em Sócrates, admirando-o até
(e principalmente) na morte gloriosa, sendo depois também
defendido por Platão. Tornou-se o grande ponto de apoio
de boa parte dos subjugados, dos escravizados e de praticamente
todos os que freqüentavam as catacumbas. Vibrou com
Cristo, até (e principalmente) na morte gloriosa. Amou
a cruz. Extasiou-se. Na via crucis ajudou o protagonista,
excitado com seus próprios sentimentos – piedade, fascínio
pelo sangue, gozo pueril com o espetáculo. Soprou depois
em Lucas, na voz de Maria, a imagem do Senhor que “derruba
do trono os poderosos / e eleva os humildes; / aos famintos
enche de bens, / e despede os ricos de mãos vazias”. [2]
Ainda no apóstolo médico, vê surgir um “Lázaro, cheio
de feridas”, a fim de “matar a fome com as sobras que
caíam da mesa do rico. E ainda vinham os cachorros lamber-lhe
as feridas”. Na mesma narrativa, rico e pobre morrem,
e a relação se inverte: no fogo do inferno, o rico olha
para cima, vê Lázaro bem disposto ao lado de Abraão
e suplica que este deixe Lázaro apenas molhar o dedo
para refrescar-lhe a língua.
[3]
Assim o peregrino vai testemunhando toda
a trajetória de castigos que constituía na terra o animal
capaz de fazer promessas, colaborando com qualquer possibilidade
de mimetização desse processo. Percebeu que “Ver-sofrer
[Leiden-sehn] faz bem. Fazer-sofrer [Leiden-machen]
faz mais bem ainda”. Eis uma frase dura, mas um
velho e sólido axioma, humano, demasiado humano, que
talvez até os símios subscrevessem: conta-se que na
invenção de crueldades bizarras eles já anunciam e como
que “preludiam” o homem”. [4] Percebeu também
que, na mímese desse processo, a crueldade ganharia
sofisticação adotando valores como fé, gratidão, misericórdia,
capacidade de súplica e vontade de verdade. Com isso,
a sofrida pele do pobre submetido ao sacrifício ofereceria
espetáculos de revelação. Daí o constante investimento
de nosso personagem na forma da parábola, cara aos evangelistas.
A narrativa parabólica traz um halo brilhante à sua
volta, uma revelação, torna-se parábola de si mesma.
Adia a revelação prometida, mantendo a promessa; revela
a impossibilidade de revelar alguma coisa. “O fim é
anunciado como alguma coisa sempre iminente, nunca aparece
de fato. O Apocalipse nunca é agora [is never
now] (...). [O fim] nunca chega realmente enquanto
existe alguém para falar ou escrever sobre ele”. [5] Diria Mateus: “É por isso que eu uso parábolas para
falar com eles: assim eles olham e não vêem, ouvem e
não escutam nem compreendem”.[6]
Depois do encontro com Agostinho, o peregrino
trabalhou durante cerca de oito séculos no cultivo da
mitologia cristã, escondendo o graal com requinte e
coragem, circulando a Europa, o Oriente Médio e o Norte
da África. Até que na Itália conhece alguém que dá novo
ímpeto a suas urgências. O mundo, ou seja, o mundo das
narrativas por ele inspiradas, estava se realizando
como o melhor de seus sonhos em
Francisco. No frio de Assis, ambos
adotam a longa e grossa túnica com largo capuz e um
par de finas sandálias. Francisco reconheceu no andarilho
uma figura fundamental, uma grande esfera de propagação
para sua lição de humildade. E logo apareceu, através
do peregrino mimético, o primeiro grande propagador,
Tomás de Celano, que se tornou admirador e biógrafo
de Francisco. Além do fascínio, o nosso personagem ofereceu
a esse Tomás as velhas cruéis imagens de Sofonias.
Assim, a versão do Dies irae de
Celano se tornaria retrospectivamente a pedra fundamental
do trabalho do andarilho. O poema valoriza ao extremo
a força da recusa franciscana a toda cobiça, a todo
apego material e terreno, a todo impulso da vida anterior
à morte. Acrescenta a ela a intensidade da ira de Sofonias,
tornando-se um hino à inexorabilidade da justiça divina,
com tudo o que ela traria – estará sempre a trazer –
de crueldade na sentença final. O poema é trocaico,
forma rara que tende a ecoar as batidas binárias dos
corações, conseguindo junto a eles uma intimidade mágica,
imemorial. Celano parecia saber que a própria condição
de possibilidade do julgamento final vinha da escrita,
do livro trazido à presença do juiz supremo com todas
as provas contra os culpados (“Liber scriptus proferetur,
/ In quo totum continetur / Unde mundus judicetur”).
No momento em que surge, o poema constrói
uma ponte para a comunidade humana através dessa intimidade
cardíaca, cordial: de um lado, os bestializados e os
arrogantes feudais; de outro, as pessoas humanas
que estavam para nascer. Aos pobres de qualquer tempo,
sua batida binária fala de esperança; aos ricos, cala-se
em alerta íntimo, vingativo. O mesmo poema focaliza
um dia, aquele dia – dies illa – em que acontecerá
o julgamento cruel e espetacular. E será um dia da mais
absoluta ira – dies irae –, em que o mundo todo
se dissolverá em favilla, ou seja, ao mesmo tempo
em cinzas e em faíscas. O fim se consuma nas cinzas e não
se consuma nas faíscas – tanto que, ao final do poema,
na única estrofe de quatro versos, é ex favilla
que ressurge o acusado, para quem se pede misericórdia.
A energia (e muitos alquimistas da época deviam saber
disso) não se esgotaria no fim. Seria, uma vez mais,
fim sem fim, apocalipse never now, revelação
parabólica, sem revelação – porém com muita intensidade.
A imagem do cruel julgamento final revela apenas a si
mesma, enquanto imagem.
Ao mesmo tempo em que confia na justiça,
a voz ardente do poema valoriza o medo soberano. Nos
versos em que esse jogo aparece (entre outros) o vai-vem
trocaico (medo-justiça, mau-bom etc) se reveste de um
certo desafio à emissão no canto, carregados que são
de consoantes e das vogais i e u.
Quantus tremor est futurus,
Quando judex est venturus
Cuncta stricte discussurus!
(...)
Judex ergo cum sedebit,
Quidquid latet apparebit:
Nil inultum remanebit.
Quid sum miser tunc dicturus?
Quem patronum rogaturus?
Cum vix justus sit securus.
O medo, a intimidação da fala, refluem
no poema. Na falta de protetor, de patrono, o eu miserável,
sem justiça, não tem a quem recorrer, cala-se infantil
(sem fala). Criança perdida dirige-se ao juiz supremo
num gesto desesperado e, repetidas vezes, pede salvação
como indivíduo, alegando como precedente Sua boa vontade
quanto a Madalena e ao bom ladrão. Diz reconhecer que
suas preces não têm valor, mas mesmo assim pede à bondade
divina que evite mandá-lo para queimar no inferno. [7]
Negociação comum, ao alcance de qualquer um, com a condição
de acreditar piamente na possibilidade do fim terrível.
