Rambo
IV (Rambo), de Sylvester Stallone (EUA, 2008)
por Cléber Eduardo Stallone
e Rambo, cheio de varizes
Existe um filme de ação
e resgate em Rambo 4, mas, além dele ser previsível e grosseirão, transpira
a perda de rebolado de um objeto do passado. Com Sylvester Stallone à frente,
atrás e ao lado do filme (como ator, diretor e tudo o mais), são gritantes os
vestígios de naftalina, não apenas pelo modelo de cinema de ação, mas também pela
forma tosca de veicular uma visão, que, na falta de melhor termo a mão, chamarei
de proto-ideo-filosófica. Para não parecer restrito a noção
de direita de duas décadas atrás, Rambo 4 individualiza a marca do personagem
e ganha um primeiro nome. Não por acaso, durante bom tempo o título
original de trabalho era John Rambo. A opção por um nome próprio, não por
uma marca industrial, ajudava o filme a transpor sua origem histórica. Se Rambo
é um produto dos anos Reagan, John Rambo, o indivíduo por trás de Rambo; o homem,
não o projeto de Estado; sobrevive ao tempo. Está quieto, exilado na Ásia, cético
e apático. Se retorna a ação, não é em nome de nenhuma causa, mas por uma mulher,
por uma imagem de beleza revestida de humanitarismo e sacrifício e, acima de tudo,
por sua constatada e assumida vocação para a guerra. Não
há uma questão ideológica a ser afirmada, nem a ser negada, mas tão somente combater
os malvados (no caso, os malvados da Birmânia) e salvar os inocentes (no caso,
a loira crente na palavra de Deus). A necessidade da guerra para Rambo é gerada
pelo desequilíbrio da balança. Ele não quer agir, mas é levado pelo “destino”.
Não demora para viver a suspensão dos limites, de qualquer noção de direito, para
impor um vale-tudo em nome, paradoxalmente, mas não contraditoriamente, de uma
punição a suspensão dos direitos. Quando John Rambo mata
para manter vivos os religiosos, mas, sobretudo, quando o líder religioso mata
para sobreviver, Rambo 4 demonstra que até os pacifistas se dobram a John
Rambo, ao seu espírito, porque ação diplomática e sem armas não serve contra regimes
do mal. Não significa que John Rambo, assim como Rambo 4, acreditem na
transformação pela guerra. Filme e personagem são céticos, amargos, conscientes
da falta de eficiência da guerra como resolução do mundo. Por isso mesmo, como
a guerra nunca resolve, é preciso guerrear sempre – porque o contrário seria convivência
e acomodamento. No segundo e terceiro Rambo, o mal
estava fora dos EUA. No quarto, também. No primeiro, o mal era doméstico, americano.
Rambo reagia a um sentimento de abandono e traição. No quarto, já veterano de
abandono, já habituado a agir a leste de Greenwich, em diferentes países do Oriente,
ele sai da Birmânia e, no plano final, retorna à casa do pai, nos EUA, aonde chega
enquanto se distancia da câmera, de costas para a lente e para nós, como se estivesse
indo para uma caverna hibernar. Mas irá mesmo adormecer, a partir do contato com
a boa moça de fé, ou estará de tocaia, à espera de motivo para agir em seu país?
Stallone perdeu o bonde: Rambo 4 é um rombo histórico. Março
de 2008 editoria@revistacinetica.com.br
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