Revista Cinética Cultura e Pensamento
Imagens ou espelhos?
O ciberativista do Greenpeace
Samira Feldman Marzochi Ensaios Críticos


Na última década, sobretudo após os movimentos antiglobalização, destacou-se a figura do cyberativista que ainda não foi, porém, suficientemente caracterizada. De um lado, há os estudos da área de comunicação que inevitavelmente atribuem demasiado valor ao meio técnico, ou a avalanche de metáforas sedutoras, mas pouco explicativas, comemorada pelos suplementos jornalísticos de cultura dominical. Do outro, há os trabalhos sociológicos que não se aventuram a desvendar o novo sob o risco de perder, em meio às forças do dinheiro, a pouca legitimidade que lhes resta: a acadêmica. O cyberativismo, longe de ser uma palavra a mais, permite a compreensão da cultura política contemporânea sob a perspectiva da transnacionalidade e da produção de imagens, possibilitando a definição de um novo tipo de cidadania (cibernética) que explora a dimensão dos direitos políticos à participação, manifestação e expressão da opinião sem o reconhecimento, no entanto, de um Estado Nacional. Sob o ponto de vista teórico da sociologia da cultura, o cyberativismo nos incita a dar continuidade à discussão sobre o indivíduo moderno. Todavia, as teorias da modernidade não nos respondem satisfatoriamente ao tomarmos como objeto heurístico uma organização como o Greenpeace. Pesquisas empíricas indicam um acentuado desencaixe entre o conceito de indivíduo moderno e os sócios do Greenpeace que participam de fóruns virtuais. O artigo que apresento visa, deste modo, explorar novas possibilidades de solução teórica a partir desta inquietação. Afinal, como compreender o indivíduo que tenta resistir aos paradigmas da ciência política e da sociologia contemporânea, aos problemas ambientais e às restrições culturais à participação em seu próprio destino? Como, na teoria, fazer justiça a este esforço individual levando-o mais em conta que a aparente ausência de resultados?

O Greenpeace e a Mídia

O Greenpeace surgiu quando treze ativistas partiram de barco do Porto de Vancouver, Canadá, rumo às Ilhas Aleutas, Costa do Alasca, com o objetivo de chamar a atenção da opinião pública para os testes nucleares realizados pelos Estados Unidos. Em 15 de setembro de 1971, o barco zarpou diante de jornalistas e câmeras de televisão [1] . A tripulação embarcou em clima de festa, com orquestra de rock, presença de vários canais de televisão e jornalistas vindos de todo o Canadá [2] . O grupo, que incluía canadenses e americanos, alugou um pequeno barco, o Phyllis Cormack, e navegou em direção à área de testes, próxima a Amchitka, a 3.800 quilômetros de Vancouver. A ação, de repercussão internacional, teria levado o departamento de defesa dos Estados Unidos a fechar, em fevereiro de 72, a área de ensaios atômicos no Alasca.

Na tripulação, havia dois jornalistas, um locutor de rádio e um fotógrafo com a missão de documentar os acontecimentos. Entre eles estava Robert Hunter, colunista do jornal canadense Vancouver Sun, Ben Metcalfe, comentarista do Canadian Broadcasting Corporation (CBC), Bob Cummings, repórter da imprensa alternativa, The Georgia Straight, e um fotógrafo independente, Robert Keziere, estudante de química. [3] Em 30 de setembro, a tripulação foi presa pela Guarda Costeira Americana na Ilha Akutan e expulsa da região. Ao voltar para Vancouver, os pioneiros estavam nas manchetes de jornais do Canadá e Estados Unidos. Foram acolhidos com bandeirolas “obrigado, Greenpeace” e festejados como heróis por três dias. Os testes americanos posteriores passaram a realizar-se no Deserto de Nevada, e Amchitka se tornou um santuário ecológico. [4]

Após esta primeira ação em Amchitka, a campanha do Greenpeace contra os ensaios nucleares se desloca para Mururoa, a 5.000 quiilômetros da Nova Zelândia, cuja população de marinheiros e pescadores se opunha aos testes atômicos na região. A segunda campanha é então realizada em 1972, quando o núcleo Greenpeace de Vancouver publica um pequeno anúncio num jornal neozelandês solicitando um barco e voluntários para protestar contra os ensaios nucleares franceses. 

O ex-empresário David McTaggart, canadense que havia morado em Vancouver, estava na Nova Zelândia e tinha um veleiro, leu o anúncio e se ofereceu ao Greenpeace. Em 30 de abril de 1972, McTaggart e uma tripulação de duas pessoas deixa a Nova Zelândia rumo à Mururoa, no Pacífico Sul. [5] Em 7 de julho, o veleiro é abalroado na zona de teste. McTaggart entra na justiça contra o governo francês em busca de indenização e escreve um livro contando a experiência de viagem. [6]

Em junho de 1973, o barco é reparado e zarpa novamente. Em 15 de agosto, a Marinha Francesa invade o barco e espanca violentamente os dois tripulantes, inclusive McTaggart. A truculência do governo francês é fotografada e divulgada internacionalmente. [7] As fotos são publicadas em jornais de mais de vinte países e causam forte comoção junto à opinião pública. Em setembro de 1974, a França anuncia que todos os testes serão subterrâneos.

A partir de 1975, o Greenpeace abandona temporariamente a luta contra os ensaios nucleares e se volta à proteção das baleias. Em 1973, Paul Spong, um jovem neozelandês pós-graduado em neurociências na UCLA (University of California, Los Angeles), torna-se célebre em Vancouver. Assim que começa seu trabalho no Aquário da cidade, onde estudava o comportamento das orcas, afirma que a baleia em observação lhe dizia, através de sinais, que desejava ser devolvida ao oceano, pois apenas lá conseguia sentir-se verdadeiramente livre. Esta declaração, quando divulgada pela imprensa, colocou fim ao seu contrato com o Aquário, mas lhe deu certa notoriedade entre os militantes pela libertação animal. [8]

Graças aos amigos do meio ambientalista, Paul Spong consegue introduzir-se no Greenpeace e convencer os responsáveis pela organização a dedicar suas campanhas contra a caça às baleias. Em 27 de abril de 1975, os militantes do Greenpeace saem com seus dois barcos, o Phyllis Cormack e o Vega, em direção ao local de caça. A partida é comemorada com uma festa que reúne 23.000 pessoas e, na chegada a São Francisco, são acolhidos como heróis pela imprensa americana.

