na agenda
Outubro/Novembro 2008

Com o crescimento vertiginoso da produção proporcionado pela tecnologia digital, uma questão precisa começar a ser colocada: as tradicionais salas de cinema devem ser o destino final e prioritário de toda essa produção? Essa questão será discutida, a partir de diferentes enfoques, em dois eventos que ocorrem esta semana. Na Mostra CineBH¸ que acontece até o dia 05 de novembro na capital mineira e cuja temática deste ano é a produção independente, uma mesa intitulada “Novas Mídias” irá discutir justamente como as novas tecnologias, além de viabilizarem o aumento na produção propriamente dita, possibilitam também alternativas para a distribuição e acesso a tais obras. Concomitantemente, acontece em São Paulo, no Itaú Cultural, o evento internacional Cinema Sim, que tratará da inserção do audiovisual em espaços distintos ao da sala de cinema, como o circuito de museus, galerias, mostras de arte contemporânea e centros dedicados à artemídia. Haverá uma mostra de filmes e vídeos experimentais de 18 a 23 de novembro, além de seminários que irão até dia 1º de novembro, onde se discutirão temas como a relação do cinema com as artes visuais e as novas narrativas desse “cinema-instalação”. Participam do seminário convidados nacionais e internacionais, como Dominique Païni (curador do Centro Pompidou em Paris), André Parente (artista e pesquisador de novas mídias  e tecnologia da comunicação) e Raymond Bellour (fundador da revista de cinema Traffic). Trata-se de uma discussão que está apenas começando, mas que estará cada dia mais em pauta. (Leonardo Mecchi)

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Com o término da temporada de festivais o cinéfilo fica mais livre para voltar a acompanhar as tradicionais mostras que ocorrem periodicamente nas grandes cidades. Não que a programação desses eventos tenha parado nesses dois últimos meses (e as mostras sobre Murneau e a nouvelle vague indiana, anunciadas abaixo, são um ótimo exemplo disso), mas trata-se de uma concorrência desleal com o Festival do Rio e a Mostra de São Paulo. Mas, o que resta a ser visto do cinema contemporâneo após esses dois eventos? – pode se perguntar o leitor. Duas mostras que se iniciam nessa próxima semana em São Paulo respondem a essa questão.

Para aqueles que, como nós, ficaram impressionados com Aquele Querido Mês de Agosto, de Miguel Gomes, a Cinemateca Brasileira oferece, de 05 a 09 de novembro, o Ciclo de Cinema Português, que contará com sete filmes portugueses contemporâneos, produzidos entre o final da década de 90 e o início dos anos 2000. O destaque principal fica por conta de Ossos (Melhor Fotografia no Festival de Veneza em 1997), de Pedro Costa, que se destacou definitivamente no Brasil com a exibição de Juventude em Marcha na última Mostra de São Paulo. Além do inevitável Manoel de Oliveira, que estará no ciclo com Non, ou a Vã Glória de Mandar, completam a programação filmes de João Botelho, José Nascimento, Luís Filipe Rocha, Mário Barroso (fotógrafo de Manoel e João Cesar Monteiro que estréia em longa) e Fernando Lopes.

Já o Indie – Mostra de Cinema Mundial chega pelo segundo ano a São Paulo de 06 a 12 de novembro, com a exibição de 40 filmes no CineSesc. A mostra mineira trará uma retrospectiva do cineasta japonês Koji Wakamatsu, praticamente desconhecido no país, e alguns destaques que passaram por Cannes nos últimos anos e não foram programados pelo Festival do Rio ou pela Mostra de São Paulo, como Ça Brule, de Claire Simon, e Tout est Pardonné, de Mia Hansen-Love. A conferir. (Leonardo Mecchi)

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Que a Índia é um dos países com maior produção audiovisual do mundo é fato amplamente conhecido. Agora, como essa avalanche de filmes populares vindos de Bollywood impacta em uma possível produção mais autoral indiana é tema pouco discutido, principalmente pela dificuldade de acesso a tais filmes. Parte dessa lacuna poderá ser suprida pela mostra Nouvelle Vague Indiana, que ocupará o CCBB-SP de 21 de outubro a 02 de novembro e de 11 a 23 de novembro vai ao Rio. O foco principal da mostra é a produção indiana que, como em tantos outros países do mundo, floresceu entre as décadas de 60 e 70 retratando os problemas sociais das camadas mais baixas da população, quebrando dessa forma as convenções do cinema popular da Índia. Com curadoria de Gisella Cardoso, a mostra traçará um panorama dessa produção – incluindo alguns filmes que abriram caminho para essa nouvelle vague e outros realizados pelos mesmos diretores após esse período – através da exibição de 20 títulos (quase todos inéditos no Brasil e apenas 4 exibidos em DVD) e da realização de dois debates sobre os filmes e seu impacto no cenário audiovisual da Índia. A lamentar apenas a sua realização, em São Paulo, simultaneamente à Mostra, o que dificultará bastante a freqüência do público cinéfilo. (Leonardo Mecchi)