A ira indica também, exige intensidade.
Toda ira é por definição intensa. Se deve combinar-se
ao medo, este deve se tornar pavor. Essa intensificação
é reverberada pelo cantochão associado ao poema:
Sombria e pré-tonal, lida pela trombeta
insistente que se faz ouvir nas tumbas (Tuba mirum spargens
sonum / Per sepulcra regionum), essa seqüência relativa
a cada estrofe (de três versos) mantém a angústia na
própria ausência da tônica. Escrita simplíssima, intervalos
pequenos, facilidade no canto contrastando com a dificuldade
na pronúncia: sons de vozes que vibram (trombeteiam)
firmes, estranhamente serenas, tenebrosas, inexoráveis.
Logo depois,
em Aquino, o peregrino acompanha outro Tomás, gordo,
espirituoso, atento ao mundo e aparentemente avesso
à misologia, que convence colegas católicos da possibilidade
de conciliação entre fé e razão, entre Cristo e Aristóteles.
A metafísica da salvação prevalece, porém, ganhando
inclusive mais força e fluência após sua canonização
– rapidíssima como a de Francisco.
[8] Em Tomás, o anjo, ele mesmo mensagem, torna-se pão,
panis angelicus, que por sua vez torna-se o pão
do homem (fit panis hominum), transformando-se
então em corpo humano. A deglutição do corpo mesmo de Deus pelo pobre, o servo
e o humilde, que de fato comem o senhor, é uma maravilha
aos olhos dos crentes (“O res mirabilis!
/ Manducat Dominum / pauper, servus et humilis”). A res mirabilis, da ordem da simbologia, confunde-se em
Tomás com a res miserabilis, em toda dimensão
histórica. O miserável estará a salvo no dies irae,
dies illa, ao aceitar incondicionalmente a maravilha
da transubstanciação em seu próprio corpo.
O século
13, enfim, com Francisco, Tomás de Celano e Tomás de
Aquino, torna-se certamente decisivo na passagem entre
dois modelos de adequação entre intelecto e coisa, do
modelo da representação, ou da presentação, ao modelo
da ingestão, da literalidade no corpo – embora não haja
obviamente como localizar tal passagem com precisão.
Reforça-se um fundamentalismo oral europeu, tradição
segundo a qual “a verdade é algo que não se deixa exprimir
pela palavra, e ainda menos pela escritura, mas unicamente
pelo canto ou ainda, e mais freqüentemente, pela nutrição.
No conceito de verdade, não se trata de presentar ou
de representar alguma coisa dentro de um outro meio,
mas de ingerir ou integrar uma coisa em outra coisa”. [9] Ao ingerir, os fiéis absorvem e são absorvidos, consomem
e são consumidos, tornando visível sua admissão corpórea
numa comunidade.
Às vésperas
da modernidade, o peregrino sentiu que a própria noção
de comunidade é, em si mesma, o lugar mais aconchegante
que uma “essência humana” pode encontrar. “Uma comunidade
pressuposta como aquela que deve ser dos homens
pressupõe que ela mesma efetue, ou deva efetuar como
tal, integralmente, sua própria essência, que é, ela
mesma, a realização da essência do homem”.
[10] Sentiu que a imaginação de qualquer comunidade, como
origem e destino da totalidade dos homens, vem há séculos
cobrindo o mundo com o manto de uma imanência que pretende,
paradoxalmente, por um lado, proteger o homem, por outro,
torná-lo autônomo. A partir disso, ele acompanhou toda
a helenização da cristologia, processo “que provocou
esse elo categorial depois do qual o mensageiro [o anjo]
não se contenta mais com portar a mensagem, mas
é a mensagem ele mesmo”
[11] , ajudando a consolidar a teoria do redentor, do mensageiro
dos mensageiros, do “único signo perfeitamente adequado
do Ser. (...) um ser que, como emissor absoluto, monopoliza
todos os tronos, todas as potências, todos os poderes
e seus fluxos de signos e transmissores”. [12]
Interessado
também na técnica desses fluxos transmissores, nosso
personagem se deixou empolgar por Gutemberg, chegando
a perder de vista a profundidade das conseqüentes transformações.
É que, “com a multiplicação das potências emissoras
nos tempos modernos, com a inflação de mensageiros sobre
a marcha livre da informação, um hipermensageiro do
tipo do Deus redentor encarnado pelos representantes
apostólicos não pode afirmar sua primazia feudal”.
[13] Ele recusou-se a ver que “não é [mais] enquanto mensageiro
que o homem-deus presente pode tocar os mortais, mas
unicamente como idiota. O idiota é um anjo sem mensagem,
– um complemento íntimo e sem distância de toda entidade
que ele encontra por acaso.
[14] Ao contrário do anjo, que traz consigo toda a hierarquia
metafísica, o idiota é emblematizado pelo Príncipe Michkin,
desprovido, em sua ingenuidade, benevolência e puerilidade,
dos signos de seu status – no sentido médico, fisiológico,
que assume no título de Dostoievski, a palavra não é
exatamente ofensiva. Tem essa propensão pueril a não
colocar em jogo seu próprio ser na relação com o outro.
É como se no nascimento lhe fosse salva a placenta e
não a criança. “O idiota se placentariza a si mesmo”. [15]
Nietzsche,
aliás, lamenta a ausência de um Dostoieviski como narrador
dos tempos de Cristo, “alguém que soubesse sentir profundamente
o encanto comovente de tal mescla do sublime, do doentio
e do infantil”. Nosso personagem, claro, não teve tal
sensibilidade. Ignorou plenamente a “enorme contradição
entre o pregador das montanhas, dos lagos e prados (...)
e aquele fanático da agressão, inimigo mortal dos teólogos
e dos sacerdotes” (idem). Chegou à modernidade como
grande colaborador da construção desse modelo paradoxal
de herói, confiando na discrição do sectarismo que tal
construção carrega. “Quando a primeira comunidade cristã
teve necessidade de um teólogo justiceiro, aguerrido,
intempestivo, maliciosamente sutil e colérico para enfrentar
outros teólogos, criou o seu Deus”.
[16]
Do mesmo modo, a figura de Jesus, em Nietzsche, revela
já essa idiotia, equivalente a “um estado mórbido de
irritação do sentido do tato”, um “ódio instintivo
contra toda a realidade”, “conseqüência de uma extrema
aptidão para o sofrimento, de uma extrema irritabilidade”.
Contraditoriamente, a mesma figura inclui “a exclusão
instintiva de toda a aversão, de toda a inimizade”,
o prazer de “não resistir jamais, a ninguém mais”.
