Eu Te Amo, Cara (I Love You, Man),
de John Hamburg (EUA, 2009) por Fábio
Andrade Do
tamanho de seu protagonista
Não é nada surpreendente
se os leitores e espectadores não se lembrarem de quem é Paul Rudd, o protagonista
de Eu Te Amo, Cara. Pois, até esse momento, o ator era um dos mais facilmente
esquecíveis coadjuvantes da nova comédia norte-americana. Ele estava lá em O
Virgem de 40 Anos, mas seu brilho era facilmente ofuscável pelas performances
de Romany Malco e Seth Rogen. Ele tinha um papel um bocado maior em Ligeiramente
Grávidos, mas não era nada impossível que as participações menores dos amigos
de Seth Rogen (entre eles, Jonah Hill e Jay Baruchel) se tornassem mais memoráveis.
Diabos, ele estava lá em Friends, mas é bem mais provável que os fãs da
série se lembrem de Tom Selleck, ou mesmo de Jon Favreau, antes de pensarem nele.
Paul Rudd não é negro, imigrante, judeu, gordo, magricela, desbocado, ou coisa
que o valha. Não tem cara de pobretão nem de aristocrata; não é alto nem baixo
demais; não é careca, e parece sempre se produzir para mais facilmente desaparecer
na multidão. Não é, sequer, particularmente engraçado. Paul Rudd é, de fato, um
sujeito comum e esquecível. Aí
chegamos a Eu Te Amo, Cara, e mesmo aqueles que mais se simpatizavam com
o rapaz (caso deste redator) parecem céticos diante de seu talento para protagonista.
Pois Rudd sempre fez bem seu papel, mas esse papel é tão aguado e sem sal que
não parece capaz de ditar os rumos de um filme. Começa Eu Te Amo, Cara,
e todas aquelas idéias pré-concebidas a respeito de Paul Rudd surgem com certeza
avassaladora. Mais uma vez, ele interpreta o bom moço que equilibra a balança;
o rapaz doce e adorável que se acha mais engraçado do que realmente é; o meio
exato que representava em O Virgem de 40 Anos, entre os excessos pudicos
da personagem de Steve Carrel, e o free style desbocado de Romany Malco.
Dessa vez, porém, não tem ninguém pesando a balança que ele tenta equilibrar.
No meio termo de coisa alguma, Paul Rudd permanece um sujeito comum e esquecível.
Isso seria a ruína de Eu Te Amo, Cara, se não fosse o seu mote central.
Pois o que John Hamburg percebe é que esse jeitão de coadjuvante meio sem graça,
tão bem encarnado por Rudd, poderia, de fato, ser um estilo próprio de comédia.
Seu filme parece ser feito à imagem e semelhança de seu
protagonista: um filme de coadjuvantes. Além de promover Rudd para o papel principal,
Hamburg o cercou de alguns dos melhores coadjuvantes terciários da comédia recente.
Estão lá o pai da Juno (o sempre ótimo J.K. Simmons), o rapaz metido a conquistador
de Ligeiramente Grávidos (Jason Segel, que faz o "cara" do título),
o atropelador de Superbad (Joe LoTruglio), e até Andy Samberg – espécie
de sub-Bill Hader no Saturday Night Live. Atores que, ao longo de suas
carreiras, conferiram brilho próprio a personagens de natureza pouco memorável,
aproveitando suas pequenas frações de tela para, muitas vezes, se tornarem pilares
essenciais de seus respectivos filmes (caso claro de Simmons, em Juno).
Rostos que esquecemos sem muitos lamentos, mas que sempre geram um sorriso satisfeito,
mesmo que de canto de boca, quando entram em tela. Eu
Te Amo, Cara é feito desses esboços de riso. Não teremos momentos dó de peito,
ou excessos quaisquer em imagem ou verbo. Mas, aos poucos, percebe-se que esse
tom flat é, de fato, bastante incomum e – pensando em lançamentos recentes
como Quase Irmãos e Sim, Senhor – um tanto mais arriscado. Hamburg
constrói um filme que se esvazia de forma curiosamente sutil, pois sempre afetuosa,
nunca caricata (como era um Napoleon Dynamite, por exemplo). Um filme que
não se expõe o suficiente para ser considerado metalinguístico mas, ainda assim,
parece fazer comentários sobre si mesmo sempre que toda tentativa de imitação
por Rudd é apontado como a de um duende (e é um tanto mais apropriado que o filme
se passe em Hollywood). Eu Te Amo, Cara parece fazer troça de sua aparente
falta de graça e, sem histeria, constrói uma modalidade de humor bastante particular
e inteligente. Embora não tenha filiação direta com o núcleo
Apatow (a não ser a presença de alguns atores – o que, nesse caso, já provém filiação
suficiente), Eu Te Amo, Cara trabalha, temática e esteticamente, os interesses
caros ao grupo produtor – que, a essa altura, já aparece bem firme como sub-gênero
(aquilo que alguns definem como bromance). Estão lá as dificuldades do
coming of age, o riso buscado pelo constrangimento (físico, social,
sexual, etc), a decupagem discreta e a relação ruidosa, mas sempre genuinamente
interessada, com o sexo oposto. De fato, não encontramos, aqui, o nível de sofisticação
de filmes como Superbad, Pineapple Express ou O Virgem de 40
Anos. Nada, porém, mais esperado. Pois, como seu protagonista, Eu Te Amo,
Cara é um coadjuvante preciso e de brilho próprio, mesmo que moderado, nesse
cast de filmes tão poderosos e revigorantes. Maio
de 2009 editoria@revistacinetica.com.br
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