Em 1976, um barco do Greenpeace encontra uma frota baleeira soviética e a afronta durante dez dias. De volta, o grupo constata que sua audiência aumenta regularmente e que esta campanha faz imenso sucesso junto ao público. Desde então, o Greenpeace se lança ao mar todos os anos no período de caça às baleias, em fins de dezembro. Os pescadores soviéticos, japoneses, noruegueses e islandeses têm sido alvo constante do Greenpeace. O primeiro filme da campanha pela proteção às baleias foi difundido em todos os canais de televisão, não somente nos Estados Unidos e no Canadá, como também na Europa e no Japão. A baleia acabou se tornando um dos emblemas da ONG.

Desde 71, muitos ativistas foram agredidos e presos. O caso mais grave foi o do fotógrafo português Fernando Pereira, assassinado em 10 julho de 1985, quando o Rainbow Warrior, barco-símbolo do Greepeace, sofreu um atentado à bomba no Porto de Auckland, Nova Zelândia, perpetrado por elementos da Direção Geral de Segurança Exterior, o serviço de inteligência francês. O Rainbow Warrior sairia de Auckland até Mururoa em protesto contra os testes nucleares franceses. A repercussão pública do evento comprometeu as relações franco-neozelandezas e levou à renúncia do Ministro de Defesa francês, Charles Hernu. [9]

Após o atentado contra o Rainbow Warrior, houve um apoio sem precedentes ao Greenpeace que se reverteu num significativo aumento das filiações e do montante das doações vindas de vários países. O navio participara, pouco antes, da missão de retirada dos habitantes do Atol de Rongelap, Pacífico Sul, contaminado por radioatividade proveniente dos testes nucleares americanos. Estes anos prósperos culminaram no lançamento do novo barco, o Rainbow Warrior II, e na mudança de sede do Greenpeace Internacional, de Sussex, para Amsterdã. [10]

O mundo do Greenpeace

Uma campanha precisa conter elementos simbólicos sugestivos, além de ser apenas importante. O mar é um exemplo. A luta contra testes nucleares, despejo de material radioativo no oceano e contra a caça de baleias, focas e golfinhos, estão relacionadas ao mar. Este é um dos elementos mais importantes da cosmologia do Greenpeace, pois articula todos os outros: flora e fauna, barcos, atividades humanas, poluição, continentes, paisagens, internacionalidade, além de ser uma reserva de imaginação.

Diretamente associados ao mar estão os barcos que o Greenpeace exalta como extensões virtuais da própria organização. A ONG se apresentava como um navio aos afiliados, publicando periodicamente o seu Diário de Bordo, um relatório trimestral de atividades. Nos folders e sites, o Greenpeace descreve seus barcos como heróis, com nome e história. As “fichas técnicas” [11] de cada um são acompanhadas do relato de suas vidas. Eles não são apenas instrumentos para ações diretas performáticas, como carregam uma personalidade desenvolvida a partir do mesmo espírito que constitui a organização. Contando sobre os navios, o Greenpeace fala também de suas aventuras. Os barcos ajudam a estruturar a narrativa e a compor a mitologia da ONG, com seus guerreiros, batalhas, vitórias e tragédias.

O MV Greenpeace, que integra a frota desde 1985, “foi o primeiro a navegar pelo Rio Amazonas em defesa da floresta, protestou contra testes nucleares franceses, estabeleceu a base do Greenpeace na Antártida, enfrentou baleeiros japoneses, desembarcou ativistas em local secreto de testes nucleares soviéticos, flagrou e documentou navios russos despejando lixo radioativo no Mar do Japão, foi atingido pela Marinha Americana ao protestar contra mísseis nucleares”. [12]

No mundo do Greenpeace, os barcos não são apenas abalroados, detidos, mas “presos” como pessoas ou animais, expressão que supõe uma vontade natural de libertar-se. Solo, “o mais novo da frota (1991), documentou o derramamento de petróleo nas ilhas Shetland, protestou contra a exploração de petróleo no Mar de Bhering, atrasou testes de mísseis nucleares ingleses, foi preso pela Rússia por denunciar despejo de lixo radioativo no mar e outra vez preso na Noruega por defender as baleias”.

Chegam até mesmo a aposentar-se: “Vega, integrado à frota em 1981, veleiro heróico, inaugurou a campanha contra os testes nucleares franceses no Pacífico, participou de diversas ações, principalmente anti-nucleares, foi preso duas vezes por autoridades francesas por lutar contra testes e bombas atômicas e aposentado em 1992”.

É como se os barcos tivessem individualidade, livre arbítrio e responsabilidade. Neles, a tripulação se dissolve. Moby Dicky, incorporado à frota em 1984, “bloqueou” navios nucleares em porto holandês, “protestou” contra usinas nucleares na Europa, “liderou” a campanha por mares livres do perigo nuclear e foi “preso” na Noruega por defender as baleias.

Assim como nos filmes sobre o herói missionário que desafia a lei em nome da justiça, para os barcos do Greenpeace há momentos de ação, fuga espetacular e sofrimento. Rainbow Warrior, o barco-símbolo do Greenpeace que entrou em operação em 1979, “participou” de ações contra a caça de baleias na Islândia, contra o despejo de lixo nuclear nos mares pela Inglaterra, contra o massacre de bebês-foca pelo Canadá, “retirou” os habitantes da Ilha de Rongelap, contaminada por radiação nuclear, foi “preso” pela Marinha Espanhola por proteger as baleias e “fugiu espetacularmente da Espanha” antes de “sofrer” o atentado à bomba pelo Serviço Secreto Francês que o afundou em 1985.

