in loco - cobertura dos festivais
Favela on Blast, de Leandro HBL e Wesley Pentz (Brasil,
2008) por Eduardo Valente Questão
de bass
Desde o título, Favela On Blast
já deixa claro seu desejo de se aproximar de fato daquela que é a definição do
seu diretor, Leandro HBL, do que pretendia que seu filme fosse: um “filme musical”.
Por isso mesmo, ao se aproximar do universo do funk carioca, Leandro e seu co-diretor
Wesley Pentz (mais conhecido por sua alcunha no meio musical, o DJ Diplo) não
se esquecem nunca de que, apesar de todo o resto que circunda, antecipa e procede
ao estilo, o que os levou até o seu objeto é a música. Música entendida aqui não
apenas pelo critério da qualidade dela (embora ela seja forte), mas principalmente
pela capacidade de um ritmo a mexer com os corpos (questão de bass, como
é dito no filme). Por isso, uma primeira qualidade inegável do filme é esta: ele
mexe com os corpos de quem o assiste. Os constantes números musicais filmam os
bailes funk com uma presença como ainda não se tinha visto nas telas, e muito
mais do que simples clipes, servem como baias de respiro e energia do filme. Mas
a música está longe de ser a única qualidade do filme, pois os diretores do filme,
numa mistura de um trabalho cuidadoso de pesquisa e ida às fontes, mas também
de muita astúcia na montagem das horas e mais horas de material que tinham a sua
disposição, conseguem dar ao filme uma outra noção de ritmo que não só a da música.
Vamos percebendo uma enorme quantidade de aspectos em
torno do funk com uma riqueza de detalhes que prescinde de qualquer didatismo
e, principalmente, de qualquer simplificação. Favela On Blast trabalha
com uma lógica da acumulação de sensações sobre um tema, ao invés da explicação
do mesmo. Assim, tão importante quanto mostrar as imagens do começo dos bailes
no Rio dos anos 70 é explorar a geografia das favelas hoje ou ver as maneiras
pelas quais são compostas as músicas. O que os diretores conseguem neste processo
é dar conta de colocar na tela o que torna único, afinal, o funk que se
faz no Rio de Janeiro nos últimos 20 anos – o que não é tarefa fácil. Sem moralismos,
nem saídas fáceis, questões como a sexualidade, as drogas, a violência, a dinâmica
sócio-cultural vão aparecendo em cena e, neste processo, vamos ouvindo cada vez
melhor a música – e não apenas “entendendo” seu contexto. Para
além desta capacidade de olhar sem aprisionar, Favela On Blast conta ainda
com uma outra qualidade essencial: claramente conta com a parceria dos seus entrevistados.
Entre estes, são particularmente fortes a fala de MC Serginho sobre a rapidez
do trajeto do topo ao chão, as provocações de Mr. Catra e a lucidez de MC Leonardo.
Mas, igualmente, impressiona a maneira como figuras como MC Gorila ou Birileibe
ocupam a tela com personas maiores que a vida, no meio de espaços absolutamente
banais. É este passo que Favela On Blast, este filme musical, consegue
dar no final das contas: ao fazer do funk um objeto de paixão (seu e dos seus
objetos), nos faz também nos sentir tão próximos e empolgados por aquele universo
quanto ele é. Outubro de 2008 editoria@revistacinetica.com.br
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