edição especial curtas brasileiros
2009 Amplidões do olhar por
Luiz Soares Júnior
Tauri, de Marcio
Miranda Perez (São Paulo, 2009)
A
mostra de que o plano fixo é o verdadeiro (o absoluto) vetor de movimento no cinema,
lição lumiériana por excelência: dar a ver; ênfase no dar, no dom,
pois basta um ponto no espaço e uma duração no tempo – um ponto de vista,
enfim – para se fazer cinema. O cinema é antes de tudo uma certa posição do olhar,
não um olhar a mais, extra-ordinário, ou uma máquina que sirva ao olhar, como
querem os tarados do digital e do virtual. Neste sentido, é um dom, gratuito
e à disposição de qualquer um que saiba adotar uma posição de olhar, justa e conforme
ao objeto.
Em
Tauri, tudo parece imóvel; mas é constantemente “transitado por”: surfistas;
variações do sol; rugido do mar, ora intempestivo, ora ronronante em seu marulho;
um cachorro. Tudo se perde no fora de campo, e sabemos desde sempre que o fora
de campo e o campo, o caminho entre ambos, constituem uma trajetória, uma ponte
temporal: portanto, o movimento que se designa aqui não é apenas movimento físico
– de corpos e suas inflexões -, mas de estados temporais, de ser. Travessia
em direção a. Um filme feito menos de pontos de vista do que de pontos de fuga,
fuga em direção ao fora de campo e suas repercussões “latentes” sobre o campo.
O ponto de vista é único, quase de plano tableaux,
distante e alheio – se não fosse, evidentemente, este abismo marinho que se descortina
diante dos domesticados espectadores e ameaça devorá-los, assim como ao casual
menino. Os pontos de fuga se localizam nos limites – limítrofe, limites, velha
nova determinação de ser – do campo e, irresistível, intensivamente,
continuam a imantá-lo, mais do que nunca, menos do que nós (os espectadores, o
menino, os transeuntes) podemos esperar. Mas até quando? Até o fora de campo enfim
naufragar o campo, na ressaca do maelstrom que se avizinha. Janeiro
de 2010
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