O editorial que entra no ar no mês de outubro sempre tem o peso de um cansaço misturado com a necessidade do recarregamento de energia, pois ele nos encontra no meio do caminho entre o Festival do Rio e a Mostra de SP. Estes são eventos que, se significam um momento nobre do ano para qualquer crítico ou cinéfilo que se preze, com a alegria vivida nas salas (e fora delas, em torno dos filmes), também marcam as semanas de trabalho mais incessante por aqui – trabalho este que só é grande, também, porque a expectativa (e o acesso) dos leitores é maior ainda.

Sabemos que não temos na Cinética uma numerosa equipe de redatores com o perfil de uma dedicação quase total a estes eventos como é o caso da Contracampo ou da Cinequanon, para falarmos dos nossos colegas de trabalho (e de mesa de bar e de prêmio Jairo Ferreira, e de... etc) – inclusive, contamos que nossos leitores também acompanhem a cobertura deles como forma de ter acesso a algumas informações de que não consigamos dar conta. Por aqui, cobrimos o Festival do Rio com apenas três redatores, de fato (além de algumas participações especiais eventuais) – o que nos deixa bastante orgulhosos de, mesmo desta maneira, termos conseguido dar resposta a 63 filmes da programação.

Trata-se mesmo de uma opção ao escolhermos o perfil dos nossos colegas de redação – cuja variedade de interesses dentro do universo do cinema os faziam estar, durante o Festival do Rio, às voltas com a finalização de três filmes (dois curtas, um longa – breve nos cinemas!), o começo da pré-produção de mais dois longas, a curadoria de uma mostra de cinema em Belo Horizonte (que acontece em duas semanas, e voltaremos a destacar aqui), além da finalização de ao menos três teses de doutorado e a preparação de uma mesa de discussão com quatro comunicações (a ser apresentada ainda esta semana na Socine, o encontro dos pesquisadores e críticos de cinema, que acontece na PUC-Rio e da qual também trataremos nas semanas seguintes).

É por isso que, em sua cobertura, a Cinética faz algumas opções importantes: primeiro, sabendo que somos incapazes de cobrir a totalidade (e mesmo a maior parte) de eventos como estes, nos focamos radicalmente em alguns pontos fundamentais, dando prioridade sempre aos filmes que consideramos os mais importantes e uma atenção especial ao cinema brasileiro (no Festival do Rio escrevemos sobre todos os filmes da competição de ficção e da seção Novos Rumos da Première Brasil, além de boa parte dos documentários e filmes fora de competição). Em segundo lugar, há um esforço constante para manter um contato direto com o leitor, atualizando diariamente nosso espaço com dicas sobre a programação, que sabemos (inclusive pelas manifestações dos leitores) ser uma fonte importante de informações para ele.

Neste ano de 2007, porém, uma nova fonte de troca de informações com o leitor surgiu com considerável força: ficamos muito felizes de ver nossa comunidade no orkut ter funcionado como o autêntico fórum diário de debates e trocas de idéias que sempre a imaginamos ser – e onde se colocaram lado a lado os redatores (daqui, mas também de outros sites) e os leitores (vários deles amigos, mas outros também desconhecidos de nós pessoalmente). Lá pudemos não só trocar dicas e impressões ligeiras, como algumas informações bem relevantes, no que se configura como um complemento precioso do nosso trabalho – que, até por motivos práticos, não tínhamos como hospedar dentro da revista.

E este contato, inclusive e para nossa alegre surpresa, já rende frutos diretos para a revista: a partir da comunidade, acabamos “recrutando” dois novos redatores cinéticos que fazem sua estréia por estas páginas nas próximas semanas (um deles inclusive já participará da cobertura da Mostra). O que só serve para comprovar aquilo que sempre soubemos, ao criar a revista num esforço coletivo bastante amplo: é bem mais fácil trabalhar em comunidade do que sozinhos.

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Uma nota deve ser feita, enquanto abrimos os trabalhos na cobertura da Mostra de SP de 2007: o leitor que acompanha a Cinética sabe que no ano passado nossa cobertura foi, infelizmente, marcada tanto pelos filmes quanto pela discussão em torno dos critérios de credenciamento utilizados pela organização do evento, que nos excluiu dos veículos com acesso direto aos filmes do mesmo, nos obrigando a condições de trabalho no mínimo bem complicadas. Pois bem, até por uma questão de honestidade com este leitor que nos acompanhou (e deu força), assim como os vários membros do meio cinematográfico que manifestaram seu apoio, cabe informar que, em 2007, a organização da Mostra está credenciando oficialmente dois redatores da Cinética para a cobertura do evento (Francis Vogner dos Reis e Paulo Santos Lima).

Não achamos ser caso de agradecer à Mostra pelo credenciamento em si – uma vez que, pelos motivos já expostos no ano passado (como se pode ler no link acima), achamos que assim ela simplesmente cumpre com suas obrigações (como nós cumprimos com as nossas) frente ao leitor/frequentador da Mostra e ao meio cinematográfico como um todo. Mas é sim caso de registrarmos o fato, inclusive porque, até pela movimentação que optamos por realizar no ano passado, seria fácil os responsáveis pelo evento optarem por uma postura “retaliadora” ou no mínimo “avestruzística” (enfiando a cabeça no buraco, e fingindo que não era com eles). Por constatarmos que não se colocaram nestas posturas (muito comuns, afinal, no nosso dia a dia), aí sim, mais do que agradecidos, ficamos é aliviados.

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