[17]
Apresentado,
então, como aquele que acompanha e dá complemento íntimo
ao outro no caminho de uma vida correta, construída
a partir da imagem do juízo final, “O redentor idiota
seria aquele que não conseguiria viver sua vida como
personagem principal de sua própria história, mas que
teria trocado de lugar com sua placenta, a fim de arranjar
em seu lugar, e enquanto placenta mesmo, um ser-no-mundo”. [18]
A considerar,
porém, todas as contradições das narrativas do Cristo-herói,
toda sua puerilidade como dificuldade de sustentar uma
anjelética em meio à idiótica moderna, nosso personagem
preferiu, é claro, fiel a si mesmo, investir, insistir,
na construção, em torno da pobreza, de figuras aglutinadoras
de comunidades, adaptando-se às novas condições. Desconcertado
em meio a esse turbilhão pueril pós-Gutenberg, nostálgico
em relação ao século 13, assumiu estar em
dificuldades. Sua memória começou a
emanar algo para reavivar sua esperança. Ouviu o velho
Dies irae. Atentou para a proliferação de composições
européias feitas a partir do hino. [19] Embalado pela múscia, viu-se do
alto cruzando espaços e tempos num sobrevôo mágico por
um brumoso mapa animado da Europa, chegando então à
futura Alemanha.
Ali pousou
bem no início de um “renascimento” cultural germânico,
testemunhando o nascimento da Estética como disciplina.
Ali o Dies irae era apreendido pelo idealismo,
indicando certos tons do sturm und drang e do
romantismo. A voz ameaçadora não mais correspondia ao
oráculo de Javé, é claro, mas à figura do böse Geist,
assombrando, como no Fausto de Goethe, em trecho
que Schubert transformou em lied, a moça extremamente
angustiada, presa indefesa das forças cósmicas, seu
corpo gótico permeável a elas. Diante da crescente revisão
de mitos germânicos como busca de identificação, o peregrino
lembra do longevo ensinamento de Platão sobre a oposição
entre logos e mythos, privilegiando o
primeiro. Embalado, porém, pelo zeitgeist, resolve
pedir licença ao antigo mestre para valorizar o mito
como “uma ficção no sentido forte, no sentido ativo
de fabricação, (...) um ficcionamento cujo papel
é o de propor, ou mesmo de impor, os modelos ou os tipos
(...) a serem imitados, dos quais um indivíduo – ou
uma cidade, ou um povo inteiro – pode ele mesmo se apropriar
e com eles se identificar. (...) a questão que o mito
põe é a do mimetismo, na medida em que apenas
o mimetismo é capaz de assegurar uma identidade”. [20] Nosso personagem percebe então, ali, o mito como instrumento
de identificação, ou como “o instrumento mimético
por excelência”.
[21] E foi mais adiante. Percebeu que “desde o esfacelamento
da cristandade um espectro assombrou a Europa, o espectro
da imitação. O que significa antes de mais nada: a imitação
dos Antigos” [22] – de Esparta, Atenas ou Roma. Tal espectro foi determinante
na fundação dos estados-nação modernos. Com isso o andarilho
pôde enxergar “a emergência do nacionalismo alemão como
a longa história da apropriação dos meios de identificação”. [23]
Em meio
à idiótica moderna, o que faltava à nascente Alemanha
era justamente “poder ser o sujeito do seu próprio devir
(e a metafísica moderna, sendo metafísica do Sujeito,
não por acaso realizou-se totalmente aí)”. Com uma intensa
“vontade da grande arte”, buscou-se “imitar o inimitável”.
[24] O alvo da imitação não foi a grécia neoclássica, até
porque já apropriada pela França, mas também não foi
o culto a Baco: trata-se de uma identificação lingüística
(no início filológica), apreciando-se, na essência das
línguas grega e alemã, uma grande capacidade de simbolização,
uma convidativa adequação à tarefa da construção de
mitos – a identificação não requer o retorno a mitos
antigos mas a construção de novos. Na poesia e no pensamento,
tal construção será consciente, voluntariosa, no sentido
de superar a oposição entre a mítica primitiva e as
luzes da razão – possibilidade que Schiller tenta demonstrar
cabalmente ao propor o impulso estético.
O mito a
ser construído acrescentaria à mimética tradicional
a energia da grécia mística, dionisíaca, uma imagem
simbólica onírica vinda do “espírito da música” do primeiro
Nietzsche. O modelo a ser forjado para identificação
– o tipo – é a síntese de Apolo e Dionísio na
forma ideal da tragédia. Motivo pelo qual essa Alemanha
em projeto privilegiou o espaço cênico. “Eis por que
Wagner, muito mais que Goethe, imaginar-se-á como o
Dante, o Shakespeare ou o Cervantes da Alemanha”.
[25] Nosso peregrino, portanto, presencia o início da construção
do mito nazista, ou seja, “a formação e a produção do
povo alemão na, pela e como obra de arte”
[26] – o nascimento da comunidade obrada por excelência.
A imposição dessa obra simbólico-mítica aos crédulos
seria a instalação mesma da verdade, e a identificação
correspondente seria a encarnação de um tipo.
“Pois o tipo é a realização da identidade singular que
o sonho porta” [27]
– daí a importância,
para o nazismo, da raça como figura que condiciona exteriormente,
que factualiza, o tipo sonhado. A transformação de cada
alemão no tipo (por ingestão, comunhão) acontece não
como fenômeno puramente místico, mas como confissão
de fé, como experiência mítica. [28]
Nosso personagem teve um insight:
esse ato de fé teatral poderia ressurgir, via analogia,
em outros processos de construção de povos, de tipos.
Ele teria apenas que cuidar para nunca perder de vista
a especificidade bio-geo-topográfica de cada caso, o
privilégio absoluto de um tipo específico. Com
a rápida multiplicação do rebanho humano pelo planeta,
a busca dessa especificidade exigiria, como exigiu na
Alemanha, um rompimento do elo estrito (tipicamente
romântico) entre identidade e língua: o corpo, a raça,
“o sangue e o solo” tornam-se elementos fundamentais
para a construção de um tipo. No caso alemão, o sol
foi presença decisiva para o ariano, portador do mito
solar, oposto aos povos noturnos ou ctônicos; o sol,
emissor de luz e calor necessários à própria formação
de qualquer coisa visível, de qualquer tipo –
e o ariano seria o tipo dos tipos. Em qualquer lugar,
a terra local e o corpo vivo do homem que a habita (portanto
sua relação com o sol) protagonizariam a transferência
do ato de fé que engendraria o tipo.
Com seu
poder de multiplicação, no tempo e no espaço, nosso
peregrino presenciou também os desdobramentos do realismo
na França. Assistiu perplexo aos gestos de Courbet,
superlotando seu ateliê de complexidades e desmetaforizando
ironicamente a origem do mundo. Acompanhou também as
penas enérgicas de Balzac e Flaubert, apreciando-lhe
a precisão mimética, mas já desconfiando, meio desconcertado,
justamente das possíveis conseqüências dessa precisão,
cuja técnica, ao contrário do preceito paulino, louvava
a si mesma. Ele estava dividido. Por um lado, temia
a capacidade problematizadora do realismo, que problematizava
até a si mesmo como procedimento mimético e, portanto,
colocava em xeque séculos de regime representativo.
