in loco Diário
de Berlim - 5 por Leonardo Mecchi
Como parte de minhas atividades aqui no Talent Campus, entrevistei
Iain Smith, produtor dos últimos filmes de Cuarón (Filhos da Esperança)
e Aronofsky (Fonte da Vida). Ele estava aqui em Berlim para dar uma palestra
intitulada "Calculating Risks and Taking Chances", sobre como produzir
filmes autorais dentro do sistema dos grandes estúdios.
Além de produtor,
ele é também diretor do UK Film Council, e por isso perguntei o que achava de
leis de incentivo como a que temos no Brasil, baseadas em isenções fiscais. Ele
respondeu que acredita que esse tipo de política pode ser bastante perigosa, pois
os filmes acabam sendo feitos pelas razões erradas (como bem sabemos). Segundo
ele, o melhor tipo de dinheiro é aquele que está à procura de um bom filme, então
o que os governos deveriam fazer é incentivar o capital que já está no mercado
a ir em direção à produção cinematográfica.
Nesse sentido, nossos Funcines
(fundos de financiamento direcionados à indústria cinematográfica) seriam mais
próximos do que Smith acredita ser o ideal, mas eles ainda estão apenas engatinhando
e, enquanto isso, o governo prorroga até 2016, praticamente sem discussões e alterações,
as leis de incentivo atualmente em vigor. Se soubesse disso, Smith ficaria mais
desconcertado do que quando propus a ele que produzisse um filme brasileiro com
um orçamento de apenas US$ 1 milhão... *** Notas sobre um
Escândalo, de Richard Eyre (Reino Unido, 2006) - Fora da Competição
Que
desperdício de boas atuações é Notas sobre um Escândalo. Cate Blanchett
e Judi Dench estão excelentes como, respectivamente, a professora que se envolve
num escândalo devido ao relacionamento com um aluno de 15 anos, e sua colega,
que finge apoiá-la, mas que está cheia de segundas intenções. Bill Nighy também domina
seu pequeno papel como marido da personagem de Blanchett. Até mesmo
o jovem Andrew Simpson está bem, com seu olhar penetrante que parece dizer a Cate
Blanchett "eu vou tê-la, e não há nada que você possa fazer para impedir
isso".
Mas tanto o roteiro quanto Eyre erram a mão feio e, numa história
que exige sutileza e delicadeza, o diretor parece estar mais interessado no espetáculo
e no escândalo. Temos assim personagens caricatos, a música de Philip Glass presente
em praticamente todas as cenas e sempre um tom acima do necessário, a edição aproximando
o filme de um thriller. Ao invés de um retrato sutil da solidão e das relações
humanas, Notas sobre um Escândalo acaba sendo algo próximo a Atração
Fatal. O filme deve ter uma boa repercussão em função
do tema tabu (suas 4 indicações ao Oscar são uma prova disso), mas o verdadeiro
escândalo foi terem permitido fazer esse filme a partir do belo livro de Zoe Heller.
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