A Casa do Lago (The Lake House),
de Alejandro Agresti (EUA, 2006)
por Cléber Eduardo
Nem mansão, nem casebre
Como lidar com a percepção de um filme, depois
de ouvir um crítico e amigo próximo (no caso, Sergio Alpendre,
editor da revista Paisá),
falar apaixonadamente deste filme ao longo dos últimos dias? Impossível
não aumentar a expectativa em relação ao filme em questão e, conseqüentemente,
correr o risco de ver-se frustrado por não detectar na tela as
razões da empolgação do amigo. Essa contaminação do olhar, gerada
tanto por nosso conhecimento dos filmes anteriores de um diretor
como pelos elogios dos críticos daqui e de fora do país, é algo
contra o qual luto com frequência, procurando instalar-me nas
imagens sem saber quase nada antecipadamente.
Antes de ver A Casa do Lago, porém, eu
já sabia demais. Não tenho como sustentar uma posição autônoma
sobre o filme, sem levar em conta as considerações feitas a mim
antes. Ao contrário de Alpendre, não sou grande admirador de
Alejandro Agresti, seja o de Buenos Aires Vice Versa, que
parecia fazer força demais para ter uma estética indie;
seja o de Valentin, que se apoiava demais na singularidade
de seu protagonista mirim. Isso talvez seja, de largada, algo
a ser considerado. Afinal, quando se admira um cineasta, nenhum
filme dele fica impune – pois formata, em alguma medida, nossa
avaliação. Nesse caso específico, porém, a expectativa foi proporcionada
menos pela filmografia anterior do cineasta e mais pelas palavras
escritas e faladas de Alpendre – e, embora sua resenha na Paisá
seja intensamente convicta, compartilho apenas parcialmente de
sua defesa do filme.
Estréia de Agresti em Hollywood, A Casa do
Lago, se está longe de merecer desprezo ou indiferença, parece
distante de qualquer superlativismo. Ao narrar “a relação escrita”
entre Keanu Reeves e Sandra Bullock (ele, arquiteto com problemas
com o pai; ela, médica com problemas de solidão), Agresti lida
com um material ousado em alguma medida. Primeiro por conta da
premissa em si, já que, apesar de apaixonados, Reeves e Sandra
estão separados no tempo por dois anos, e se comunicam pela caixa
de correio da casa onde ele mora e ela já morou (na verdade, pela
perspectiva dele, ela ainda morará). Segundo, porque essa separação
deles implica em uma complicada necessidade de intercalar os núcleos
narrativos, com suas respectivas ambientações temporais.
O desafio do diretor está em nos convencer da
verdade ficcional daquela situação absurda, sem deixá-la parecer
xaropada, e ainda manter certa clareza na passagem de um tempo
a outro (2004 e 2006, depois 2006 e 2008). A segunda meta é cumprida
com razoável competência, mas a primeira demonstra sua fragilidade
com o transcorrer da narrativa, seja porque talvez exija demais
da capacidade de levar a sério uma separação temporal facilmente
contornável, seja porque o adiamento do encontro torna-se a grande
questão do filme. Isso pode nos levar, como me levou, a perceber
o truque dramático-narrativo e, percebendo-o, ver as situações
como estratégia para mantê-lo, não como situações com sua vida
própria. A “fórmula” empregada, digamos assim, passa a abafar
o efeito dela.
Se esse parece ser o calcanhar de Aquiles do roteiro
filmado por Agresti, baseado em um thriller coreano (Il Mare),
o ponto forte está na elegância nada careta de sua câmera, e de
alguns truques visuais. O mesmo roteiro, nas mãos de um “ilustrador
de script”, seria mamão-com-açúcar. Nas mãos (e aos olhos)
de Agresti, torna-se um filme preocupado com a imagem, com sua
caligrafia, adicionando estilo à matéria-prima factual. Só não
precisava atolar-se em uma trilha sonora empenhada em amolecer
nossa sensibilidade. Talvez até não seja responsabilidade do diretor,
que trabalhou sabe-se lá com qual grau de autonomia com ou para
a Warner, mas é uma característica implosiva nesse filme “bonitinho”,
realizado com entrega.
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