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Já na linha das efemérides, o CCBB-RJ hospeda, de 29 de outubro a 09 de novembro, a mostra Poemas Visionários – O Cinema de F. W. Murnau, em comemoração aos 120 anos de nascimento do cineasta alemão. A mostra – com curadoria de Arndt Roskens e Cristiano Terto e que passará também por Brasília (4 a 16 de novembro) e São Paulo (19 a 30 de novembro) – mescla clássicos do mestre expressionista como Nosferatu, Fausto, A última gargalhada e Aurora com filmes menos exibidos no Brasil, caso de Terra em chamas, Fantasma (único a ser exibido em DVD) e As finanças do Grão-Duque. Serão exibidos todos os 12 filmes ainda preservados de Murnau, o que torna a mostra uma oportunidade rara de acesso a tais filmes, ao mesmo tempo em que se lamenta a perda dos outros 9 títulos que completariam a filmografia do diretor. (Leonardo Mecchi)



Setembro 2008

Depois de passar por Brasília, a mostra Oriente Desconhecido chega aos CCBBs de Rio de Janeiro e São Paulo entre os dias 23 de setembro e 5 de outubro. A mostra traz doze longas dirigidos por seis diretores de origem asiática (de cinco países diferentes), entre eles alguns nomes centrais no cinema mundial contemporâneo, como Hou Hsiao-hsien, Apichatpong Weerasethakul ou Jia Zhang-ke (e outros nem tanto assim, como Kim Ki-duk ou Pen-ek Ratanaruang). A bem da verdade, é preciso notar também que, embora nenhum dos filmes tenha sido lançado comercialmente no Brasil, é um pouco de exagero chamá-los de "desconhecidos", uma vez que o espectador assíduo do Festival do Rio e/ou da Mostra de SP (que, afinal, acaba sendo o mesmo espectador-alvo desta mostra) teve a chance de ver oito dos doze filmes em anos anteriores - o que faz pensar tanto que "pouco vistos" seria mais exato que "desconhecidos" para classificá-los, como que fica o desejo de ver filmes de tantos e tantos cineastas asiáticos estes sim completamente desconhecidos no Brasil ainda hoje. E, embora a chance de ver (ou rever) alguns destes filmes em película (só 3 dos 12 filmes serão projetados em DVD) precise ser efusivamente celebrada sempre, é preciso lamentar ainda que o timing da realização da mostra imponha uma superposição de datas com o Festival do Rio - o que, certamente, dificultará bastante a realização plena do desejo de que estes filmes e cineastas se tornem menos desconhecidos (ou mais vistos) por aqui. (Eduardo Valente)

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Entre 16 de setembro e 5 de outubro, a mostra dedicada a Alain Resnais, comentada aqui embaixo, e que já fez a alegria de cariocas e paulistanos, estará na sua última parada no Brasil, passando pelo CCBB de Brasília. Imperdível é pouco.

Agosto 2008

Há muito tempo se fazia necessária uma retrospectiva completa de Alain Resnais, porque, como é de costume, existe a necessidade de rever a obra daqueles cineastas que, vez ou outra, foram considerados fundamentais. Se Alain Resnais é um deles, é justamente porque nos últimos cinquenta anos foi ele foi o cineasta que deu maior relevo a questões centrais no cinema moderno como o tempo e a História. Apesar da discussão acerca de Resnais muita vezes ter se limitado a labirintos teóricos tão tortuosos quando Marienbad, uma retrospectiva como essa dá vazão a outras a características definitivas de Resnais, que certamente se prestam hoje a diálogos mais produtivos: seu cinema é onde converge tudo que veio antes dele – a pintura, o teatro, a prosa (a moderna, mas não só), a arquitetura – e inaugura uma nova relação da imagem não só com a realidade, mas com toda uma variedade de imagens da modernidade.

Por isso é com enorme alegria que recebemos a retrospectiva Alain Resnais - Revolução Discreta da Memória, que começa nesta terça (19 de agosto) no CCBB-RJ (e depois segue para São Paulo e Brasília, conforme programação que pode ser acessada neste site), e reúne todos os seus filmes, desde os curtas sobre artes plásticas, passando pelo seu período mais famoso na virada da década de 50, chegando até a serenidade de seus últimos trabalhos. Como se isso fosse pouco, haverá ainda debates, um catálogo com algumas raridades e textos inéditos, cursos (além do cuidado essencial da organização, a cargo das mesmas pessoas que trouxeram há dois anos a ótima mostra dedicada a Agnès Varda, de trazer os filmes em cópias 35mm, muitas delas novinhas). A retrospectiva é, portanto, a oportunidade de ver o alcance da obra de Resnais no cinema contemporâneo e compreender que suas questões podem ir além do que Deleuze escreveu sobre ele. (Francis Vogner dos Reis)

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Acontece na Cinemateca Brasileira, entre os dias 08 a 17 de agosto, a II Jornada Brasileira de Cinema Silencioso. Evento inspirado na Giornate del Cinema Muto de Pordenone, a mostra traz clássicos do período silencioso com acompanhamento ao vivo, tentando assim remontar o que era o espetáculo cinematográfico no início do século. A curadoria musical do músico Livio Tragtenberg, que participa novamente do evento, garante que as obras serão recriadas com um olhar contemporâneo, mas é inegável o caráter histórico do projeto. Por histórico aqui podemos entender não somente a raridade de vários dos filmes – Pele Vermelha, filme de 1928 com imagens coloridas pelo processo Technicolor; Solidão, também de 1928, com três cenas faladas, símbolo da transição do silencioso para o sonoro; clássicos do cinema silencioso japonês, dentro outros – mas também pela atenção dada à ampliação do que foi o cinema, nas suas mais diversas esferas, durante o período silencioso.

