Click, de Frank Coraci (EUA, 2006)
por Francis Vogner dos Reis
Filme de estrela
Adam Sandler começou a carreira no cinema interpretando
personagens idiotas, adultos infantis, como em Happy Madison
e Waterboy, que também são seus piores filmes. Com o tempo,
seus trabalhos passaram ao registro das comédias românticas e
familiares. Ele virou uma espécie de James Stewart (de Frank Capra)
pós-Homer Simpson. A semelhança é mais no sentido de que ele representa,
como Stewart, o homem americano comum de classe média (por isso
mesmo ingênuo e redimido) do que alguma característica dramática.
Click é certamente o filme em que esse seu personagem (como
em Mr. Deeds, O Paizão, Espanglês) está mais
bem definido, com a tendência de criar um estigma definitivo daqui
pra frente.
Sandler faz um pai de família que aparentemente
não precisa de mais nada na vida: tem dois filhos pequenos e apegados
a ele, uma esposa linda e dedicada, pais divertidos, uma casa
em um subúrbio de classe média, um cachorro – e até o sagrado
direito de odiar a esnobe família vizinha. Como conciliar tudo
isso a uma rotina estafante e um ritmo alucinado de trabalho?
Um controle remoto universal. Ele ganha o utensílio de um anjo
interpretado por Christopher Walken. Só que, ao invés de servir
para controlar ao mesmo tempo a garagem, a TV e o ventilador,
o objeto serve para controlar a vida: seu ritmo (ele avança, pausa
ou recua a hora que quiser), um menu de capítulos, a tradução
de línguas, diminuir ou aumentar o brilho das cores, a saturação,
tirar o som e etc. Ele controla a própria vida, até o ponto em
que o controle remoto passa a agir à sua revelia.
A última parte de Click ganha tons de drama
familiar, semelhante ao que acontece em A Felicidade Não se
Compra, de Frank Capra, em que o protagonista é jogado em
uma vida ocasionada por um desejo seu de se omitir de suas responsabilidades,
fazendo uma revisão de suas atitudes. Só que diferentemente de
Capra, tudo aqui está nas mãos do diretor de aluguel Frank Coraci,
que só serve para submeter e diminuir tudo a um veículo para Adam
Sandler – o que até é compreensível por um lado (ele é a estrela,
e tudo se faz em cima de sua imagem). Assim, o que poderia render
uma grande comédia na mão de um diretor como Harold Ramis, que
em muitos dos seus filmes joga os personagens em situações absurdas
que eles não podem controlar (e que em princípio, acham que podem),
se torna menos um “filme de ator”, do que um “filme de estrela”.
Onde a surpresa é a grande performance de David Hasselhoff (de
Baywatch e Super Máquina), que, no papel de chefe
de Adam Sandler, é responsável pelos melhores momentos de Click.
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