[29] Por outro lado, ele esfregava as mãos, embora sempre
com uma reserva de desconfiança, ao prever o quanto
esse mimetismo supostamente ousado e tecnicamente sofisticado
poderia renovar o investimento humano na manutenção
pomposa do discurso da verdade. Animou-se mais ainda
ao ver que no realismo o pobre aparecia em retrato,
o que no seu entender parecia recuperar, contra o romantismo,
a vontade de revelação da verdade metafísica que sustentava
o discurso de Sofonias.
De fato,
a segunda metade do século 19 na França foi pródiga
em esperanças para os que acreditavam nessa recuperação.
A própria noção de herói enveredou, dentro do marxismo,
para a defesa enérgica da verdade do pobre. Até mesmo
em Baudelaire tornou-se possível aos crédulos encontrar
esse movimento. Numa carta à mãe, ele escreve: “Estou
a tal ponto habituado a sofrimentos físicos, sei tão
bem contentar-me com umas calças rotas, com uma jaqueta
que deixa passar o vento e com duas camisas apenas,
tenho tanta prática em encher os sapatos furados com
palha ou mesmo com papel, que quase só sinto os padecimentos
morais”.
[30] De fato, “Dentre as experiências que Baudelaire
transfigurou na imagem do herói, as mais inequívocas
foram as dessa espécie”. Do mesmo modo, “Por este tempo,
o despossuído aparece em outro ponto sob a imagem do
herói e, com efeito, ironicamente. É o caso em Marx
que, ao se referir às idéias de Napoleão I, diz: (...)
‘O exército era o ponto de honra dos pequenos agricultores,
eles mesmos transformados em heróis’”.
[31]
Nosso personagem,
assim, passeia pela Paris do segundo império investindo
no herói pobre. Ele ouve “Essas charangas formadas com
filhos de camponeses empobrecidos que fazem soar suas
toadas para a população das cidades e fornecem o heroísmo
(...) que é, exatamente neste gesto, o único e autêntico
heroísmo ainda produzido por essa sociedade”. [32] Realmente, no século 19 “os poetas encontram o lixo
da sociedade nas ruas e no próprio lixo o seu assunto
heróico. Com isso, no ilustre do poeta aparece a cópia
de um tipo vulgar”.
[33] A empolgação de nosso personagem vai ao extremo com
Zola e sua acuidade na descrição da bestialidade humana
– ecoando o Sofonias das vísceras e do sangue espalhados.
Esse gesto de Zola, de descrever anatômica ou fisiologicamente
a besta humana com a suposta amoralidade científica,
acompanhava ou retomava a politização da vida nua, a
definição do humano por subtração, mas com tanta empolgação
que se equivocava ao participar dela ingenuamente –
ou idioticamente.
A discussão
sobre realismo e naturalismo iria ainda se sofisticar,
passando pelo “Narrar e descrever” de Lukács [34] . De qualquer forma, na defesa do detalhe, da narração
ou mesmo da homologia estrutural
[35] , parece haver sempre uma voz, nesse debate, que não
abre mão do valor da mímese como aquela capaz de politizar
o texto, no sentido de denunciar a injustiça. Mantendo
o platonismo, essa voz aceita discutir como ou o quê
imitar, mas não questiona profundamente a mímese (ao
contrário até mesmo de Courbet).
Em meio às perplexidades e à complexidade
do debate europeu, nosso personagem, ainda de grossa
túnica com capuz e sandálias franciscanas, como que
posando para Zurbarán, parou um dia e fez as contas
de seu aprendizado. Três circunstâncias lhe apareceram,
num resumo de sua trajetória até ali, que poderiam lhe
determinar uma guinada. (1) Toda sua intimidade com
a hagiografia cristã, embalada sempre pelo Dies irae,
que lhe reiterava a imagem do juízo final como reveladora
da verdade heróica da pobreza (ainda que já quase admitindo
a impossibilidade da anjelética na modernidade); (2)
sua apreciação do modelo de produção do mito ariano
como reunião de vontade mimética de identidade e auto-efetuação
da forma, modelo mais ou menos aplicável a outras especificidades;
e (3) a energia mimética que sustenta toda a produtividade
da representação real-naturalista do pobre-animal-humano,
com todas as suas complexidades.
Ao mesmo
tempo, com sua capacidade de multiplicação e deslocamento
no tempo e no espaço, ele observou no Mundo Novo um
terreno fértil para a disseminação de seu esforço hiper-hagiográfico,
com base nas mesmas três circunstâncias. Na tradição
católica brasileira, testemunhou o elogio aberto à pobreza
e ao sofrimento, em cumprimento à primeira. Enxergou
também, quanto à segunda, um naturalismo, não como escola
ou movimento, mas no sentido amplo, como “ideologia
estética” em busca de uma identidade
[36] – uma ideologia, portanto, que ecoava algo da vontade
mimética de identidade observada na Alemanha. Quanto
à terceira, percebeu na virada do 19 para o 20 uma curiosa
escrita naturalista à Zola, em meio a um zeitgeist
marcado pelo positivismo inscrito na bandeira.
As três
circunstâncias, além disso, inseriam-se aqui numa longa
tradição de dúvida, auto-comiseração e resignação –
no longevo discurso de que aqui nada daria certo. [37] Numa terra de “estrangeiro[s] em sua própria terra” [38] , soldados lutavam por um governo de representantes sem
representados, por um ideal absolutamente alheio.
[39] As tentativas, cada vez mais árduas, de construção de
uma identidade que levasse em conta o caráter histórico
do respectivo “povo” esbarravam em geral no desconhecimento
ou no preconceito da elite escritora. Assim, o naturalismo
brasileiro (em sentido estrito, como escola ressurgida
a partir de Zola), principalmente com Azevedo, demonstrou
o quanto a energia mimética por aqui viria especialmente
da busca pelo nacional, por uma especificidade que necessariamente
incluiria tanto a pobreza quanto a geografia. Nosso
personagem logo percebeu, por exemplo, no Cortiço,
não apenas o naturalismo do L’Assommoir, com
o que tem de vontade mimética e bestialização, mas também
uma faísca daquela analogia com a busca identitária
alemã. “De cortiço a cortiço”, nosso já experiente personagem
enxerga a especificidade na imitação – a contribuição
do Cortiço daqui com a construção de um tipo
nacional, sempre estrangeiro e pobre.