Isso inclui uma mostra especial com debate sobre a o legado da revista brasileira Chaplin Club e uma mesa sobre Casas de Espetáculo em São Paulo no início do século XX . Entender o passado também passa pela compreensão da importância fundamental de se preservar os filmes e da existência e manutenção das Cinematecas no mundo todo. Por isso o projeto conta com uma conferência sobre restauração e com o apoio de diversas cinematecas internacionais. Paolo Cherchi Usai, curador e estudioso do cinema silencioso, cancelou sua presença na última hora, mas o seu texto “Duas ou três coisas que sei do cinema silencioso” tenta ampliar o que poderia ser somente uma paixão de historiador. Existe muito de história na Jornada, mas a força dos filmes também deve surpreender. (Lila Foster)

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Excetuando-se alguns dos mais recentes filmes de Manoel de Oliveira, que eventualmente acabaram entrando em cartaz aqui no Brasil, ou filmes como A Comédia de Deus, há mais de dez anos, ou o recente Dot.com, são raras as oportunidades do público brasileiro tomar contato com a produção audiovisual portuguesa, o que acontece apenas sazonalmente nos festivais. Tanto é assim que poucos sabem que, a exemplo da Nouvelle Vague francesa, do Free Cinema britânico, do Novo Cinema Alemão e do Cinema Novo brasileiro, Portugal também teve sua geração de jovens cineastas em busca de uma nova linguagem na década de 60.

É para cobrir essa lacuna que o CCBB-SP programou, de 30 de julho a 17 de agosto a mostra Os Verdes Anos do Cinema Português. Sob a curadoria da cinequanônica/paisática Liciane Mamede, ela traz 16 títulos desse Cinema Novo português, realizados 1963 e 1978, a maioria inédita no Brasil. Além dos incontornáveis Manoel de Oliveira e João César Monteiro, a mostra exibirá filmes como Os Verdes Anos (1963), de Paulo Rocha – considerado por muitos como o marco inicial desse Cinema Novo português – e O Cerco (1970), de Antônio da Cunha Telles, exibido em Cannes. A conferir. (Leonardo Mecchi)

Julho 2008

Logo que começamos esta agenda eu mesmo havia dito aqui que sempre devíamos desconfiar de mostras retrospectivas de atores, já que estas não necessariamente compunham um conjunto minimamente interessante de obras simplesmente por unir os trabalhos de um deles – isso porque muitos atores compõem uma obra absolutamente desinteressante como corpo de trabalho. No entanto, não é o caso da mostra que ocupa o CCBB do Rio entre 22 de julho e 3 de agosto: José Dumont – O Homem que Virou Cinema. E o motivo para isso é simples, e está exposto no título da mostra: Dumont é um ator cuja presença no imaginário coletivo tem muito mais a ver com o cinema do que com qualquer outro meio de expressão – sempre um caso raro no cinema brasileiro tão carente de imaginário próprio.

Começando por Morte e Vida Severina, de 1977, a mostra atravessa 30 anos de cinema nacional através de 20 títulos em longa-metragem da carreira do ator (que já trabalhou no total de 44 filmes!!). Acompanhar a mostra significa ir de Zelito Viana a Lírio Ferreira, de Sérgio Rezende a Sérgio Machado, de Arnaldo Jabor a Eliane Caffé, passando por nomes e filmes consagrados como Walter Salles e Dois Filhos de Francisco chegando a nomes e filmes pouco lembrados como Denoy de Oliveira ou Tigipió, de pequenos filmes como Minas Texas, de Carlos Prates, a co-produções internacionais como Brincando nos Campos do Senhor, de Babenco; de filmes de enorme cunho sócio-político como Memórias do Cárcere ou O Homem que Virou Suco ao religioso-comercial Maria – Mãe do Filho de Deus, de Moacyr Góes. Acompanhar essa carreira, portanto, é ter a chance de ver as várias caras que o cinema brasileiro tentou ter ao longo destes 30 anos, todas impressas no rosto deste mesmo (grande) ator. (Eduardo Valente)

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O Ciclo José Agrippino de Paula ocorre no Centro Cultural São Paulo de 22 a 27 de julho. Falecido no ano passado, suas obras mais famosas foram o livro “PanAmérica”, que ajudou a criar as bases do Tropicalismo, e o longa Hitler 3º Mundo, realizado em 16mm em 1969. A mostra trará, além desse filme, outros experimentos poéticos de Agrippino realizados em Super-8, como Candomblé no Togó (1972), Céu Sobre Água (1978), Maria Esther – Danças (1978) e Candomblé no Dahomey (1978). (Leonardo Mecchi)

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Por vezes a oportunidade de ver filmes interessantes surge nos recortes mais inusitados. É o caso da mostra Cinema e Vida Selvagem, que a Cinemateca programou de 15 de julho a 02 de agosto para acompanhar a mostra de fotografias “Olhares em Busca de um Mundo Sustentável”. É o caso de se passar longe de obviedades (mais ou menos felizes) como Happy Feet – O Pingüim, Migração Alada e A Marcha dos Pingüins e escavar pequenas raridades como Amazonas, Amazonas, curta feito por encomenda por Glauber Rocha em 1966, A Caça ao Leão com Arco, documentário de Jean Rouch realizado em 1965, e Sinfonia Amazônica, de Anélio Latini Filho, considerado o primeiro longa-metragem animado realizado no Brasil.

