in loco - cobertura dos festivais
Finisterrae, de Sergio Caballero (Espanha, 2011)
por Filipe Furtado

Uma prisão de imagens

Dois homens vestidos de fantasmas fazem o caminho para Santiago de Compostela - nos intervalos, conversam em russo e engajam em formas de humor físico. Beckett pelas vias de Monty Python. Finisterrae foi um dos três grandes vencedores do Festival de Roterdã deste ano. É com este dado que o filme inevitavelmente se apresenta agora à maioria do público cinéfilo, e é o tipo de referendo que o estreante cineasta catalão Sergio Caballero parece buscar. 

Caballero, um dos criadores do festival de música de vanguarda espanhol Sónar, não é exatamente um homem de cinema - e, a despeito de valorosos esforços do fotógrafo Eduard Grau, Finisterrae nunca consegue fugir disso. Épuro conceito, um filme que parece todo imaginado antes que o primeiro plano fosse rodado – algo curioso para uma obra que busca tanto se afirmar como um filme livre. E desta prisão, Finisterrae jamais se livrará. A imagem daqueles duas figuras vestidas com cobertas brancas é curiosa por alguns minutos, mas logo se esgotam.

A aposta de levar ao limite o absurdo da situação, e expo-lo sempre de forma mais concreta possível, lembra muito o cinema do Albert Serra. O cineasta catalão é provavelmente mesmo a maior referência (Grau fotografou Honra de Cavalaria), mas enquanto para Serra toda a “inocência” das situações sugere um olhar direto e nada pré-formatado (pensemos no tom franciscano imposto à história dos reis magos em O Canto dos Pássaros), o efeito em Finisterrae é exatamente o oposto. É a diferença entre um olhar e uma idéia: Caballero quer sugerir um filme livre e é justamente o que ele faz: sugerir. Nesse sentido, é muito relevante que Finisterrae chegue até nós com a chancela do Festival Roterdã (que segue o mais próximo de um festival alternativo oficial da Europa); com todo esforço de Sergio Caballero, sua prisão de imagens não deixa de ser um retrato perfeito do cinema de arte enquanto produto idiossincrático.

Outubro de 2011

editoria@revistacinetica.com.br


« Volta