Se nessa
construção, em analogia com a Alemanha, a raça é elemento
central, ele viu que “Em nenhum outro romance do Brasil
tinha aparecido semelhante coexistência de todos os
nossos tipos raciais, justificada na medida em que assim
eram os cortiços e assim era o nosso povo (...). Deste
modo o cortiço ganha significado diferente do que tinha
em Zola, pois em vez de representar apenas o modo de
vida do operário, passa a representar, através dele,
aspectos que definem o país todo”. [40] O mestiço aparece ali já de maneira ambivalente, ao
mesmo tempo motivo de pessimismo racista quanto ao futuro
do país e dono de uma sensualidade que pode ser revertida
em algo de positivo, de heróico. É um tipo
“capitoso,
sensual, irrequieto, fermento de dissolução que justifica
todas as transgressões e constitui em face do europeu
um perigo e uma tentação”.
[41]
Se há o
específico da raça, há também o da terra, da geografia,
da natureza, através das “imposições misológicas” alegadas
pelo narrador, aliás, perfeitamente integradas ao reconhecimento
da hierarquia das raças – enfim, há o determinismo de
sangue e solo, do animal humano na terra: “o sangue
da mestiça reclamou os seus direitos de apuração, e
Rita preferiu no europeu o macho de raça superior. (...)
a mulata era o prazer, era a volúpia, era o fruto dourado
e acre destes sertões americanos, onde a alma de Jerônimo
aprendeu lascívias de macaco”. [42] Nessa relação estreita da animalidade da raça com a
geografia local, o sol aparece como elemento central
da analogia com o mito ariano. É ele, por exemplo, que,
em sonho, traz à realidade finalmente, magicamente,
a menstruação de Pombinha. Após adormecer, ela “viu-se
nua, toda nua, exposta ao céu, sob a tépida luz de um
sol embriagador, que lhe batia de chapa sobre os seios.
(...) Mas, pouco a pouco, seus olhos, posto que bem
abertos, nada mais enxergavam do que uma grande claridade
palpitante, onde o sol, feito de uma só mancha reluzente,
oscilava como um pêndulo fantástico”. [43] É o sol brasileiro obnubilante, que tudo transforma
no animal humano que pisa esta terra. “Assim à refulgente
luz dos trópicos amortece a fresca e doce claridade
dos céus da Europa, como se o próprio sol americano,
vermelho e esbraseado, viesse, na sua luxúria de sultão,
beber a lágrima medrosa da decaída rainha dos mares
velhos”.
[44]
Enfim, o sol e a animalidade próprios a
esta terra definem o caráter nacional no corpo do pobre
encortiçado. Também Euclides demonstraria a adequação
das três circunstâncias observadas pelo peregrino como
propícias à construção por aqui de um tipo nacional.
E o faz resumindo boa parte dessa urgência identitária
na associação entre “A terra”, “O homem” e “A luta”.
Seu olhar científico-jornalístico aponta também para
o sol, para sua relação com o homem em sua animalidade
nua (pele, sangue, músculos), para a melancólica e violenta
construção de uma nação. Mais do que isso, Os sertões
dão testemunho do sebastianismo que atiçou o então recente
estado republicano brasileiro, incomodando parte da
classe média e da oficialidade por seu caráter de denúncia.
Inserindo a luta na tradição do Dies irae, Euclides
atribui às imagens de cinza e centelha (favilla)
um sentido específico, dada a vizinhança sonora de outra
palavra definidora do nacional: a favela (Jatropha
phyllacantha), segundo Euclides, descoberta pela
ciência na própria guerra em questão, tendo impressionado
os combatentes pela resistência, principalmente à seca.
Essas plantas “têm, nas folhas de células alongadas
em vilosidades, notáveis aprestos de condensação, absorção
e defesa. Por um lado, a sua epiderme ao resfriar-se,
à noite, muito abaixo da temperatura do ar, provoca,
a despeito da secura deste, breves precipitações de
orvalho; por outro, a mão, que a toca, toca uma chapa
incandescente de ardência inaturável”. O morro de cima
do qual os soldados federais atiravam nos revoltosos
de Conselheiro, lá embaixo, era coberto por essa planta,
levando portanto seu nome. Depois, de volta ao Rio,
muitos desses soldados, com esposas baianas, mutilados
ou não, foram abandonados pelo governo, sem qualquer
coisa parecida com emprego ou auxílio-moradia. Subiram
então o morro que ironicamente se chamava “da Providência”
e passaram a chamá-lo, não menos ironicamente, de Morro
da Favela. A simbologia da resistência, do juízo final,
das cinzas e das centelhas (da favilla) se mantém
até hoje nas favelas, principalmente as do cinema brasileiro
– e não menos ironicamente.
Apenas com Azevedo
e Euclides, porém, não era mesmo de se esperar que justamente
o “povo” da favela – homines sacri que se sucedem
por gerações [45] – viesse a ter
alguma correspondência com o tipo orgulhosamente brasileiro.
A elite pré-modernista, em geral, nem sequer cogitou
essa abertura, que só apareceu depois da aceitação do
samba, no Rio, e da impetuosidade das vanguardas carioca
e paulista. [46] A absorção do
(e a imagem do ser absorvido pelo) samba parece ter
construído a intimidade sócio-uterina da terra brasileira
com o sol transformador na composição de um tipo, em
parte, de um tipo-favela: homo-sacer,
portanto quase cinza, mas também faísca, resistente
à violência sempre presente, ainda que preferindo viver
em paz e ser feliz ali mesmo na favela em que nasceu.
Essa vontade de paz estaria obviamente na reiterada
domesticação de representantes “do morro”, aproximando-os
daquele Cristo descrito por Nietzsche (acima), que reúne
extrema aptidão para o sofrimento e a angústia de perseguir
o prazer de não (ter que) resistir. Lembremos que tal
domesticação é também histórica, aparecendo, por exemplo,
já em Paulo da Portela: “quando o samba foi organizado
(...) os morros eliminaram a desordem (...), trabalhamos
de sol a sol. (...) A polícia sabe que os verdadeiros
malandros estão lá embaixo”. [47]
Astuto,
nosso peregrino soube aproveitar a visibilidade conquistada
pela imagem do pobre brasileiro, mas quis livrá-la dos
efeitos da visão extra-moral tentada pela destruição
modernista, devolvendo-a à velha mímese. Sua proposta
ainda encontrou resistência num Graciliano, mas ressoou
plena, por exemplo, em Jorge Amado, que alegava
defender uma aliança brechtiana entre o intelectual
e o popular. “Como bom realista, ele julgava que toda
expressão é dominada por um meio através do qual se
atinge um determinado objetivo. (...) Esse meio (...)
desaparece, enquanto tal, para que o objetivo seja alcançado”.