Curiosamente, a personalidade dos barcos é mais forte que sua estrutura física. Uma vez formada, ela pode ser transferida a outras embarcações sem qualquer prejuízo de caráter. Isto aconteceu com o Rainbow Warrior. Depois de afundado, o barco foi substituído como numa segunda encarnação. “Lutou contra as grandes redes de arrastão em alto mar, contra o transporte de plutônio pelo Japão, em defesa das florestas, contra os produtos químicos tóxicos e em defesa da paz. Bloqueou o Porto de Aracruz no Espírito Santo, protestou contra usinas nucleares de Angra dos Reis, foi destaque da Eco-92 no Brasil e preso por tentar invadir a área de testes nucleares franceses no Pacífico Sul”.

Ao mesmo tempo, um barco inimigo pode tornar-se um fiel militante pelas causas do Greenpeace ao ser simplesmente batizado com outro nome. Uma vez nomeado novamente, o barco renasce, sem nenhuma memória de sua vida passada. Assim foi com o Arctic Sunrise. Construído em 1975 para caçar focas, era um dos alvos do Greenpeace nos anos 80. Lançado em junho de 1996, começou imediatamente um tour pelas plataformas de petróleo inglesas e norueguesas no Mar do Norte [13] como se nada tivesse acontecido.

O espírito de uma embarcação, definido pelo nome, pode ser emprestado de um animal. Em 1984, o Greenpeace Alemanha comprou um barco construído em 1961, para fazer um trabalho científico nos rios, portos e águas costeiras da Europa. O navio foi batizado de Beluga, em homenagem à pequena baleia branca que viveu em rios da Europa até se tornarem tão poluídos que elas não mais puderam sobreviver.

No mundo do Greenpeace, tecnologias, humanidade e natureza se indistinguem. Tem valor o que guarda uma história, contada e recontada, reconhecida como legítima, ainda que não completamente verdadeira. A cada vez que a organização se apresenta, volta ao passado, reconstrói-se por meio dos barcos e de alguns dos seus heróis fundadores. A narrativa deve suscitar imagens, traduzidas em cada país e adaptadas a realidades distintas, porém igualmente articuladas pelo propósito de sedução.

Assim como os navios, os botes infláveis de alta velocidade, chamados Zodiac, tornaram-se emblemas do Greenpeace. Sua agilidade e pequeno tamanho geralmente protagonizam a luta ecológica sobre as águas. A cena dos botes desafiando grandes navios caçadores é recorrente. Nos vídeos produzidos pelo Greenpeace, eles se alinham à frente das embarcações, ouvem-se barulhos de motor e buzinas pedindo passagem. Os caçadores atiram fortes jatos d’água nos ativistas para que se afastem. Com a força da água e as ondas produzidas pela proximidade dos navios, o bote vira e os ativistas caem no mar gelado da Antártida. Enquanto isso, a baleia morta e sangrando é içada. As baleias aparecem sendo cortadas e a água vermelha de mar e sangue é bombeada através dos canais laterais de escoamento do navio-fábrica. Um homem, do mirante, posiciona o arpão a ser atirado em outra baleia.

A primeira ação deste tipo ocorreu em 1975, quando o Greenpeace enviou Zodiacs que se colocaram entre o baleeiro Dalny Vostok e as baleias. O Dalny  disparou o arpão por cima da cabeça dos ativistas, gerando uma das imagens mais famosas [14] . A cena se repetiu em 14 de janeiro de 2006. O bote inflável do Greenpeace foi atingido pela linha do arpão atirado pelo barco Yushin Maru Nº 2, que passou aproximadamente a um metro de distância dos ativistas. A baleia atingida morreu quase instantaneamente e, ao afundar, foi para baixo do bote, onde a corda do arpão ficou enganchada. Quando os baleeiros puxaram a baleia, a corda atingiu o piloto e o jogou para fora.

Quando o Greenpeace vai à Antártida, leva uma ilha de edição e um laboratório fotográfico. Produz suas próprias imagens de vídeo e fotografia que são depois selecionadas e distribuídas por satélite para jornais, revistas, sites e TVs do mundo inteiro. Os navios são tripulados por profissionais contratados entre os membros mais competentes da Marinha de Guerra e da Marinha Mercante, além de pescadores experientes. [15] O Greenpeace tem o controle sobre a montagem, direitos autorais e utilização das cenas que produz.

A estratégia utilizada pelos pilotos do bote é a de ficar sempre na mira do arpão. Os militantes são expostos a um duplo perigo: de serem atingidos acidentalmente pelo artilheiro ou pelo cabo tensionado no momento em que a baleia atingida se debate. Neste confronto, é a câmera que protege os militantes. Durante as primeiras ações do Greenpeace, o cameraman se encontrava sobre o bote, muito exposto, filmando e participando da ação simultaneamente. Mais tarde, mudou-se a estratégia: os ativistas colocam um zodiac entre o barco arpoador e a baleia, impedindo o tiro pela presença, enquanto um segundo bote, mais recuado, filma a cena.

O êxito está garantido se a ação for espetacular e traduzir-se em fluxo de financiamentos [16] . Não importa se as baleias que aparecem nas fotos e vídeos serão salvas. As fotografias descontextualizam os eventos e assim intensificam sua força de impacto. Os quadros são tanto mais impressionantes quanto conseguem suspender o tempo e universalizar o espaço, transportando o espectador à dimensão mítica de um presente contínuo e absoluto. O mais importante é que as cenas mostrem que o Greenpeace está tentando impedir a caça, e todos os movimentos dos botes e dos ativistas são forjados em função disto. Para que o espetáculo aconteça, é preciso provocar os baleeiros e esperar que sua reação, mais ou menos previsível, desencadeie novas cenas ensaiadas de confronto pacífico. Neste jogo, os militantes do Greenpeace são treinados para jamais usar de violência ou aparentar qualquer gesto agressivo, mesmo em situações que julgarem intimamente defensivas.

