Triângulo Amoroso (3),
de Tom Tykwer (Alemanha, 2010)
por
Fabian Cantieri
Tesão
de três
Tom
Tykwer cria um plano-síntese logo no começo de Triângulo
Amoroso: um balé com fundo branco, onde um casal se
puxa e se afasta; um terceiro elemento, já em cena, forma
uma nova química - dali surge um novo casal, e dali se
esvai. O fluxo é de constante troca entre os corpos. Antes
de ser redundante, o plano é a paráfrase da convenção
que se institui filme, da convenção que se institui
sociedade. Um homem e uma mulher juntos instauram a continuidade
do mundo, assim como uma junção de planos o faz
com um filme, mas tal condição em nada reflete a
natureza dessa relação.
Enquanto Cronenberg apresenta este ano um filme com Jung e Freud
interessado em perscrutar a sexualidade como pulsão motora
da sociedade, Tykwer deflagra qualquer teoria psicanalítica
como subsumida à lei social do homem - ou seja, o sexo
pode até mover o mundo mas desde que dentro de uma lei
moral. É este rompante civilizatório
que Triângulo Amoroso pretende ferir
e, para tanto, abdica de se esgoelar como um comunista ante o
imperialismo – apresenta o conflito da forma mais natural
possível. Nesse naturalismo, a suavidade se transmuta em
coincidências “sutis” na vida das personagens,
para depois levantar um suposto impacto, que é aplainado
pelo próprio filme. No século XXI, nada mais surpreende
- e Tykwer parece querer apontar esse paradoxo entre a aparente
aceitação sexual contemporânea e seu real
constrangimento (repressão que no filme nunca vem de fora,
sempre de dentro). Só que aqui, no lugar do já convencional
casal gay, temos um ménage a trois latente.
Um
plano fundamental que estratifica essa contradição
é o de quando Hanna (Sophie Róis), em seu talk
show, conversa (ou melhor, escuta) sobre Freud, com o pensamento
longe. Ali, o conflito toma sua posição –
nenhuma teoria abate o instinto sexual. Existe uma sujeição
óbvia da sociedade para com o indivíduo, e para
não cair nas graças da anarquia ou da loucura (pois
é preciso travar relações com a sociedade)
fica impregnado nos atos o limite tênue entre a normalidade
e a exclusão. Triângulo Amoroso se desenrola
mostrando que toda essa revelia deve ser minimizada para o fim
comum da felicidade. No fundo, uma mensagem corriqueira, expressa
por um tesão apaziguado de três.
Outubro de 2011
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