Eu
Sou Juani (Yo Soy La Juani), de Bigas Luna (Espanha,
2006) por Eduardo Valente Velha
imagem jovem
Para quem por acaso não soubesse do que
trata este novo filme de Bigas Luna, os créditos com seus efeitos visuais, fontes
e design modernos ao som de um hip hop espanhol claramente atual não deixam qualquer
dúvida: Luna vai falar do jovem de hoje. E isso é sim um dos temas mais interessantes
do momento, entre outros motivos porque parece claro que, numa época que se move
numa velocidade para além de todas as outras já vistas, cada vez menos dá para
sentir que existe uma real compreensão entre o jovem atual e aquele que o tenta
retratar. Na
primeira parte do filme percebemos um desejo de Luna de olhar de frente estes
jovens de uma pequena cidade proletária espanhola: ao mesmo tempo em que ele parece
extremamente atento aos signos e “miscelânea” da atualidade (e dá-lhe piercings,
ipods, videogame, celulares, sms), ele também tenta olhar mais fundo, em busca
de determinados padrões de comportamento e desejo comuns ao jovem de hoje (o que
implica numa generalização, é claro, mas também não deixamos de perceber a “verdade”
desse retrato geral). Mas o principal foco de interesse é que Luna parece menos
preocupado neste começo em “rotular” ou “julgar” o comportamento deste grupo de
personagens do que em realmente observá-lo, retratá-lo, dialogar com ele. De fato,
a sensação é de estarmos assistindo uma versão socialmente consciente de um Velozes
e Furiosos, onde (o que é óbvio, em se tratando de Bigas Luna) o sexo é bem
mais do que apenas sugerido. No
entanto, na medida em que vai sentindo necessidade de urdir a sua trama ficcional,
em dar um andamento dramático aos personagens, Bigas Luna começa a meter os pés
pelas mãos – e, principalmente, começa a cair num emaranhado e tanto de clichês
de dramas juvenis desde sempre. Assim, na medida em que descobrimos a situação
difícil dos pais de Juani (a protagonista), ou quando ela começa a ter seus entreveros
enciumados com seu namorado, ou ainda quando ela foge com a amiga para Madrid
e começa a enfrentar as “dificuldades da vida”, o filme vai caindo mais e mais
no comum. O que era retrato atento no começo passa a utilizar mais e mais uma
lógica videoclípica, onde a imagem possui tão somente o seu valor mais
óbvio de significação, e alguns poucos momentos de respiro não conseguem fazer
com que o filme realmente longe. Ao final, ficamos com a
impressão de ter assistido tão somente um piloto de minisérie televisiva, com
a mesma lógica de apresentação dos personagens e depois de desenvolvimento narrativo
banal, com teor de introdução ao entrecho que realmente virá depois. E não é de
se duvidar que seja este o jogo de Luna – seja a continuar na TV, na internet
ou no cinema mesmo. Mas, como a nós só se deu a ver este produto como filme no
cinema, a sensação é mesmo de grande incompletude. Outubro
de 2007 editoria@revistacinetica.com.br
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