O mesmo ocorre com a mostra O Circo Chegou!, que ocorre no Cine Olido de 1º a 12 de julho, paralelamente à exposição de fotografias “Largo do Paissandu, onde o circo se encontra”. O tema circense é mote para a exibição de clássicos como Os Palhaços e A Estrada da Vida, de Federico Fellini, dos homônimos O Circo (o de Charles Chaplin e o de Arnaldo Jabor), de Noites de Circo de Ingmar Bergman e O Maior Espetáculo da Terra, de Cecil B. DeMille. A destacar também O Profeta da Fome, de Maurice Capovilla. (Leonardo Mecchi)

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Apenas para confirmar o acerto da criação de duas novas salas de bairro da prefeitura de São Paulo, vinculadas às bibliotecas públicas Roberto Santos e Viriato Corrêa e sobre as quais tratei aqui mês passado, a programação do mês de julho delas levará aos seus freqüentadores de clássicos de Frank Capra, Buster Keaton, Charles Chaplin, Woody Allen, Ingmar Bergman, Valrio Zurlini e Jacques Tati a filmes recentes como O Filho da Noiva, de Juan José Campanella, Amor à Flor da Pele, de Wong Kar Wai, e Amnésia, de Christopher Nolan, passando por brasileiros como O Cangaceiro, de Lima Barreto, e A Marvada Carne, de André Klotzel (o primeiro filme nacional visto no cinema por este que vos escreve, aos 8 anos). Este último terá debate com o diretor após a sessão. Se não há nenhuma novidade para o público cinéfilo acostumado às mostras e ao circuito de arte das capitais brasileiras, muitos espectadores dos bairros atendidos por essas bibliotecas terão acesso a tais filmes pela primeira vez (lembrando que são todas sessões gratuitas). Com isso, permite-se a criação (ou recuperação), aos poucos, do hábito de se ir ao cinema e, quiçá, a formação de um novo público para esse tipo de cinema. (Leonardo Mecchi)

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Na linha “filme bom nunca é demais”, a Sessão Cinéfila do Espaço Unibanco de São Paulo exibe, nos sábados do mês de julho, sempre ao meio-dia, quatro filmes de Manoel de Oliveira: Vou Para Casa (2001), Palavra e Utopia (2000), Um Filme Falado (2003) e Non ou a Vã Glória de Mandar (1990). (Leonardo Mecchi)

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Depois de ter passado pelo Rio, a mostra A Mulher do Bandido chega a São Paulo no CineSesc. De 14 a 17 de julho o público paulistano terá a oportunidade de rever os filmes que tornaram Helena Ignez uma das maiores musas do cinema brasileiro, como A Mulher de Todos e Copacabana Mon Amour, de Rogério Sganzerla, Cara a Cara e Cuidado Madame, de Julio Bressane, O Padre e a Moça, de Joaquim Pedro de Andrade e O Assalto ao Trem Pagador, de Roberto Farias. Para os leitores da Cinética, fica ainda o atrativo extra da primeira exibição em terras paulistas do curta Almas Passantes, com participação da homenageada e direção dos cinéticos Cléber Eduardo e Ilana Feldman. O curta abre a sessão para A Mulher de Todos na quinta, dia 17, às 21h. (Leonardo Mecchi)

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A Cinemateca Brasileira inicia sua programação de julho com pequenos ciclos dedicados a dois grandes cineastas franceses – um excelente complemento ao Panorama do Cinema Francês, que aconteceu até o último dia 26 em SP e RJ. O primeiro será dedicado a Robert Bresson, um dos mestres maiores do cinema francês, de quem serão exibidos os quatro filmes produzidos entre 1959 e 1967, período que contempla clássicos como Pickpocket, O Processo de Joana d’Arc, A Grande Testemunha e Mouchette, A Virgem Possuída. Já o segundo ciclo, mais interessante pela dificuldade de acesso a tais obras, será composto de apenas dois filmes de Philippe Garrel (diretor que, no Brasil, só veio a ser mais conhecido com o lançamento de Amantes Constantes no circuito comercial): Já Não Ouço a Guitarra (1991) – espécie de seqüência antecipada de Amantes Constantes, por retratar de certo modo a ressaca de Maio de 68 através de um ponto de vista autobiográfico do diretor – e O Nascimento do Amor (1993). Os dois ciclos ocuparão a Sala Petrobras de 01 a 06 de julho. (Leonardo Mecchi)

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Em um registro completamente diferente, começou no último dia 24 e se estenderá até o dia 06 de julho, nas salas do CCSP e CCBB-SP, a mostra Cultura Caipira, que busca entender como o universo caipira foi e é retratado pelo cinema brasileiro. Universo imediatamente associado aos filmes de Mazzaropi (que apenas na década de 70 realizou nove filmes que, juntos, levaram mais de 26 milhões de espectadores ao cinema), a cultura caipira parece continuar extremamente popular mesmo no século XXI, ao menos no que concerne a filmes como Dois Filhos de Francisco e Tapete Vermelho (que, se teve vida curta no circuito comercial das grandes cidades, foi e continua sendo um dos filmes mais exibidos em mostras e sessões em praça pública pelo interior do país, sempre com forte resposta do público).