[48]
Mais adiante
nosso viajante presenciaria outro ressurgimento, paralela
e simetricamente aos efeitos do Cinema Novo, no romance-reportagem
dos anos 70. Encorajador da ideologia estética do naturalismo
no sentido amplo,
[49] ele agora se sente em casa. Mantém a parte
de cima da túnica franciscana, com grosso capuz, mas
adota a longa bermuda de poliéster, globalizada. Deixa-se
fascinar com a adequação ao rap da cadência trocaica
do Dies irae e passa a colaborar com mais um
ressurgimento mimético, agora no cinema brasileiro contemporâneo,
pelo menos naquele que retrata, no sentido de
denunciar, a miséria brasileira. Ele aposta na favela
como um termo geral para os espaços em que ressurge
o tipo-favela descrito acima (homo-sacer
com um traço específico da ambivalência do herói cristão,
juntando a cinza-faísca do juízo final com a domesticação).
Esse amplo espaço
cênico do naturalismo como ideologia estética incluiria,
como objetos de mímese, além da favela no sentido estrito,
o cortiço antigo de Madame Satã, por exemplo, [50] e o contemporâneo de Amarelo
manga. Numa outra linha de correspondências favélicas,
a do agreste, o sertão de Euclides encontraria o agreste
de Graciliano, o agreste do Cinema Novo (Deus e o
diabo, Os fuzis, Vidas secas etc)
e o agreste contemporâneo (Central do Brasil,
Cinema, aspirinas e urubus, O céu de Suely).
Numa terceira linha, a do cárcere, o cárcere de Graciliano
encontraria, obviamente, e mais uma vez, o de Nélson
Pereira dos Santos, estendendo-se ao de Carandiru
e ao do Prisioneiro da grade de ferro. São possíveis
também, obviamente, correspondências entre as linhas.
O agreste de Central do Brasil, por exemplo,
é praticamente turístico, enquanto o de O céu de
Suely convida um olhar angustiantemente esgarçado, [51] e o de Cinema, aspirinas e urubus
instiga às vezes o limite do olhar antropomórfico rumo
a uma natureza lagartificada. A periferia paulistana
retratada em Contra todos ou O invasor
também contrastam, e não só pela geografia, com a de
Recife em Amarelo manga, onde a bizarrice [52] reiterada se
torna um convite à despesa bataillana.
As diferenças,
portanto, são importantes – e gritantes. O que importa
aqui, porém, para fazermos ver a presença oculta de
nosso personagem aqui entre nós, são as semelhanças.
A primeira delas, e mais importante, está no regime
– o representativo. O cinema-miséria em questão é viabilizado,
produzido, vendido e comprado, de modo geral, ainda
como lugar da reiteração do paradoxal e insustentável
heroísmo (próprio à idiótica moderna) da denúncia, que
tem por base a vontade mimética de identificação. As
alterações nos tratamentos, ainda que às vezes ousadas,
não têm sido suficientes para desafiar decisivamente
o regime. O sol que altera magicamente o corpo de Pombinha,
em Azevedo, produz uma determinação corpórea muito parecida
na relação entre Hermila/Suely e a pequena cidade do
nordeste seco. É ele, o poderoso sol brasileiro, que,
nos dois casos e em muitos outros de nossa tradição
quente, dá forma à subjetividade que se resolve pela
abertura corajosa ao sexo. Depois da experiência mítica
com ele, Pombinha, que não menstruava, torna-se prostituta,
enquanto Hermila, igualmente brasileira, igualmente
atormentada pela pobreza e pela solidão, torna-se Suely.
Da mesma forma, na referida bizarria de Amarelo manga,
a animalidade, é, no espaço diegético, motivada, e até
possibilitada, pela miséria, que desde Zola altera,
nos cortiços, nas favelas em geral, os estados de lucidez,
as determinações morais, a humanidade. [53]
Na doutrina das
semelhanças que rege o cinema-miséria, a vontade mimética
de identificação intensifica o apego ao representativo
nos mais variados meios – telenovelas, roupa, música
etc. [54] Dentro, também, da tradição brasileira
da autocomiseração e de resignação, a noção de uma comunidade
brasileira assim obrada, denunciada, aparece para reiterar
a frustração e mostrar que “estamos mesmo no fundo do
poço”. O mito do brasileiro por vir, que em parte é
o tipo-favela, desenhado pelo Dies irae,
pela natureza exuberante, pelo sol e pela animalidade
à flor da pele, encontra nessa frustração sua confirmação.
Tal confirmação, por sua vez, reverbera na indústria
cultural em recordes de público, para o delírio do peregrino,
que obviamente busca ser ouvido pelas multidões.
As trombetas de
Sofonias e Celano ressurgem em mais uma visão do apocalipse:
um grupo de temíveis cavaleiros, eleitos em seleção
rigorosa, Tropa de elite, é designado a resolver.
Cumpre a missão com sobras, sempre reiterando, a cada
subida parabólica à favela, sua capacidade de dar soluções
finais. A vontade mimética cintila na própria estrutura
convencional desse filme de tratamento audiovisual padronizado
e imperial, altamente tecnologizado. A narrativa é pontuada
por tiros. Muitos deles furam o limite diegético e sublinham
cortes: shots inauguram shots. O começo
por in media res é acentuado por um tiro especial,
o de Neto (Caio Junqueira), ao pretender salvar a pele
de Fábio (Milhem Cortaz). A ação é congelada nesse tiro
de som hiperbólico, a grande faísca permanece na tela,
e começa a explicação – embora o in media res
continue. Bem comportado dentro da sintaxe griffithiana,
adequando som e imagem, o todo e as partes, o filme
exemplifica ainda a incorporação e a domesticação, pelo
cinema hegemônico, de procedimentos outrora desafiadores.
A câmera na mão é alusão convencional e anódina ao documentário
tradicional; plongée e contre-plongée
extremados realçam convencionalmente a verticalidade
da favela; os diálogos em plano único com a câmera em
zig-zag são uma recusa convencional do plano/contra-plano
em direção, talvez, à crença ingênua numa suposta duração;
a preparação convencional de atores transforma não-atores
em supostos atores de si mesmos. [55]
Pouco depois do tiro crucial, congelado,
de Neto, Nascimento (Wagner Moura) entra em cena e ganha
um close que é também congelado. O in media res
então termina num acordo com Nascimento, que diz o equivalente
a “este sou eu, vou explicar tudo direitinho, revelar
tudo, desde o início”. Promessa que ele cumpre. Seu
didatismo define o caráter parabólico do filme: ele
vai revelar a verdade sobre a elite, sobre a tropa,
sobre o tráfico, sobre o problema social daquele universo
(ele quer resolver). A apresentação dos personagens,
bem como toda a narração, ganha coerentemente a clareza
da voz do oficial dirigida aos soldados. Nascimento
explica com cuidado, para que qualquer pessoa
entenda. Sua fala evita elipses, sofisticações, desafios
(o stanislavskiano Wagner Moura reverencia o senso comum).
Oposta a Henry James, sua onisciência atinge um segundo
nível: seu saber é capaz de mostrar diálogos
que ele não presenciou e também de mostrar o
conteúdo desses diálogos – como quando Fábio explica
aos superiores a transferência de cadáveres na favela.
