diário da redação
YouTube e o estatuto das imagens da
web
edição de Eduardo Valente
Muitas vezes, na lista de discussões que
hoje serve como "redação virtual" para
revistas como a Cinética, uma dica de leitura chega de
um dos redatores (geralmente linkada), e gera uma troca de idéias
entre outros membros. Curioso e fascinante tempo este, onde o
mesmo meio de difusão (no caso a internet) permite a publicação
e posterior linkagem de um texto original; depois, hospeda a troca
de idéias acerca do texto entre participantes da mesma
redação, mas que residem em pontos distintos do
globo (no caso, São Paulo, Rio de Janeiro e Paris); e,
finalmente, para a publicação desta troca de idéias
para um terceiro leitor. Neste caso, aliás, mais uma dimensão
se soma via web, já que o objeto de atenção
do texto original, e da discussão, também é
a internet - no caso, o YouTube.
* * *
De Leonardo Mecchi, 31/7/2006, 11:04
Vi este
artigo da New York Observer sobre o You Tube, onde Tom Scocca
pega um ponto interessante: o You Tube inverte um dos principais
preceitos da TV, o de que suas imagens são descartáveis. Através
do You Tube, elas adquiririam a imortalidade...
Boa leitura.
Abraços,
Leo Mecchi
* * *
De Cezar Migliorin, 31/7/2006, 11:16
Oi Leo, valeu pelo texto.
Fiquei aqui pensando se, na era digital, as noções de mortal ou
imortal para as imagens ainda nos ajudam. É dúvida...
* * *
De Ilana Feldman, 31/7/2006, 14:14
Concordando com o Cezar, tenho a impressão de
que essa suposta "imortalidade" no You Tube é
uma mistificação da tecnologia... Me corrijam se estiver errada
– porque li o texto transversalmente – mas, mais do que "imortalidade",
a tecnologia do You Tube proporciona um desarranjo/desorganização
da temporalidade, desarranjo que é o princípio de qualquer arquivo...
Qual a diferença entre uma biblioteca e o arquivo
eletrônico do You Tube, além do suporte tecnológico? E quem garante
que a digitalização "imortaliza"? E, também, me parece
que o "limbo" digital do You Tube é enorme... Haveria
então imortalidade sem visibilidade?
Beijos
* * *
De Cezar Migliorin, 31/7/2006, 15:09
Nessa linha, talvez o que exista seja uma imortalidade deste agenciamento.
Imagens serem expostas e disponibilizadas da maneira como faz
o Youtube (o que também produz uma estética), me parece algo
que marca um momento histórico singular; como do aparecimento
das bibliotecas - mas aí não é o Youtube, óbvio, é a internet
como um todo.
Acho que, no caso do Youtube, a dificuldade é de pensarmos nas
imagens singulares, com autores, narrativas, etc. Se assim fizermos,
elas se tornam invisíveis. Mas o interesse nelas não está justamente
nesta forma como sua "invisibilidade" constitui um corpo
amorfo e complexo?
* * *
De Cléber Eduardo, 31/7/2006, 18:46
Essa imortalidade da imagem na Internet, via You
Tube, não seria proporcional à imortalidade dos textos? Ora, antes
o texto impresso não estava disponível, como hoje está (os que
estão na Internet). E tanto em um caso como em outro essa imortalidade
é apenas potencial, porque em ambos tudo dependerá de garimpagem
e pesquisa – com exceção, claro, das imagens que começam a circular
por emails (Vanucci, Materazzi).
Creio haver uma diferença entre "imagens
do You Tube" e "uma imagem no YouTube". Sempre
se que se fala do YouTuve, coerentemente, fala-se do YouTube,
do arquivamento-circulação, não do que se está arquivando e circulando.
Ou seja, fala-se da mídia, e não de como ela está sendo preenchida
(o que seria inviável, porque ela está sendo preenchida por tudo
e nada parece ser excludente).
Agora, em matéria de novas mídias de imagem, mas
ainda na Internet, acho mais interessantes (enquanto imagem e
não enquanto "meio") os pornôs de webcam que,
com consentimento ou não de seus protagonistas (ou de um deles
pelo menos), anda sendo compartilhado em programas de troca de
imagens. Sou ainda meio "virgem" no assunto, mas começarei
a arquivar algumas coisas aqui e em breve teremos o primeiro “texto
sério” sobre o neopornô.
* * *
De Ilana Feldman, 31/7/2006, 18:46
Cezar escreveu:
> Acho que no caso do Youtube, a dificuldade é de pensarmos
nas imagens singulares, com autores, narrativas, etc. Se assim
fizermos, elas se tornam invisíveis. Mas o interesse nelas não
está justamente nesta forma como sua "invisibilidade"
constitui um corpo amorfo e complexo?"
Sim, sim, certamente... Uma polifonia-imagética
desprovida de regência, no sentido da simultaneidade de várias
linhas melódicas que se desenvolvem independentemente, mas dentro
da mesma tonalidade.
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