A mostra exibirá de filmes raros do início dos anos 50 – como Comprador de Fazendas (1951), de Alberto Pieralisi, e Saci (1953), de Rodolfo Nanni – a produções contemporâneas como Cafundó, de Paulo Betti, e os já citados Dois Filhos de Francisco, de Breno Silveira, e Tapete Vermelho, de Luiz Alberto Pereira. Destacam-se também os incontornáveis Mazzaropis (Candinho, de 1953, Jeca Tatu, de 1959, As Aventuras de Pedro Malazartes, de 1960) e Meu Nome é Tonho, de Ozualdo Candeias. (Leonardo Mecchi)

 

Junho 2008

Na Caixa Cultural-RJ, depois de celebrar os 100 anos da morte de Machado de Assis com a mostra Memórias Cinematográficas de Machado de Assis, que exibiu 21 filmes (13 longas e 8 curtas) adaptados da obra do escritor, agora é a vez de celebrar outros 100 anos, os do nascimento de Guimarães Rosa, objeto da mostra Cinema: Veredas – os filmes a partir de Guimarães Rosa, que ocupa o espaço entre 24 de junho e 6 de julho. A mostra dá a chance de voltar a clássicos como A Hora e a Vez de Augusto Matraga e Deus e o Diabo na Terra do Sol (escolha bastante peculiar), mas também recupera páginas poucos vistas e importantes do cinema brasileiro (e mineiro, em particular) como a versão de Grande Sertão dos irmãos Santos Pereira e dois filmes do grande Carlos Alberto Prates Corrêa (Noites do Sertão e Cabaré Mineiro). (Eduardo Valente) 

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A união entre um dos principais cineclubes do Rio, o Tela Brasilis, e o mais forte evento de cinema latino-americano no Brasil, o Cinesul, resultará na possibilidade de descoberta de um novo cineasta. Novo não em idade, até porque está morto e seus filmes datam dos anos 60/70, mas novo de novidade. Nem mesmo os cinéfilos e críticos mais aplicados têm intimidade com Olney São Paulo. Figura de envergadura cultural e política altamente considerada por quem o conheceu ou acompanhou marcas de sua presença em vida, por outro lado, sua atividade cinematográfica nunca foi colocada no mesmo nível do interesse dedicado a outros filmes e diretores da época.

Ou melhor, das épocas. Porque o diretor começou nos anos 50 e atravessou os anos 60 e 70. Controversa figura cultural em Feira de Santana, sobretudo por conta de seu texto satírico em colunas de jornal, contos e novelas, tornou-se estudioso e reprodutor do linguajar nordestino, sobretudo do sertão.Sua estréia como diretor se dá em 1955 com Um Crime Na Feira, 16mm, rodado em plano sequência e montado com as paradas da câmera. Por meio de Nelson Pereira dos Santos, de quem foi assistente em Vidas Secas (1963), Olney se aproxima do Cinema Novo. Nesse espírito, faz O Grito da Terra (1964), longa realizado meses após o golpe militar e perseguido pela censura: um de seus diálogos faz menção ao Cavaleiro da Esperança (o comunista Luis Carlos Prestes). Manhã Cinzenta (1967) é ainda mais provocador por lidar com protestos de rua, como um documento de seu instantâneo histórico. Resultou em sua prisão e na caça ao filme, que, graças a amigos (sobretudo Cosme Alves Neto, da Cinemateca do Mam), pôde, apesar de proibido no Brasil, circular Europa afora. Além deste média de 67, que passa na Cinemateca do MAM nesta sexta, 27/6, às 18h30, o Cine Sul/Tela Brasilis exibe sete curtas realizados entre 1973 e 1976 na quinta, 26/6, no mesmo horário.

Não basta apenas ver esses filmes e levar em conta suas opções, procurando enquadrá-los nessa ou naquela vertente da história do cinema brasileiro. Além desse inicial trabalho de historicização e análise das formas e assuntos, também é preciso levar em conta a produção e a recepção. A construção de uma cultura cinematográfica responsável tem de pensar em todos os pilares desse processo de conhecimento crítico e apaixonado. Como foram feitos esses filmes? Com que financiamento? Com qual material? Onde foram exibidos? Como foram recebidos pela crítica? Todas essas perguntas só começam a fazer sentido quando os filmes vêm à tona e à tela? No entanto, quando se vê uma programação como essa dentro de um evento como esse, com tantas outras atrações, fica a pergunta: quem irá ver esses curtas? Será a melhor maneira de exibi-los? Não se trata, nem sequer de longe, de uma reprovação. É necessário trazer à luz sempre. Trata-se de um questionamento permanente: como trazer a luz sem ser ofuscado por holofotes vizinhos e sem parecer o quarto do fundo de um casarão? Feita a pergunta, cabe saudar a iniciativa do Tela Brasilis e do Cine Sul por permitir acesso aos curiosos de plantão, abrindo mais uma frente de conhecimento de momentos do nosso cinema ainda escondidos na sombra. Na pior das hipóteses, essas exibições estimulam visões menos direcionadas e redutoras para determinadas fases de nosso cinema, mostrando evidências de estilos e autores menos reconhecidos e reconhecíveis. (Cléber Eduardo)