Constrói pseudo-ironias, apostando talvez na mediocridade
de um espectador que se sentirá feliz por entendê-las
– como a ilustração da corrupção através do dinheiro
na gaveta que o sargento abre diante da câmera para
negociar com o Soldado Paulo (Paulo Hamilton).
Os personagens centrais são compostos completamente
dentro da tradição idiótica valorizada por nosso peregrino.
Nascimento, a começar pelo nome, é figura uterina, histérica:
ele é formador, rigoroso construtor de homens. Entra
hábil e silenciosamente no espaço restrito, exíguo,
e provoca lá dentro transformações vitais. Figura também
grávida, placentária, metonímica, sempre no lugar que
não é mais o seu; reconstrói-se ao longo do filme e
ao longo da gravidez de sua mulher, que acompanha pelo
celular: ouve, no local de trabalho, o coração do feto
– absorvendo(-se) portanto, pelo ouvido, (n)essa intimidade
cardíaca, cordial com seu próprio porvir. O filho nasce
no momento mesmo do encontro com Neto e Matias (André
Ramiro). Antes da gravidez seria diferente, mas agora
ele se sensibiliza com a mãe do fogueteiro que ele torturou,
cujo corpo seus assassinos retiveram: não quer mais
aceitar seu papel de Creonte, placentariza-se em Antígona,
retomando o deslocamento do homem cordial em sua própria
terra.
Ainda no plano
do ouvido, a vontade mimética de identificação se resolve
nessa intimidade sócio-uterina com que o didatismo de
sua voz acolhe pedagogicamente os necessitados de revelações,
de facilitações, de afirmações sobre si mesmos. Mais
do que um convite ao acompanhamento, identificação racional
ou representativa, sua voz é comunhão. E, acima de tudo,
esse construtor de homens é, ao subir o morro, o poder
instituinte, o emblema da exceção. É ele que faz viver
e deixa morrer ou vice-versa. É o poder soberano paradoxal
que se absolutiza, que constrói homines sacri.
Na tortura, sua voz firme reitera perguntas com eficiência.
E ele se justifica para nós como quem pisca o olho:
conquista-nos a identificação como vítima atormentada
da moral do trabalho, como pai de família estressado.
Torna-se aceitável: a necessidade de seu “papel social”
é menos discutível do que a aptidão de quem o assume. [56]
É ainda Nascimento que nos apresenta, sempre
didaticamente, os outros personagens centrais. Também
no momento do encontro, logo após o tiro crucial, Neto
e Matias carregando corpos, ele explica: “O Neto decidiu
entrar pro Bope porque ele gostava de guerra (...).
O Matias veio junto porque ele era um policial que acreditava
na lei”. Num plano que logo depois enquadra obliquamente
os rostos dos dois, a voz acrescenta: “O Neto sabia
o que tava fazendo, o Matias não”. Os dois ficam, assim,
contrapostos ao caráter de Fábio, corrupto emblemático.
Neto, Matias e Fábio: o guerreiro, o crente e o pecador.
O guerreiro é obviamente aquele que mais perfeitamente
encarna o espírito do Dies irae no filme. Investido
de grande vontade de honestidade, é corajoso e pragmático,
a ponto de burlar o sistema corruptor, sempre disposto,
tanto quanto Nascimento, a resolver – inclusive
aquilo que deu errado em tentativas anteriores. É assim,
aliás, que ele produz a faísca que se congela no início.
O retorno do olhar a esse momento ganha sabor de explicação,
cumprindo a promessa do in media res e levando
o encontro de ambos com Nascimento, na voz deste, a
insinuar-se como obra do destino.
Neto é ponte de identificação entre Nascimento
e Matias. É a própria incorporação, literal, do espírito
do Bope – resolver, revelar –, tatuando no antebraço
o símbolo da instituição – a caveira atravessada por
uma faca e duas pistolas. Seu corpo se torna casa do
Bope, ele é todo ímpeto pueril – assim como o próprio
símbolo, que se caracteriza pela referencialidade fácil,
escandalosamente traduzível, infantil até nos traços
da caveira, obedientes às convenções primárias de quadrinhos,
os buracos dos olhos em “v” sobre o sorriso límpido,
indicando perversão. Se o corpo de Neto, impetuoso,
equivocado, é morto por um equívoco, a bandeira nacional
sobre o caixão é coberta ritualisticamente pela do Bope,
dominada pelo mesmo símbolo, em gesto oficial de Nascimento/Creonte.
A partir do corpo, o nacional como sempre atravessa
e é atravessado pela guerra, pela morte como limiar
do desafio à coragem – no caso específico desse mórbido
panejamento, pelo Dies irae favélico.
O papel
de substituto, porém, cabe a Matias, que se identifica
perfeitamente a Nascimento como placenta – como substituto,
como diferente de si mesmo. “Matias” é há muito o substituto
por excelência. Lembremo-nos da cena. Judas, o traidor,
segundo Pedro, “caiu de ponta cabeça, arrebentou-se
e suas entranhas se esparramaram”. O Livro dos Salmos
previa um apóstolo substituto. Do grande grupo com que
os apóstolos se encontraram surgiram dois candidatos,
José e Matias. Fez-se a oração: “Senhor, tu conheces
o coração de todos. Mostra-nos qual destes dois tu escolheste”.
Um sorteio define Matias como substituto.
[57] Sintaxe griffithiana, semântica evangélica.
O tiro congelado,
ainda, quando Nascimento conhece os dois candidatos,
é crucial também para Matias. Ali ele é surpreendido
fardado, carregando um corpo, por um fotógrafo de jornal.
Até então ele conseguia esconder, na universidade, na
Ong e na favela, sua identidade de policial. Por algumas
vezes – como é próprio a filmes de aventura – ele quase
se traiu. Esteve mais próximo disso quando atacou frontalmente
a desinformação burguesa da turma da universidade. [58] Seu maior trunfo, porém, na proteção
do disfarce – e nem ele o percebeu como tal – era sua
posição moral, que o levou a uma leitura superficial
de Vigiar e punir, perfeitamente condizente com
a dos colegas e a do professor. Uma leitura que negligencia
o olhar de Foucault sobre a instalação das tecnologias
da disciplina como início de uma teoria heterodoxa do
sujeito, ou pelo menos como recusa radical à determinação
de uma subjetividade universal. Assim, Matias de um
lado, colegas de outro, mesmo discordando quanto à adequação
do gesto policial, concordavam moralmente com a necessidade
da disciplina na determinação de suas identidades. Antecipavam,
portanto, boa parte do debate superficial que se seguiria
ao filme – e que sustenta seu sucesso.
No jogo de desvios de expectativas, também
próprio ao gênero, Neto era apontado como o substituto
de Nascimento, que chega a se empolgar com o garoto.