O Cyberativista do Greenpeace

Como o “telespectador de chinelos” [17] de Edgar Morin, que se projeta nos espectros da TV, ser sócio do Greenpeace é estar conectado a todos os cantos onde a organização tem escritórios ou realiza ações de campanha. Como um tipo especial de mídia, o Greenpeace “fantasmaliza o espectador, projeta seu espírito na pluralidade dos universos figurados ou imaginados, faz sua alma emigrar para os inúmeros sósias que vivem para ele. (...) Estes sósias vivem em nosso lugar, livres, soberanos, eles nos servem de consolo para a vida que nos falta, nos servem de distração para a vida que nos é dada” [18] .

Na perspectiva do afiliado, uma ONG internacional que produza imagens pode lhe servir de extensão, assim como a mídia de McLuhan [19] . O Greenpeace reorganizaria o sensorium dos indivíduos. Suas ações diretas, textos, slogans, barcos e balões substituiriam as faculdades clássicas da cidadania: autonomia da razão, palavras e atos. Os pontos de acesso [20] , entendidos como pontos de contato entre coletividades leigas e representantes de sistemas abstratos, através dos quais a confiança (no Greenpeace) pode ser mantida e reforçada, são poucos e quase todos virtuais. Os escritórios nacionais da organização são restritos à permanência dos funcionários e os 2,8 milhões de colaboradores (22 mil no Brasil) de 158 países (dos quais 41 têm escritórios nacionais)  não são consultados e em nada ajudam a definir os rumos da organização, as prioridades de campanha, o uso dos recursos, os tipos de ação ou a forma como a ONG se estrutura. O espaço de encontro entre os cyberativistas é, virtualmente, o próprio objeto da organização: a Terra.

O ciberativismo pressupõe, portanto, um tipo de cidadania que não se restringe ao pertencimento à cidade ou ao território nacional. Ele nos sugere uma nova cultura de ligação individual com o mundo. O “mundo”, porém, não é aquele do sentido puramente cosmológico ou identitário, o universo que nos situa socialmente, organiza nosso modo de pensar e as divisões do clã [21] . O universo deste ser político, o cibercidadão, é a Terra em sua existência material e finita, que corre riscos, pode ser fotografada e está submetida às leis da natureza que são independentes da vontade, da tradição, da fé e da cultura. Embora este cibercidadão possa sofrer de modo diferente e em cada lugar cultural e geográfico os problemas ambientais, está igualmente sujeito às mudanças ecológicas. Por trás do cidadão abstrato e a rigor muito pouco ativo, revela-se um planeta demasiadamente real que se impõe, cada vez mais, às existências individuais. Ao mesmo tempo em que se desenha a figura impressionista do cidadão do mundo, tornam-se mais nítidos os problemas que ameaçam a todos de maneira sistêmica. As campanhas de proteção à natureza surgem em todo o globo e ganham proeminência exatamente quando o indivíduo se imagina desterritorializado, suspenso. [22]

Este novo tipo de ligação cultural não encontra com facilidade referentes teóricos que auxiliem sua compreensão. A cidadania pressupõe, normalmente, um Estado. Mas, podemos dar a ela um sentido mais genérico: o direito de membership, de pertencimento a uma comunidade. [23] O princípio da cidadania cibernética é a igualdade de pertencimento à Terra. Estaria, portanto, muito próxima à idéia abstrata de universalidade que ignora identidades locais, nacionais, regionais, de gênero, etnia, classe ou religião, envolvendo-as indistintamente. Esta cidadania não pressupõe, como o faz Robert Sack, que “para ser um agente seja preciso estar em algum lugar”. [24]

No pensamento político ocidental inspirado na idealização da Grécia Antiga, o conceito de razão, discurso, ação e humanidade se desenvolvem juntos. [25] Interiorizamos de tal modo a idéia de cidadania segundo a fórmula “um homem, uma voz” que ela hoje nos parece evidente. [26] A cidadania atribuída aos gregos se mistura profundamente ao ideal de indivíduo do pensamento político pós-iluminista. Para os gregos, a esfera privada estava associada à apatia. “Idion era um dos termos que se opunha à público, ao qual se associava idiotes, alguém que se encontrava na ignorância das coisas coletivas”. [27] A cidadania, assim como a individualidade, apenas poderia realizar-se nos espaços de encontro e atividades conjuntas. É somente na esfera pública que ela se define, fora do ambiente familiar. Mulheres, escravos, estrangeiros, crianças e outros sem cidadania seriam, na antiguidade, seres privados de individualidade.

Entre alguns grupos indígenas, é possível também perceber a separação entre privado e público, e desta derivar um conceito de pertencimento que nos ajude a compreender melhor a idéia de cidadania. Para os Krahô, estudados por Manuela Carneiro da Cunha [28] , as crianças, os estrangeiros e os mortos “não têm juízo”, “vivem desembestados”. São pahamanõ, ou seja, privados de paham, conceito que também pode ser traduzido por “vergonha”. Denota timidez, reserva, autocontrole, observância da etiqueta, distância social, desempenho dos papéis sociais. Afeta as relações interpessoais e intergeracionais e regula um campo muito vasto de atividades. Ser pahamanõ, não possuir paham, é não ter regras sociais, não saber se comportar, não ter responsabilidade.

