in loco - cobertura dos festivais
Sentidos à Flor da Pele, de Evaldo Mocarzel (Brasil,
2008) por Julio Bezerra Amplidão
insustentável
Neste seu novo Sentidos à Flor
da Pele, o prolífico Evaldo Mocarzel se volta para os que perderam
parcial ou totalmente a visão. Como ele mesmo diz no prólogo do filme, a idéia
para Sentidos à flor da pele nasceu de seu montador habitual, Marcelo Moraes,
cujo pai ficou cego há muitos anos. O filme, no entanto, ao contrário do que inicialmente
parece nos prometer, não se satisfaz com este personagem. Sentidos à flor da
pele se desenrola em função dos depoimentos e das experiências de um punhado
de entrevistados. Mocarzel se esforça para enquadrar a maneira como essas pessoas
organizam suas vidas a partir desta falta, não impondo olhares ou observações
externas ou anteriores ao filme. Logo, duas características
marcantes do cinema de Mocarzel (a presença do próprio diretor e o caráter metalingüístico
da discussão da imagem) surgem apenas sorrateiramente. O cineasta não parece preocupado
em nos transferir a sensação da deficiência visual, como buscava, por exemplo,
Janela da Alma. A idéia parece ser a de nos aproximarmos do sentido das
experiências registradas. Vê-se com o corpo, quer nos dizer Sentidos à flor
da pele, na totalidade dos sentidos. Desse modo, vemos o pai de Marcelo comentando
velhos slides projetados sobre seu corpo; uma cantora e um analista de
sistemas constroem uma paisagem sonora para uma determinada cena estática; um
advogado filma sua mulher a partir de sons que partem dela. Não funciona sempre,
é bem verdade, mas Mocarzel é um documentarista corajoso: não tem medo de errar. O
grande problema é que tudo poderia ter sido dito, registrado, montado, já com
aquele primeiro personagem. O desejo pelo acúmulo de entrevistados faz deste filme
apenas um meio de transporte da voz e da imagem de alguns deficientes visuais.
A cada novo personagem, todos aparentemente de classe média, pouco se acrescenta.
Aos poucos, nesta busca por uma amplidão (insustentável), Sentidos à Flor da
Pele vai perdendo o foco. O que se vê é um documentário “painel de depoimentos”
sobre um tema vasto e talvez pouco definido. Falta ao filme um nervo central melhor
delimitado, um ponto de interseção criativo mais específico. Outubro
de 2008 editoria@revistacinetica.com.br
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