Piaf - Um Hino ao Amor (La Môme),
de Olivier Dahan (França/Inglaterra/República Tcheca, 2007)
por Leonardo Mecchi Filme
de atrizPiaf – Um Hino ao Amor
não foge muito da estrutura da maior parte dos filmes biográficos que tem inundado
as salas de cinema nos últimos anos: uma espécie de best of da vida de
Edith Piaf (com direito a manchetes de jornal indicando a passagem do tempo e
tudo o mais), indo de sua criação num prostíbulo quando criança, passando
por sua descoberta nos cabarés parisienses, até chegar à fama internacional
e à saúde debilitada que põe fim à sua carreira e à sua vida (e a direção
de arte nas reconstituições dessas diversas épocas é uma das melhores coisas do
filme). Estamos diante de uma personagem maior que
a vida, uma Piaf mítica, predestinada ao sucesso, à solidão e ao sofrimento,
uma Piaf que é curada por milagre de uma cegueira e tem epifanias com Santa
Theresa. O filme assume essa mitificação de Piaf como parte de sua estrutura –
trata-se, afinal, de um dos grandes monumentos da cultura francesa –, mas não
renega sua personalidade difícil, sua carência ou sua dependência à morfina,
no que Piaf se diferencia, por exemplo, de versões brasileiras recentes
de biopic musicais, como Cazuza ou o docudrama global sobre Elis
Regina exibido no começo do ano, onde as deficiências de seus retratados foram
devidamente higienizadas para o gosto do público médio. Da mesma forma, o
filme não se pretende um retrato totalizante e definitivo da vida de Edith Piaf,
e sua edição não-cronológica, repleta de (por vezes excessivos) flashbacks
e flashforwards, confirma esse retrato parcial, fragmentado, subjetivo
e incompleto daquela vida. Mas se há uma razão de ser
para o filme, algo que compense seu excesso de sentimentalismo e sua duração por
vezes longa demais, é mesmo a atuação de Marion Cotillard. Mais do que interpretar,
ela somatiza Edith Piaf, num trabalho de corpo e gestos que trazem a cantora francesa
à vida na tela de maneira impressionante e surpreendente. É nessa interpretação
de Cotillard que reside o grande trunfo do filme.
Fevereiro-Outubro
de 2007
editoria@revistacinetica.com.br
|