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A prefeitura de São Paulo inaugura este mês, numa atitude a ser louvada e replicada, dois novos espaços dedicados ao cinema. A primeira é a Biblioteca Temática de Cinema, que será alocada, muito propriamente, na Biblioteca Pública Roberto Santos, batizada em homenagem ao diretor de O Grande Momento. Além da aquisição do acervo temático e de mobiliário, o investimento contempla também a aparelhagem e renovação da sala de exibição de 101 lugares existente no local, que abriga desde 1992 o Cineclube Ipiranga. O segundo espaço é a Sala Luiz Sérgio Person, mais nova sala de cinema da capital paulista, localizada na Biblioteca Pública Viriato Corrêa e também com 101 lugares.

Ações como essas são fundamentais para a tão sonhada formação de público para o cinema brasileiro, pois é através da descentralização e democratização do circuito exibidor – com acesso gratuito, em pequenas salas de bairro, a uma programação constante e de qualidade – que se criará uma nova geração cinéfila. Na inauguração da Sala Luiz Sérgio Person, dia 27 de junho, serão exibidos o curta L’Ottimista Sorridente, realizado por Person em 1963, quando ainda era aluno do Centro Sperimentale di Cinematografia em Roma, e Person, documentário sobre o diretor paulista dirigido por sua filha Marina Person. Nos dias seguintes entrará em cartaz São Paulo S/A, clássico maior do diretor. Já a programação de inauguração da nova Biblioteca Temática de Cinema, que acontecerá dia 14 de junho, exibirá os episódios dirigidos por Roberto Santos para os longa-metragens Contos Eróticos (1977) e As Cariocas (1966), seguido de debate com o jornalista Inimá Simões, autor do livro “Roberto Santos: a hora e a vez de um cineasta”. Na seqüência, de 20 a 29 de junho, será realizada a mostra 5 Vezes Roberto Santos, com a exibição de cinco filmes do diretor. (Leonardo Mecchi) 

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Ainda na linha das efemérides, a Cinemateca Brasileira dedica seu espaço, de 11 a 29 de junho, a duas mostras comemorativas do centenário da imigração japonesa: Cinema japonês hoje configura-se como uma retrospectiva com alguns filmes japoneses distribuídos no Brasil nos últimos 10 anos (incluindo obras de Takeshi Kitano, Kore-Eda, Shohei Imamura e Nagisa Oshima), enquanto Cinema japonês na Cinemateca exibirá duas obras da década de 90 em novas cópias 16 mm: O Céu Nunca Foi Tão Azul, de Akira Emoto, e De Que Lado Fica a Lua, de Ichi Saiyou. (Leonardo Mecchi)

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Os cariocas já estão acompanhando desde a última terça (27/05), e agora os paulistanos receberão a partir do dia 03/06 a fantástica mostra completa das obras de Robert Altman que o Centro Cultural Banco do Brasil recebe (a mostra vai ainda a Brasília). Para além das qualidades intrínsecas de vários dos filmes do diretor, e da possibilidade de acompanhar a totalidade de uma carreira tão longa e produtiva quanto a dele, o maior destaque vai mesmo para o trabalho impressionante da produção da mostra, que não se satisfez com exibições em DVD e correu atrás de cópias estrangeiras em película de quase todos os filmes exibidos (a mostra é ainda complementada pelos trabalhos para a TV e alguns documentários sobre a obra do diretor - além de debates em todas as cidades). É uma iniciativa cada vez mais rara entre as mostras brasileiras, que têm se acostumado a exibir filmes em cópias digitais nem sempre de boa qualidade (e o DVD nunca foi pensado como formato de exibição pública em tela grande, diga-se), ou se ater às poucas cópias em película existentes no Brasil (o que no caso de Altman significaria exibir apenas 4 dos seus 37 longas). O esforço quase insano feito pela produção desta mostra precisa, então, ser mais do que comemorado: é para se acompanhar de perto, curtindo cada chance única de ver os filmes de Altman em película. (Eduardo Valente)

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Desta vez o CinePUC (RJ) deixa de lado um pouco sua prospecção de realizadores pouco exibidos no Brasil em anos recentes, e faz um serviço mais próximo ao de um "cineclube tradicional", trazendo de forma organizada os trabalhos do americano Terence Malick, que mais recentemente nos apresentou o belo Novo Mundo e que só realizou três outros longas em mais de 30 anos de carreira. A programação prevê a exibição dos quatro filmes, sendo que pelo menos um deles (Terra de Ninguém) tem o atrativo da dificuldade de acesso, uma vez que a cópia existente no mercado brasileiro de DVD está no formato de imagem errado, e a cópia exibida será uma estrangeira - mas com legendas em português. (Eduardo Valente)

