in loco - cobertura dos festivais
Vamos Fazer um Brinde,
de Cavi Borges e Sabrina Rosa (Brasil, 2011)

por Fabian Cantieri

Lugar comum

A mudança paradigmática do sistema de produção cinematográfico, com a chegada das câmeras digitais, pode ter iluminado uma centena de novas possibilidades estéticas - mas, com o mesmo peso, trouxe uma bagagem cheia de clichês. Esse lugar comum é tão recorrente (tanto a mudança em si quanto sua percepção) que, muitas vezes, fica até difícil travar um diálogo singular com alguns filmes.

Vamos Fazer um Brinde
é um exemplo nada revelador desse beco sem saída. O filme começa ao som de "Bubuia", de Céu, com uma câmera inquieta apontando as personagens que protagonizarão o brinde festeiro de comunhão. Entre um desfoque e outro, percebemos que, no fundo, dentro da cena nada além de trocas de olhares e sorrisos acontece – aparentemente estamos diante de uma rápida introdução, que nos recepciona com leveza para dentro da diegese do filme.

A partir daí, não sairemos mais do mesmo espaço – o apartamento que abriga a festa da virada do ano. Existe nessa premissa um tanto básica, ao menos, uma oportunidade interessante de trabalhar os espaços, pela restrição imposta. Mas o que vemos é uma decupagem instável, sempre à procura do corpo à margem do núcleo ativo da imagem. Como quase sempre, temos três, quatro, cinco atores em cena de uma só vez, o assunto se desdobrando, mas a câmera inconstante buscando algo de inesperado nessa suposta liberdade de ação. É como se o foco da conversa interessasse menos do que a reação de quem ouve. No fundo, o que fica translúcido nessa interação esquizofrênica é que existe um filme sem saber o que filmar.

E, dessa insurgência fílmica, a relação direta que se apreende é com o lugar comum do que sobra: o roteiro e sua conseqüente (falta de) afinidade entre personagens. Entre tantas frases de efeitos (sem efeitos), imagens de super-8 sensíveis (que mais parecem efeitos estanques de Final Cut), arquétipos desenxabidos e situações batidas; fica o consolo dos seus setenta minutos - mas não sem antes passar pela tentativa final de associação sentimental entre as meninas de Cavi Borges e Sabrina Rosa e as meninas de Chico Buarque.

Outubro de 2011

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