Quebradeiras, de Evaldo Mocarzel (Brasil,
2009)
por Francis Vogner dos Reis
Rigorosa asfixia
Quebradeiras muda o tom e o direcionamento dos filmes de Evaldo
Mocarzel. Aqui ele se afirma influenciado pelo cinema mineiro
contemporâneo, como o de Helvécio Marins, Marília
Rocha e Cao Guimarães. Parte em busca então de um
cinema sensorial, poético e sem entrevistas. Em lugar da
imponderabilidade do real, a plástica do real.
Se
esses são os objetivos, os pontos de partida, eles se tornam
um meio e visam um resultado certeiro. Ao registrar as quebradeiras
de coco babaçu, Mocarzel tenta extrair o máximo
da beleza estética que as imagens em fluxo (não
em bloco) são capazes de gerar. Uma beleza siderante na
apreensão expressiva da duração do tempo
que, como é de praxe, corre o risco da pura e simples domesticação
das imagens. Agora, se existe um problema sério nos programas
processuais de Evaldo Mocarzel é que os seus dogmas geralmente
condicionam demais a feitura de seus filmes, buscando neles um
reflexo de questões ligadas ao documentário. Assim, seus filmes
existem em função de articular buscas de efeitos a partir de pequenos
sistemas teóricos. Isso, não raro, asfixia o filme. Com Quebradeiras
não é diferente, apesar da mudança de rumo na sua relação com
o seu objeto.
E o que seria essa asfixia? Seria o fato de o realizador fazer
imagens tão impermeáveis a qualquer outra coisa que não os clichês
formais e teóricos. Mas, em um cinema onde alguns realizadores
de filmes se esquivam de suas responsabilidades como diretor,
Evaldo Mocarzel, com o seu Quebradeiras, tem o mérito de
apresentar e defender um projeto rigoroso que se faz a partir
de alguns poucos princípios que possam orientar uma “experiência”
– ou como diz o próprio diretor, de dogmas que visam trabalhar
com alguns procedimentos (como planos fixos e ausência de entrevistas)
em detrimento de outros (como a câmera na mão e os depoimentos
dos seus trabalhos anteriores). Essa busca do sentido estrito
de todas as imagens faz de seu filme uma bela sucessão e associação
de imagens, ainda que, como cinema, o conceito seja bastante frágil.
Empreender essas buscas é um ato de coragem e consciência de Mocarzel,
mesmo atrelado demais à rigidez e à busca do sentido das formas.
Novembro
de 2009editoria@revistacinetica.com.br
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