Lua Nova (New Moon), de Chris Weitz (EUA, 2009)
por Filipe Furtado

Na falta de um olhar

Se algo desperta alguma curiosidade sobre a experiência de ver Lua Nova é o resultado da mudança de diretores da série de filmes baseados nos livros de enorme sucesso: da Catherine Hardwicke, de Crepúsculo, para Chris Weitz. Hardwicke, afinal, não é exatamente o que se pode chamar de uma cineasta competente: seus filmes avançam aos trancos sem nenhuma fluidez narrativa, com uma aspereza estranha para uma grande produção. Ela cavou um nicho para si dentro do cinema semi-independente americano com seu tom naturalista e temática adolescente (uma espécie de  Larry Clark mais acessível e ainda menos talentosa). Logo, tratava-se de uma escolha muito estranha para dirigir um filme como Crepúsculo.

Mas, se havia algum frescor no primeiro filme, ele residia justamente no estranhamento entre o tom naturalista imposto a fórceps por Hardwicke e a temática sobrenatural e tom romântico do material. O resultado era um filme todo errado, mas que ao menos na sua primeira metade sustentava certo encantamento no meio das suas escolhas equivocadas. Provavelmente muito por conta disso os produtores espertamente substituíram Hardwicke por Weitz. E o que Weitz traz ao material? O profissionalismo que a grosseria de Hardwicke não permitia. Lua Nova é sem dúvida um filme mais agradável que Crepúsculo, que se aproveita com mais competência dos ganchos do texto para dar ao público-alvo o que ele anseia. A mitologia de vampiros e lobisomens toma conta do filme com muito mais potência, e existe uma crença no fabular que não víamos antes – mesmo que o filme procure manter o máximo de continuidade do projeto visual iniciado por Hardwicke no filme anterior.

Lua Nova é, logo, uma vitória para seus produtores, pois Weitz lhes entrega um produto muito mais eficiente, que decerto ajudará a expandir a popularidade da franquia. Só que na passagem de Hardwicke para Weitz perde-se também o pouco de ponto de vista que garantira alguma graça ao filme anterior. Chris Weitz é objetivamente um cineasta melhor que Hardwicke (ele fez pelo menos um bom filme, Um Grande Garoto) e tem um domínio razoável da fluência cinematográfica, mas com o material medíocre que tem em mãos faz pouco mais que entregar seu produto. Já o subcinema de Hardwicke nos proporcionava um olhar. Se resta algo de Lua Nova é justamente a questão: a competência de Weitz compensa a perda deste olhar? Diante de Lua Nova nos resta concluir que antes um ponto de vista que o produto genérico e competente que o filme opta por nos entregar.

Dezembro de 2009

editoria@revistacinetica.com.br


« Volta