Agitações de ano novo por
Cléber Eduardo, Eduardo Valente e Leonardo Mecchi O
ano começou agitado em Cinética. Passamos, logo nesse início de 2009, por mudanças
de configuração na composição da revista, com uma diminuição da equipe de redatores
simultânea à ampliação da de colaboradores. Pareceu-nos claro que, com quase três
anos de existência, Cinética necessitava, além de muito discutir (sem desejo
de concluir ou limitar) seus objetivos com a crítica e os métodos
para chegar a eles, desta mudança prática que ajusta a dinâmica interna
e deseja injetar ânimo novo na equipe. O principal, porém, será
que os resultados possam se fazer notar na prática, pois afinal é sempre nela
que se afirma de fato uma política. Agitado também foram
os dias de exibição e discussão na 12 Mostra de Tiradentes, evento que ocupou
boa parte de nossa equipe, seja na cobertura na revista (que se complementa
agora com um texto sobre os curtas),
seja exercendo funções práticas no evento ou em filmes ali exibidos. Na tela e
nos debates, os personagens estiveram em questão. Destacou-se a procura da pessoa,
e não do personagem, nas ficções; e do personagem, e não da pessoa, no documentário.
Em uns e outros, os personagens, mais distantes da carga da representatividade
e de simbolismos, procuram a autonomia – como se existissem mais em função de
seus espaços diretos e menos para atender uma visão dos realizadores. Caminho
e questão para o cinema brasileiro de 2009? Como Tiradentes se coloca neste limite
entre abrir o ano novo e refletir a partir do anterior, esta resposta só os meses
seguintes trarão. O ano começou agitado também em nossas
discussões internas sobre alguns dos filmes lançados neste começo de 2009 (ainda
que o calendário comercial, tomado pela chamada “safra do Oscar” tenha no geral
sido bastante desanimador nestes meses – desânimo que se refletiu na demora da
resposta da revista à maioria dos filmes). No entanto, as exceções foram marcantes,
sendo que o primeiro a mobilizar parte da redação em debates e textos foi A
Troca, de Clint Eastwood (como tem acontecido a cada novo lançamento do “vovô”).
Ainda mais intensa, e bastante surpreendente, foi a mobilização por O Lutador,
de Darren Aronofsky – surpreendente porque o índice de rejeição ao cineasta era
considerável na redação. Enquanto quase duvidávamos que O Lutador pudesse
ser fruto do mesmo diretor de Réquiem para um Sonho (como se tivessem desintoxicado
o sujeito de seu vício em cortes excessivos para olhar Mickey Rourke), mostramos
enorme desinteresse em/ao ver O Curioso Caso de Benjamin Button, de David
Fincher – diretor cujo filme anterior, Zodiaco, esteve na lista de melhores
no seu ano segundo mais de um redator da revista. Os textos colocados no ar e
as reações internas a Aronofsky e Fincher nos lembram mais uma vez como assinaturas
definitivamente não são códigos genéticos. Leia
também nossos editoriais anteriores.
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