Os mortos não têm paham porque, para os Krahô, o Karõ, ao desprender-se do homem, torna-se uma imagem livre, não circunscrita, que não se remete a uma forma precisa, mas que pode assumir qualquer forma. No entanto, ele nunca se acha desprovido de matéria, não é imagem sem conteúdo, mas conteúdo sem imagem. “O Karõ ‘livre’ é passível de qualquer metamorfose. É dito que seu aspecto varia com o ‘estágio’ em que se encontra: os mekarõ podem morrer várias vezes e revestir sucessivamente a aparência de animais de grande porte, animais de porte menor e, enfim, converter-se em pedra, raiz, cupim ou toco de árvore”. [29]

A autora observa que “o espaço dos mortos é complementar e oposto ao espaço dos vivos (...) Os mekarõ gostam da escuridão do mato e não da chapada ou do ‘limpo’, que é a paisagem bonita por excelência para os Krahô, e corresponde à vegetação do sopé do morro. Os Krahô são até chamados pelos seus vizinhos de ‘filhos do limpo do morro’. Os mekarõ, em contraste, comprazem-se em lugares recônditos e escuros nos dias de chuva, e temem o sol quente”. [30] “Os mortos, os mekarõ ou os desprovidos de paham, ou são relegados ao exterior do espaço social da aldeia ou são confinados à esfera doméstica. (...)”. [31] Os mekarõ quando vêm à aldeia dos vivos, nunca assomam ao pátio. Ficam, quando muito, no kricapé, caminho circular que passa à frente das casas. Segundo a maioria, só entram nas casas pelos fundos, pela porta que dá para o mato e que, muitas vezes, não existe.

Os mekarõ têm aparência humana quando estão em sua aldeia, ou durante a noite, quando gostam de andar. Se o dia os surpreende, transformam-se em animal, pássaro, tatu ou outro que cava sua toca e desaparece. Os mekarõ, de “olho parado e sangue coalhado”, não são dotados de elementos que caracterizam a vida e o movimento. Falam fino como os passarinhos, comem e respiram pouco; sua existência é toda mais tênue e se movem impelidos pelo vento. Segundo o informante Davi, “o mekarõ anda no rastro que ele já andou. Se quando era pequeno vivia noutro lugar, ele volta para os lugares na mesma ordem (...). Mekarõ só tem lembranças do que já conheceu, não conhece coisas novas”. [32] Trocando o dia pela noite, eles entram em contato com pessoas que estão sós. Uma vez que os mortos são tidos como apartados da comunidade, da aldeia dos vivos, somente aparecem a quem está pelo menos temporariamente segregado do espaço social.

Numa perspectiva escatológica do cidadão cibernético, é possível compará-lo aos sem paham dos Krahó, sobretudo aos seus mortos. A realização do indivíduo como cidadão, autônomo, livre e consciente, capaz de escolher sua própria orientação, apenas se concretiza no âmbito da esfera pública. No universo do ciberativista, o ambiente da intimidade e o espaço da ação política se misturam, assim como o dentro e o fora, o eu e o outro, o mundo particular e o mundo comum, o público e o privado. Como repensar a cidadania nestas novas condições?

O cidadão cibernético aparece como um ponto de conexão em uma rede. Seu interior é dissolvido nas imagens que absorve, sem que possa, através dos outros, ver-se a partir de fora e conhecer seus próprios limites. Torna-se, assim, mais suscetível às campanhas que anunciam o fim do planeta e clamam por sua ajuda. A Terra aparece como um outro ser visto do espaço, algo distante e pequeno, até mais vivo que ele, suscetível de adoecer e extinguir-se. É como se o ciberativista pudesse salvá-la através do clique do mouse em poucos segundos, como um pequeno deus. Para o ciberativista, é arriscado deixar a tela e transitar pelos espaços onde circulam as pessoas concretas; pode dar-se conta de quem é aos olhos dos outros.

“A perda do espaço público significa a perda da relação objetiva com os outros homens, da noção de realidade” [33] , da “capacidade de diferenciar o domínio do eu do que está situado fora” [34] . Os indivíduos se encontram isolados no plano espectral da hiperconexão e, por isso, mais do que nunca, tornam-se suscetíveis de habitar as realidades que lhes são forjadas a partir de fora. O ciberativista do Greenpeace está em relação com conteúdos (informações, conhecimento científico, discursos políticos, ideologias, imagens, sons) organizados ou produzidos por esta ONG e distribuídos em larga escala. Inserido em um sistema técnico, científico e institucional, o Greenpeace atua como tecnologia que economiza esforço intelectual dos indivíduos no conhecimento, interpretação e julgamento da realidade [35] . Para Lévy, as instituições são máquinas pensantes que deformam ou reinterpretam conceitos herdados.

A percepção individual do cyberativista sobre as questões ecológicas varia segundo o modo como a organização elabora seus conteúdos. Este sistema de tecnologias e instituições faz dos indivíduos os pontos últimos de sua extensão, ao contrário da conhecida fórmula de McLuhan. [36] Não são os aparelhos e as instituições o prolongamento dos nossos sentidos; nós é que somos o meio através do qual as máquinas e as organizações operam. Para os sociólogos americanos da década de 50, o indivíduo moderno não é mais tradition-directed (orientado pela tradição), nem self-directed (orientado por projetos pessoais), mas other-directed, orientado por um “outro”. [37]

Valores políticos, inspirados na idealização da Grécia Antiga ou da Revolução Francesa, parecem não mais sustentar-se. Temos para análise um universo em que não há autonomia, discurso e ação individuais, encontro físico entre pessoas, visibilidade, enfim, “espaço público”, mas que dá continuidade à política, ainda que etimologicamente ela tenha perdido seu sentido mais original. Deparamo-nos com o desafio de compreender novas práticas muito distantes dos modelos conhecidos.

