Leões
e Cordeiros (Lions for Lambs), de Robert Redford (EUA,
2007) por Nikola Matevski Retórica
das retóricas
Leões e Cordeiros
é cheio de boas intenções ao falar do envolvimento dos Estados
Unidos em guerras e das diferentes posturas e cisões que isso provoca dentro daquele
país. O curioso é que as discussões que emergem soam um tanto passadas e, em algum
ponto, pensa-se por que um filme como esse é possível justamente agora; o que
teve de acontecer para que aquela indústria nos trouxesse esse debate amparado
com rostos de estrelas (Cruise, Streep) em um filme de alto padrão? O
que dá voz às velhas questões é uma compilação (e às vezes confrontação) de falas
eloqüentes compactadas em personagens. Lá temos o menino burguês inteligente e
niilista confrontado pelo seu professor, o ambicioso senador recebendo uma jornalista
veterana, e dois soldados, ingênuos idealistas na hora errada, enfrentando o inimigo
no Afeganistão. Cada dupla define um eixo narrativo e seu desenvolvimento é paralelo,
cobrindo pouco mais de uma hora (com direito a alguns flashbacks). Em
outras palavras, vemos mais personagens falando que fazendo ou pensando – a não
ser pelo núcleo dos soldados cujo drama individual é de interesse para o filme
é apenas relativo, funcionando mais como um complemento às outras partes. Na tela,
isso se traduz em abundantes diálogos cobertos por planos e contraplanos que buscam
fluidez em sucessivos, e às vezes redundantes, reenquadramentos ou no movimento
dos atores pelo espaço (no caso do senador e da jornalista). Ainda
assim, por mais que o refinamento na atuação dê conta de algumas nuances sobre
aquilo que se passa dentro dos personagens, predomina a sensação de falta de tempo,
de que tudo o que é dito e raciocinado nesse supletivo de retóricas é demasiadamente
rápido (e às vezes fácil e chavão). Não há espaço para pausas, contradições nem
oscilações profundas enquanto cada um cumpre seu percurso narrativo. Talvez por
isso as atitudes do estudante e da jornalista ao final pareçam simplistas, pouco
mais que um dar-se conta pálido do papel que cada um desempenha no mundo (embora
muito distante – e tanto melhor – da encenação brutalizada das catarses pessoais
em Crash – No Limite). Novembro de 2007editoria@revistacinetica.com.br
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