Maio 2008

Prossegue até 11 de maio a programação do RioFan - Festival de Cinema Fantástico do Rio de Janeiro, iniciada em alto estilo no último dia 30 de abril com a exibição de Diário dos Mortos, de George Romero - que além de dar prestígio ao festival estreante com a exibição de um dos papas do gênero, foi um evento duplamente inédito: foi a primeira, mas também provavelmente a última exibição do filme nos cinemas brasileiros, já que será lançado direto em DVD pela Imagem Filmes. A programação completa está recheada de atrações: nacionais e internacionais; em longa ou curta-metragem; com filmes contemporâneos e clássicos do gênero. Em destaque, a homenagem a Mojica que fechará a competição internacional e exibirá no Rio pela primeira vez em 35mm o trailer do novo filme do diretor (A Encarnação do Demônio), além como o recentemente terminado A Praga. Voltaremos ao festival em breve nos nossos Olhares (Eduardo Valente)

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Está sendo difícil não dar destaque mensal nesta página à programação do CinePUC, que segue mantendo o que já se torna uma tradição: a de permitir a exibição pública no Rio de Janeiro daqueles filmes e autores aos quais nosso circuito exibidor, e até mesmo a programação dos festivais, têm virado o rosto. Em maio, é chegada a vez da japonesa Naomi Kawase, cujos filmes pouco foram exibidos por aqui, e cujo nome chegou a atenção da maioria apenas com o recebimento do Grande Prêmio do Júri no último Festival de Cannes por Floresta dos Lamentos - que será exibido no Rio novamente, após ter passado no Festival do Rio. A programação prevê ainda outros três filmes anteriores da cineasta, exibidos sempre em DVD e com legendas em inglês - formato já estabelecido como o possível para a programação independente de ponta. (Eduardo Valente)

Abril 2008

Um dos curadores mais ativos de mostras de cinema no país, Eugênio Puppo levou o Prêmio Jairo Ferreira de 2007 pela retrospectiva de José Mojica Marins que organizou no CCBB-SP no ano passado. No entanto, mesmo com um trabalho extremamente cuidadoso de curadoria, descoberta de títulos raros e publicação de verdadeiros livros-catálogos, suas mostras pouco têm aparecido pelas bandas cariocas. A mais famosa delas, dedicada ao Cinema Marginal, só chegou aqui um bom tempo depois de ser realizada em SP, e as de Mojica ou Leila Diniz, por exemplo, continuam inéditas. Por isso, é uma grande notícia que a Caixa Cultural do Rio de Janeiro esteja exibido até o dia 20 de abril esta que é uma das grandes mostras que Puppo organizou em São Paulo: a retrospectiva completa de Ozualdo R. Candeias. Cineasta pouquíssimo conhecido até dos cinéfilos, Candeias (que faleceu no ano passado) foi de fato reapresentado ao público mais atento com as mostras de Puppo, sendo que esta retrospectiva impressiona pela abrangência, passando por todos os longas, médias e curtas do diretor, e englobando ainda trabalhos em vídeo e uma raríssima série para a TV. É uma chance incrível de conhecer uma das obras mais particulares (e apaixonantes) do cinema brasileiro. Valeu, Puppo! (Eduardo Valente)

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Há alguns meses, tratei en passant em um artigo aqui na Cinética sobre a importância histórica do sexo e da sexualidade no cinema brasileiro genuinamente popular (no sentido daquele capaz de atrair grandes públicos). A prova disso poderá ser conferida na retrospectiva Ody Fraga – O Gênio do Sexo, que ocupará a Cinemateca Brasileira de 02 a 27 de abril. Ody Fraga foi um dos mais prolíficos profissionais da Boca do Lixo, tendo assinado o roteiro de mais de 50 filmes e dirigido mais de 20. Era também um grande defensor da pornochanchada, e mesmo do cinema pornográfico, como manifestações capazes de retratar com precisão a cultura e sociedade brasileiras. Indo da comédia ao sexo explícito, passando pelo policial e o terror, os filmes de Ody Fraga (como muitos produzidos no final da década de 70 e início dos anos 80 na Boca) atraiam grande público aos cinemas do centro de São Paulo, com suas produções despretensiosa (embora se pudesse ver um toque autoral em muitos de seus filmes) e realizadas a toque de caixa.