É o próprio Greenpeace quem assume o papel do ator político capaz de agir, ser visto através das mídias, levar adiante a palavra e convencer um grande público pela argumentação persuasiva. No mundo do Greenpeace, assim como para os gregos, o espaço da aparência é também o do poder. A condição de espectador dos sócios é acompanhada da atividade das instituições. Desta relativa impotência, a organização retira a sua força. O lugar da ação e da palavra, no entanto, não são apenas os fóruns de encontro e discussão. As ações se desenrolam em qualquer cenário, desde que sejam capazes de produzir imagens.

Os sites nacionais da ONG funcionam como observatórios de suas ações pelo mundo. Parafraseando Subirats [38] , o site do Greenpeace seria para o ciberativista uma segunda pele, uma segunda consciência, o órgão de realidade e o princípio da sua realização como existência aberta ao devir histórico-transnacional. Através do Greenpeace, o ciberativista vive a experiência do deslocamento e familiarização com ambientes distantes. “A distância é experimentada mentalmente enquanto os corpos sofrem a similitude da vida cotidiana”. [39] Porém, quando tudo interessa, tudo se indistingue. Na “atitude blasé”, definida por Simmel [40] como “embotamento do poder de discriminar”, o significado e os valores das coisas, assim como as próprias coisas, perdem a substância. 

Um novo ser político?

Todos estes aspectos, no entanto, são percebidos pelo ciberativista como um problema a ser eliminado. Curiosamente, através da filiação, busca-se a superação  da apatia. Ao acompanhar as discussões no Fórum Virtual para sócios no site do Greenpeace Brasil, observei que os ciberativistas parecem reagir ao modelo do indivíduo sem individualidade, alheio, impotente, desterritorializado, recluso, colonizado por máquinas, orientado por metas institucionais estranhas e iludido quanto às possibilidades de participação e transformação social. Paradoxalmente, ao reagir ao modelo, evidenciam a sua validade e o confirmam. Para os ciberativistas, se ele não é a descrição da realidade, há um grande risco de se realizar.

A partir dos diálogos, pude enumerar alguns aspectos do modelo sociológico de indivíduo moderno que o sócio, observado empiricamente, tenta evitar. Estes aspectos, identificados pelos próprios afiliados, ajudam-nos a definir o que seria esta cibercidadania, e se podemos ou não considerar o cidadão cibernético um novo ser político. Cada ponto a seguir resulta de um confronto entre aspectos da teoria formulada acima e as falas dos ciberativistas [41] :

1) Enquanto a teoria insiste na passividade do ciberativista, ele valoriza ação, entendida como ação eficaz, soluções verdadeiras: “estamos aqui reclamando e achando supostas soluções para todos os problemas, mas na verdade o que importa é a ação, nossa eficácia em ajudar as floresta, enfim, agirmos! Vamos postar os emails para contatos!!!!!!!!”.

2) Enquanto a teoria acentua o isolamento, o imobilismo e a desterritorialização, o ciberativista busca contatos reais com pessoas dedicadas a atividades afins e que residam na mesma cidade ou região para realizar trabalhos conjuntos: “Galera, estou em busca de colaboradores do ABC pra que possamos montar um projeto de educação ambiental e tb pra conhecer a galera e saber o que juntos podemos fazer, blz?! Valeu!!”. “Pessoal queria entrar em contato com colaboradores de Goias , saber como eh feita esta colaboração , ou so apenas doação de grana , quero me engajas em projetos mais sérios em Goias , ongs goianas , podem por favor entrar em contato pelo mail yyyyyy@xxx.com”. “Gostaria de pedir ajuda ou opinião para saber como eu começo alguma atividade voluntária do Greenpeace aqui no meu estado, Espirito Santo, onde não possuimos nenhuma sede do Greenpeace. Também não conheço outras pessoas aqui que estão filiadas ao Greenpeace. Para se fazer um Grupo Local de Voluntários é necessário todos estejam filiados ao Greenpeace? Bom, essas são as minhas dúvidas e se vcs puderem me ajudar eu ficarei muito grata. Obrigado pela atenção. E muita paz pra todos.”

3) O ciberativista, não raro, manifesta valores nacionalistas e xenófobos, opondo-se  ao universalismo atribuído à cibercidadania. “Todos nós temos consciência de tudo isso... Pelo amor de Deus!!! Temos que tomar uma atitude drástica sei que estão fazendo lavagem cerebral nas crianças americanas, pois em seus livros de Geografia já consta que a Floresta pertence a eles. Qualquer dia desses vamos ver os mariners atracando em Manaus e matando todo mundo para reevindicar ¨Suas Terras¨. As crianças de hoje serão os soldados de amanhã....Tem aldeias onde os americanos constroem igrejas e catequisam os indios cobrando entrada nossa (turista brasileiro) para visitar a aldeia...Estou dizendo porque fui vitima desse despaltério....Estamos falando muito e fazendo nada a respeito.... O mundo inteiro está a par e os nossos governantes???”.

 “Aqui no Amapá, apesar de termos uma das áreas mais bem preservada da amazônia. Tente entrar numa aldeia indígena? se você não tiver a permissão do "irmão missionário"( leia-se aki americano) você não entra, se bobear até mesmo os funcionários da FUNAI E FUNASA estão pedindo autorização para realizar o precário trabalho de atendimento aos nossos irmãos índios”. “So para constar como exmeplo em Sao Gabriel da cachoeira - AM ha indios q falam alemao....chegam padres la como se aidna estivessemos no seculo XVI pedem infromacoes sobre a flora fauna levam ervas medicinais ilegalmente pedras preciosas e cade o SIPAM????? ele nao servia para proteger nossa amazonia dos estrangeiros??? Ah e tem outra nao podemos deixar a amazonia virar cerrado o Governador de Rondonia eh DOIDO!!! tudo pra ele eh derrubar pra plantar ou criar gado”.

