cartas
dos leitores Debatendo a cegueira
Oi, Como fã de Saramago e enquanto
brasileiro morando na França, é com certa ansiedade que aguardo a exibição de
Ensaio Sobre a Cegueira nos cinemas daqui. Desde Cannes, devoro todos os
textos que encontro sobre esse filme, de modo que acabei criando um certo imaginário
pessoal sobre um filme que nunca vi. Acho interessante ter
visto que a maioria dos críticos bons que sempre leio mostram uma certa dificuldade
em comentá-lo: embora todos concordem com o resultado fraco, ouço muito "Meirelles
não consegue tirar o melhor do gênero", "as metáforas são banais",
mas sem que me expliquem porque ele não consegue tirar o necessário; ou em que
aspecto as metáforas são banais. Li muito sobre as sensações dos críticos, que
foram curiosamente pouco exemplificadas ou destrinchadas (sem que se questione
como ele suscita tais sensações). Fico contente, por isso,
de ler todos os pontos de vista juntos sobre o mesmo
filme. Embora no final eu acabe confundindo um pouco as idéias de cada um
(no final, me desculpem, mas eu seria incapaz de separá-las, retendo no fim "a
visão da Cinética", como algo uno), e embora apareçam ainda alguns desses
comentários "sensoriais", o conjunto serviu para esclarecer um pouco
dos artifícios usados no filme. Obrigado, portanto, pelas
citações ao cachorro, à fotografia branca e à alternância de foco, aos recursos
típicos do Meirelles e demais explicações. Obrigado por aprofundar a discussão.
Agora aguardo, com ainda mais ansiedade, minha própria experiência frente à Cegueira. Abraços, Bruno
Carmelo * * * Obrigado pela carta, e
ficamos felizes que o debate interno tenha sido do teu interesse. Queria só dizer
que acho que mesmo que ao final você não leve uma impressão clara, como você disse,
sobre as especificidades de olhar de cada redator, ter a sua leitura de uma “visão
única” da revista sobre um filme a partir de uma série de visões diferentes ainda
assim nos parece que será mais “justo” (no sentido de “de acordo”) com o que a
revista como um todo tem pensado sobre o filme do que em apenas um texto. Não
é um modelo a ser usado o tempo todo sobre cada filme, porque impede também o
aprofundamento de cada crítico, que é sempre desejável, mas achamos que em filmes
como este, que suscitam um interesse e debate interno de maior grau, é algo que
vale a pena fazer. Um abraço Eduardo editor Setembro
de 2008
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