Ponte para Terabítia (Bridge to Terabetia),
de Gabor Csupo (EUA, 2007)
por Felipe Bragança

Crença na fantasia

A positivação da imaginação como fonte afirmativa e renovadora da vida, faz de Ponte pra Terabítia um objeto especial dentre a recente safra de filmes infanto-juvenis na onda pós-Harry Potter. No lugar de metáforas morais ou de épicos de formação, um olhar em que é dado aos jovens protagonistas o papel de condutores afetivos de sua narrativa, onde a construção da identidade se dá como transformação de comportamento e não de descoberta de normas ou deveres. A idéia dos olhos fechados para a cabeça aberta rima com os olhos fixos dos protagonistas que enxergam, afirmam e constroem aquilo que é, antes de tudo, uma forma de reformulação de sua realidade enquanto forma de combinar e enxergar seus elementos cotidianos.

A fantasia aqui não floreia ou disfarça o real, ela intervém, didaticamente, nos detalhes, dramas apequenados, de nossos protagonistas. Daí a beleza diferenciada que as seqüências de efeitos especiais ganham no filme: porque nelas não se enxerga o artifício do cinema como imitação de si mesmo, mas como superficialidade imagética de um afeto alegre e forte. Gabor Csupo, de talento anunciado desde seu trabalho com os Rugrats e os Thornberrys (na TV e no cinema), cria aqui uma obra onde o olhar sobre as frestas e aventuras juvenis alimentam não narrativas determinadas, mas um certo conjunto de alegrias, liberdades, ventanias. A Terabítia, sonhada e vivida, se anuncia no vento, nos insetos, em objetos velhos e esquecidos, em pequenas coragens cotidianas, nas formas de se lidar com as tensões e pressões que cercam os protagonistas.

A ponte que o protagonista constrói ao final não se afirma como negação dos eventos (a morte), mas como reconstrução (ou perpetuação) de mundos. “O que é que uma pessoa com seus olhos e seu talento pode inventar?”, pergunta a professora de música ao menino Jess. Essa é a pergunta que ecoa, ressoa e pousa no colo de Terabítia. De encenação contida, simples, uso de planos firmes e um elenco entusiasmado, o filme alcança não o elogio do êxito, mas o da vontade. Não o de bruxos “escolhidos” ou “predestinados”, mas de construções e inovações baseadas no sentido maior de liberdade, de possibilidades do ser e do olhar. Um filme bonito no que repete do gênero dos filmes de escola e no que se desvia dele; triste, por vezes previsível em seu tom fabular, mas nunca, nunca, desencantado.


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