4) Ele recorre também à tradição familiar como forma de resolver questões ambientais, opondo-se ao distanciamento do cibercidadão frente aos valores tradicionais: “concordo com você! Temos que valorizar mais o convívio familiar com o almoço/jantar em família. Eu tenho o privilégio de estar sempre comendo na casa de minha vó, e a comida dela além de muito gostosa é bastante saudável. Só pra ter idéia, o pão-de-milho é feito com milho moído no moinho, na hora. è muito mais saboroso do que o vendido no comércio, além de mais saudável. Esse é só um exemplo.”

5) Ao contrário de se acomodar ao ambiente da casa ou do quarto, ele busca o exterior, a “rua”, como espaço de ação conjunta:  ”Sou novo aqui na ONG e gostaria de conhecer pessoas que queiram uma ação mais ativa aqui em POA. Saí pra rua e fazer o que for possível! Meu msn: yyyy_#####@xxxxx.com” - “Bom, primeiramente gostaria de avisar que é a primeira vez que participo do fórum. Gostaria de pedir ajuda ou opinião para saber como eu começo alguma atividade voluntária do Greenpeace aqui no meu estado, Espirito Santo, onde não possuimos nenhuma sede do Greenpeace. Também não conheço outras pessoas aqui que estão filiadas ao Greenpeace. Para se fazer um Grupo Local de Voluntários é necessário todos estejam filiados ao Greenpeace? Bom, essas são as minhas dúvidas e se vcs puderem me ajudar eu ficarei muito grata. Obrigado pela atenção. E muita paz pra todos.=) P.S. Eu pus esse mesmo tópico no forum Amazonia. Como eu vi q todos estão reunindo aqui, passei o tópico prá cá”.

6) O ciberativista deseja encontrar uma motivação existencial, uma causa pela qual lutar, em oposição ao “embotamento do poder de discriminar” diferentes interesses, entre os quais os políticos: Como vai pessoal.....pelo assunto vcs podem desconfiar em que eu estou interessado,estava lendo todos os assuntos do forum realmente muito interessante....gostaria da opinião de vcs já velhos de gerra nessa batalha.Sei que cada um tem um propósito nessa vida e acho que acabei de descobrir o meu”.

7) Ele reconhece a condição cibernética a que está submetido e tenta deixá-la: Não queria ficar aqui em casa atrás desse computador e dando somente meu dinheiro e debatendo o que eu acho disso ou daquilo....gosto de vestir a camisa mesmo..já começei aqui na minha cidade Poços de Caldas MG, temos várias trilhas ecológicas aqui sempre saio com um saco de lixo limpando as trilhas.Gostaria de perguntar o que o pessoal do grenpeace poderia me orientar alem disso??Minha cidade é muito linda ela esta sendo destrida pelas mineradoras de alunínio. Forte abraço”.

 8) Por fim, os erros de ortografia e a nova escrita dos correios eletrônicos chamam atenção para o fato de que as pessoas que escrevem são verdadeiras e escapam à abstração teórica de um indivíduo de formação intelectual e sensibilidade semelhante em todas as partes.

Se esta pequena amostra de sócios, participante do Fórum Virtual do Greenpeace Brasil, confirma alguns pressupostos teóricos da modernidade ao tentar negá-los, ela nos leva, por outro lado, a questionar a modernidade como paradigma válido para a compreensão do indivíduo contemporâneo. Afinal, como continuar reproduzindo um modelo teórico que o objeto claramente recusa?

A cibercidadania talvez expresse uma dimensão do indivíduo que é simultaneamente cosmopolita, envolvida pelas coisas do lugar e ansiosa por engajamento, ainda que por vezes conservador. Para compreendê-la, talvez devamos experimentar novos modelos que nos permitam encontrar uma síntese entre a modernidade e a negação que a sua radicalização produz. Construir um paradigma que compreenda igualmente a teoria e a exceção empiricamente observada, isto é, ultrapassar a imagem, é o desafio do porvir.

Referências bibliográficas

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Todas as imagens foram retiradas de sites e blogs do Greenpeace de vários países a partir do site de busca Google Imagens, reservando-se os direitos autorais a esta organização.



[1] GABEIRA, Fernando. (1988) Verde guerrilha da paz. São Paulo: Editora Clube do Livro.p. 23-24.

[2] LEQUENNE, Philippe. (1997) Dans les coulisses de Greenpeace. Paris/Montréal: L´Harmattan. pp.16-17.

[3] O capitão era John Cormack, dono do barco que levava também Patrick Moore, estudante de ecologia, Bill Darnell, assistente social, Dr. Lyle Thurston, físico, Terry Simmons, geógrafo cultural e um dos fundadores do Sierra Club da Columbia Britânica, Dave Birmingham, engenheiro, e Richard Fineberg, cientista político (BOHLEN, Jim. (2001) Making Waves: the origins anf future of Greenpeace, Black Rose Books, Montreal/New York/Londonp.33-34).

[4] LEQUENNE, Philippe. (1997) Dans les coulisses de Greenpeace. Paris/Montréal: L´Harmattan, pp.20-21.

[5] BROWN, Paul. (1993), Greenpeace. Watford, Exley, p. 61.

[6] LEQUENNE, Philippe. (1997) Dans les coulisses de Greenpeace. Paris/Montréal: L´Harmattan, p.27.

[7] BROWN, Paul. (1993), Greenpeace. Watford, Exley, p. 61.

[8] LEQUENNE, Philippe. (1997) Dans les coulisses de Greenpeace. Paris/Montréal: L’Harmattan.

[9] MCCORMICK, John. Rumo ao Paraíso: a história do movimento ambientalista. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 1992, p. 146.

[10] LEQUENNE, Philippe. (1997) Dans les coulisses de Greenpeace. Paris/Montréal: L’Harmattan.

[12] Greenpeace Brasil. Cartaz sobre barcos, 1998.

[14] BURGIERMAN, Denis Russo. (2003), Piratas do Fim do Mundo: o diário de uma viagem à Antártida para afundar baleeiros. São Paulo, Editora Abril.