No ritual diante do caixão de Neto, porém, Matias, autor
do equívoco que o levou à morte, absorve o ímpeto do
amigo, ensaiando finalmente o nascimento de uma síntese
dialética, sonhada por Nascimento, entre o crente e
o guerreiro, contra todo o pecado – síntese que triunfará,
ou se resolverá, na última seqüência. A transferência
da ira de um corpo a outro é mimética, promovida pelo
contato ritual. O corpo de Matias mimetiza camaleonicamente
o de Neto, no qual a caveira já estava inscrita. Quem
opera a transferência é Nascimento, o soberano biopolítico,
formador de homens, que conhece os corações e que assim
constrói seu substituto, inserindo-o na linhagem de
dependência que começa em Deus, passa por Pedro e se
completa na favela em momento especial: “o papa precisava
do Bope, o Bope precisava de mim, e eu precisava de
um substituto”. Logo os gestos de Matias se aderem ao
sentido da fala da voz over de Nascimento. Na
passeata, Matias catarticamente agride os burgueses,
como que teleguiado pela lúcida denúncia de hipocrisia
que o soberano dirige à classe média.
Assim como Neto, Matias se mostra ingênuo
em seu idealismo – e Fábio sarcasticamente os considera
anjos. Foi a ingenuidade de obrigar Edu (Paulo
Vilela) a marcar seu encontro com Romerito para a entrega
dos óculos que custou a vida de Neto. Ingenuidade e
idealismo, porém, já vimos, não bastam para constituir
anjos na modernidade, e Matias, ao contrário do santo,
não tem por mensagem a voz do emissor absoluto, mas
a de Nascimento, emissor moderno, microfísico, placentário.
Torna-se, portanto, um idiota dostoievskiano:
O idiota se placentariza
a si mesmo, na medida em que oferece a todo crente seu
caminho, como um primo intra-uterino, uma experiência
inexplicável da proximidade, um tipo de ligação imemorial
que cria entre duas pessoas que se vêem pela primeira
vez uma abertura tal que só se pode encontrar no Juízo
final ou na troca não-verbal entre o feto e a placenta.
Na presença do idiota, a benevolência inofensiva se
torna uma intensidade em mutação; sua missão parece
ser de não ter mensagem, mas de criar uma proximidade
na qual os sujeitos enrijecidos podem se liquefazer
e se reconstituir.
[59]
De fato, na presença desse Matias (desse
substituto, dessa placenta), as subjetividades se enrijecem
e liquefazem, sem que ele próprio tenha controle. Substituindo
Nascimento, ele passa a centralizar a identificação
mimética do senso comum – rapaz pobre, trabalhador honesto,
solidário, corajoso e sedento de justiça, que passou
por uma carga de sofrimentos suficiente para enrijecer
a si próprio e entrar decididamente na luta. Num filme
em que, como vimos, shots inauguram shots,
o que por si insinuaria a noção de uma auto-formação
explosiva, num espaço-tempo em que os homens são formados,
construídos pelo poder soberano identificável, num filme,
ainda, em que o ângulo do shot da câmera freqüentemente
se confunde com o da mira dos fuzis, aparece o novo
homem, o substituto, aquele que vai revelar revelações
impossíveis, aquele que vai continuar resolvendo.
Na especificidade
sócio-geográfica da favela, na resolução, o rosto
brasileiro de Matias é complementado, atravessado mesmo,
pelo sol. Em Deleuze [60] , mais do que meio de identificação, o rosto, a rostificação,
é por excelência o espaço de afecção, de indeterminabilidade
entre ação e reação, espaço de potência. Entre dois
rostos que se olham, explorando nas respectivas expressividades
dos traços um jogo infinito de possibilidades, a cronologia
se dilui, insinua-se a duração, a impossibilidade mesma
de qualquer ciência, uma suspensão da identidade. Na
última cena, Baiano (Fábio Lago), chefe do tráfico,
está no chão, ferido, derrotado, humilhado. Como último
pedido, quer apenas a preservação de seu rosto em função
do velório. Nascimento, como prova de fogo, entrega
a arma a Matias e lhe ordena o serviço – teste de capacidade
de soberania, de poder instituinte sobre qualquer regra
(humanidade, identidade, último pedido etc). Baiano
e Matias se encaram a arma entre eles. Matias com o
dedo no gatilho, o pé no peito de Baiano, o cano da
arma próximo ao rosto que Baiano quer preservar. Nos
últimos três planos, ligados por fusão, a câmera, subjetiva
de Baiano, mantém o ângulo acentuado. A primeira fusão
é motivada pelo engatilhar da arma. A cada fusão o rosto
de Matias se aproxima de nós (e do olhar de Baiano).
Em movimentos sutis, esse rosto ora tapa o sol, ora
dá passagem a sua luz que quase nos cega (e a Baiano).
O rosto negro que nos mira, nessa duração,
vai então se confundir com o próprio sol formador, aquele
que, como vimos, possibilita as formas, os tipos
– não só na Alemanha. Esse rosto específico é negro,
suficientemente sofrido, investido do poder de pôr fim
à situação naquele momento, naquele dia (dies illa).
Na solução, a tela fica totalmente branca, ouvimos o
tiro, novamente hiperbólico, e ficamos assim, ofuscados.
O rosto branco de Baiano, que está no lugar do nosso,
não mais existe. O de Matias, negro, não mais aparece,
dilui-se no sol. Fusão. Vemos apenas o fim, a luz, a
revelação, ou seja, nada vemos. Mais uma transubstanciação
aconteceu. O sol imprimiu em nós o rosto de Matias,
acompanhado de seu olhar na mira, ofuscado de ira. O
tipo sugerido pela forja solar para identificação é
uma variação irada do tipo-favela: um Matias (substituto)
negro, oposto ao burguês, domesticado, entregue ao poder
soberano, mas agora investido, por substituição, por
mímese, por comunhão placentária, do poder instituinte
que o dominava. Um tipo favélico, em resumo, em que
a domesticação evoluiu para ímpeto moralizador pragmático.
Com esse mesmo ímpeto, Tropa de elite,
entre outros filmes e romances da longeva ideologia
estética naturalista brasileira, naturaliza e aceita
ingenuamente o espaço favélico como resto, como espaço
de constante constituição de homines-sacri, portanto
como espaço contido de exceção que pode e deve ser corrigido
democraticamente. O mundo (saeclum) que se dissolve
em cinza e faísca (favilla) é o mundo já favelizado;
mais uma vez, sua revelação nada revela. O filme perde
de vista o campo de concentração como modelo da democracia
inclusiva que ele próprio defende e denuncia como crueldade
alheia a própria violência (a exceção como regra) que
mimetiza (tanto quanto Matias) dentro de sua nostalgia
humanista.
Nosso peregrino sai do cinema vibrando
com o sucesso do filme, dançando extasiado, louco pela
próxima revelação. Mas, no reflexo de uma vitrine qualquer,
vê agora um homem saudável, em farda negra camaleônica,
com um belo rosto negro, de feições suaves mas impetuosas,
e olhos capazes de mirar e apagar qualquer rosto inimitável.
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