in loco - cobertura do Festival do Rio
Carnaval de Sodoma (idem), de Arturo
Ripstein (México, 2006)
por Cléber Eduardo
Mais do mesmo
A essa altura do campeonato, com 63 anos de vida, 40 de cinema e
ainda com uma produtividade incrível, o mexicano Arturo Ripstein,
com uma ou outra exceção, está sentado no trono de “autor”. Portanto,
antes da primeira imagem bater na tela, especulo comigo: o que esperar
de Carnaval de Sodoma, a partir do conhecimento de seus filmes
(desde Vermelho Profundo, de 1996), se não a marca Ripstein?
Cores fortes, caricaturas humanas empenhadas em condensar algo da
sociedade mexicana profunda (na História), comportamentos insólitos,
aberrações variadas e os artifícios do cinema escancarados, preocupado
mais com o potencial de arte que com o potencial de cinema. E o
que encontramos, em intensidade superlativa, em Carnaval de Sodoma?
Cores fortes, caricaturas humanas empenhadas em condensar algo da
sociedade mexicana profunda, comportamentos insólitos e a busca
da arte como representação política de um mundo habitado por paus
tortos e incorrigíveis. Tudo passado em molho de Buñuel. Sendo
assim, Ripstein, bem ou mal, não nos engana. Entrega o que esperamos.
Mas qual o sentido, a essa altura, de esperar o mesmo?
Carnaval de Sodoma começa quase como uma
paródia de A Virgem da Luxúria (2002). Em um primeiro momento,
vemos lanternas vermelhas, já semeando o fake na tela.
A câmera percorre, lentamente, no plano seguinte, o letreiro do
bordel Royal. Adentra o recinto. Cenografia carregada, muito verde
e vermelho, cores da bandeira mexicana. A câmera circula em plano-seqüência
e steadycam por cômodos e corredores. Estranhos movimentos
e efeitos obtidos da soma entre travellings e o uso da
grande angular. Parece não se saber de onde olhar para escolher
onde colocar a câmera – por isso, ela não pára.
Andar com a câmera torna-se sinal de mise-en-scène
ripsteiniana. Impotência, comodismo. A luz e seus filtros
berram para serem notados e esgarçam a artificialidade daquele
universo espacial. Asfixia-o como premissa, quase em operação
de distanciamento crítico. A tipologia logo começa a desfilar
o verbo, esforçando-se para nos parecer estranha, decadente e
amarrada a um ciclo permanente “de serem como são”. Vemos uma
puta carente, um proprietário chinês opressor, sua esposa oprimida,
um padre assassino, outro vaidoso, funcionário público corrupto
em sua paixão e um sujeitinho chamado La
Pátria.
O México está perdido e condenado à perdição.
Só faltar colocar isso em uma cartela.
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