[15] BURGIERMAN, Denis Russo. (2003), Piratas do Fim do Mundo: o diário de uma viagem à Antártida para afundar baleeiros. São Paulo, Editora Abril, pp.78-92.

[16] Para assegurar sua independência, o Greenpeace não recebe financiamento de empresas e governos. No entanto, depende do crescimento das doações de seus afiliados, atraídos pelas estratégias midiáticas que aqui analisamos.

[17] “É a televisão que realiza a extrema ubiqüidade do alhures na extrema imobilidade do aqui. Um condensado múltiplo do cosmo se oferece diariamente ao telespectador de chinelos” (MORIN, Edgar (1990). Cultura de massas no século XX. Vol.1: Neurose. Rio de Janeiro/São Paulo: Forense Universitária, p.178).

[18] MORIN, Edgar (1990). Cultura de massas no século XX. Vol.1: Neurose. Rio de Janeiro/São Paulo: Forense Universitária, p.169-170.

[19] McLUHAN, Marshall. (1968), Pour comprendre les media: les prolongements technologiques de l’homme. Paris, Éditions Mame/Éditions du Seuil.
McLUHAN, Marshal. (1967) La Galaxie Gutemberg. Face à l’ère életronique. Montréal: H.M.H. Ltée, 1967.

[20] GIDDENS, Anthony. (1991) As conseqüências da modernidade. São Paulo: Unesp, p.91.

[21] DURKHEIM, Émile. (1989). As Formas Elementares da Vida Religiosa. São Paulo: Paulinas. DURKHEIM, Émile. (1995) “Sistema cosmológico do totemismo”. In: Rodrigues, José Albertino (org.). Durkheim. São Paulo: Atica.

[22] ORTIZ, Renato. (1997) Um outro território. São Paulo: Olho Dágua, p.79.

[23] TOURAINE, Alain. (1994) Qu’est-ce que la démocratie? Paris: Librairie Arthème Fayard, p.111.

[24] GIDDENS, Anthony. (1991) As conseqüências da modernidade. São Paulo: Unesp, pp.119-120.

[25] “É com palavras e atos que nos inserimos no mundo humano” (ARENDT, Hannah. (1987) A condição humana. Rio de Janeiro: Forense Universitária).

[26] SCHNAPPER, Dominique; BACHELIER, Christian. (2000) Qu’est-ce que la citoyenneté? Paris: Éditions Gallimand, pp. 11-12.

[27] ORTIZ, Renato (2006) . Mundialização, Saberes e Crenças. São Paulo: Brasiliense.

[28] CARNEIRO DA CUNHA, Manuela. (1983) "Escatologia entre os Krahô: reflexão, fabulação". In MARTINS, José de Souza (org.): A morte e os  mortos no Brasil, pp. 323-339. São Paulo: HUCITEC.

[29] Idem.

[30] Idem.

[31] Idem.

[32] Idem. 

[33] ARENDT, Hannah. (1987) A condição humana. Rio de Janeiro: Forense Universitária.

[34] CHESNEAUX, Jean. (1995) Modernidade-Mundo. Petrópolis: Vozes.

[35] LÉVY, Pierre. (2000). As tecnologias da inteligência: o futuro do pensamento na era da informática. Rio de Janeiro, Ed. 34, p.142.

[36] Conforme Hermínio Martins, a idéia de que os artefatos técnicos representam extensões, projeções, amplificações do corpo humano e seus sentidos, membros, sistema nervoso etc., tornou-se um lugar-comum do pensamento moderno. A primeira exposição desta perspectiva teria sido apresentada, não por McLuhan, mas num tratado de filosofia da técnica, publicado em 1877 por Ernst Kapp (1808-1896). Kapp parte da antropologia para compreender a história da técnica. O conceito central desta antropologia é a idéia de “projeção orgânica” (organprojektion). As ferramentas primitivas são vistas como projeções do corpo humano, sobretudo da mão, que seria a parte mais tecnológica do corpo: a mão em concha teria gerado as colheres, cuias, copos, pratos, cumbucas; o punho cerrado seria análogo aos martelos, tacapes, baquetas e outras espécies de armas e instrumentos batedores; os cabos do telégrafo elétrico são comparados aos nervos; as linhas de ferro ao aparelho circulatório. Para Kapp, cada estágio da tecnologia é posto em correspondência com uma fase da espécie humana (MARTINS, Hermínio. (1996), Hegel, Texas – e outros Ensaios de Teoria Social. Lisboa, Edições Século XXI, p.167-169).

[37] CHESNEAUX, Jean. (1995) Modernidade-Mundo. Petrópolis: Vozes.

[38] SUBIRATS, Eduardo.(1989) A cultura como espetáculo. São Paulo: Nobel, 1989. p.71.

[39] MORIN, Edgar (1990). Cultura de massas no século XX. Vol.1: Neurose. Rio de Janeiro/São Paulo: Forense Universitária.

[40] SIMMEL, George. (1987) “A metrópole e a vida mental”. In: Velho, Octávio (org.). O Fenômeno Urbano. Rio de Janeiro: Guanabara.
SIMMEL, George. (1983) “O Estrangeiro”. In: Evaristo Moraes Filho (org.). Simmel. São Paulo: Ática.

[41] Os nomes dos sócios foram omitidos.

 

Samira Feldman Marzochi é graduada em Sociologia, Ciências Política e Antropologia (UNICAMP), mestre em Sociologia da Cultura (UNICAMP) e doutoranda em Ciências Sociais (UNICAMP), tendo realizado pesquisa de doutorado-sanduíche na École de Hautes Études en Cience Sociale, Paris. É  membro do Conselho Editorial da Revista Temáticas (Ciências Sociais, Unicamp) e da Revista Virtual de Ciências Sociais CVA, tendo publicado diversos artigos sobre ONGs internacionais, redes eletrônicas e mundialização.