A mostra da Cinemateca exibirá ao todo 33 filmes roteirizados ou dirigidos por Ody Fraga. Entre eles estão seus maiores sucessos de público, seja como diretor – A Noite das Taras (1980, 2.1 milhões de espectadores), Vidas Nuas (1967, 1.5 milhão) e Fome de Sexo (1981, 1.3 milhão) –, seja como roteirista – Mulher Mulher (1979, de Jean Garret, 1.5 milhão), Dezenove Mulheres e um Homem (1977, de David Cardoso, 1 milhão). Há também filmes realizados com outros grandes nomes da boca, como A. P. Galante (Bordel – Noites Proibidas), Antonio Meliande (Damas do Prazer), Ary Fernandes (Elas só Transam no Disco, A Fábrica de Camisinhas) e Carlos Reichenbach (Excitação, A Dama da Zona – que pegava carona no sucesso da Dama da Lotação, de Neville d’Almeida). Destaque também para o clássico da comédia de sexo explícito Senta no Meu, Que eu Entro da Tua. (Leonardo Mecchi)

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Depois de passar por São Paulo e Rio de Janeiro, agora é a vez do público brasiliense poder acompanhar, até o dia 13 de abril, no CCBB-DF, um dos finalistas a Melhor Mostra Audiovisual de 2007 do último Prêmio Jairo Ferreira – Alexander Kluge: O Quinto Ato. Embora pouco conhecido no Brasil, Alexander Kluge é um dos principais cineastas e pensadores europeus, tendo sido o diretor mais premiado da história do Festival de Veneza. A mostra, com curadoria da professora e pesquisadora Jane de Almeida, apresenta uma retrospectiva integral da obra de Kluge, incluindo todos os seus longas e curtas-metragens produzidos para cinema e TV. (Leonardo Mecchi)

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Atualizando a nota abaixo, vale lembrar que até 04 de abril prossegue a mostra dedicada a Hou Hsiao-hsien, na UFRJ. Já o CinePUC entra abril com mais uma sessão dedicada a Hong Sang-soo, para em seguida exibir na íntegra, entre os dias 8 e 29 de abril, História(s) do Cinema, a pièce de résistance de quase cinco horas de duração de Jean-Luc Godard. O CinePUC apresentará a obra como ela foi originalmente exibida na TV francesa: dividida em quatro segmentos, cada um composto de duas partes. Realizada originalmente para a TV entre 1988 e 1998, trata-se de um ensaio poético seminal sobre o cinema e sua relação com o século XX. (Leonardo Mecchi)


Fevereiro/Março 2008

Novos ventos sopram dos campi universitários cariocas. Na PUC, o CinePUC (que tem como um dos seus organizadores um dos cinéticos, Fábio Andrade – embora seja importante dizer que sua ligação com o cineclube seja bem anterior do que com a revista) reforça sua tradição de curadoria rigorosa (como se pode ver no blog do cineclube, onde há registro de toda sua trajetória) e entra no seu quarto ano de atividades com filmes de um cineasta pouquíssimo exibido no Brasil (mesmo em festivais), mas que é considerado central pelos principais festivais de cinema do mundo: o coreano Hong Sang-soo. Já a Escola de Comunicação da UFRJ, em parceria com o Fórum de Ciência e Cultura, realiza uma mostra (você pode ver a programação) dedicada ao taiwanês Hou Hsiao-hsien – por curiosidade, uma outra figura central do cinema mundial contemporâneo que tem sido completamente ignorado no “circuito de arte” do Brasil, com exibições apenas esporádicas nos festivais. Nos dois casos, as exibições são feitas em DVD – mas este é o menor dos problemas no que tange a possibilidade de conhecer os trabalhos destes dois diretores ainda obscuros por aqui. Na medida em que nosso circuito de arte (e seu público) encaretam progressivamente, é muito alvissareiro que as universidades dêem sinal de tomar novamente a frente na relação com o cinema contemporâneo “de ponta”. (Eduardo Valente)

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Robert Flaherty, tido como o primeiro documentarista em longa-metragem, todo mundo conhece. Mas poucos o conhecem para além de Nanook e, no máximo, O Homem de Aran. Por isso, torna-se extremamente interessante a oportunidade dada pela Cinemateca Brasileira para que os interessados possam se aprofundar na obra do diretor norte-americano. Parte da série de cursos "Uma História do Cinema na Cinemateca Brasileira", ministrada pelo professor e historiador Eduardo Morettin, o ciclo Robert Flaherty: Uma Trajetória se realizará de 04 de março a 29 de abril, sempreàas terças-feiras, com a exibição de 8 filmes do diretor - sempre antecedidos de uma contextualização histórica e teórica e seguidos de um debate - além de Tabu: A História dos Mares do Sul, realizado por F.W. Murnau, com argumento de Flaherty. O curso terá continuidade com a exibição de exemplares do movimento documentarista inglês (do qual Flaherty participou a partir da década de 30), onde o destaque fica por conta da exibição de dois curtas de Alberto Cavalcanti: Coal Face e Yellow Caesar. (Leonardo Mecchi)

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Depois de um longo silêncio, vamos tentar colocar em dia a seção Na Agenda, tendo em vista o amplo e representativo menu de mostras disponíveis ao leitor nas próximas semanas. A começar pela Sala Walter da Silveira, em Salvador, que dá continuidade a seus ciclos dedicados a grandes cineastas com a mostra Eterno Transgressor – O Cinema de João César Monteiro, que ocupa o espaço de 15 a 21 de fevereiro. Serão 15 títulos do mestre português, indo de clássicos como Recordações da Casa Amarela (1989) e As Bodas de Deus (1998), até filmes mais raros, ausentes inclusive da retrospectiva do diretor realizada pela Mostra de São Paulo 5 anos atrás, como os curtas Sophia de Mello Breyner Andresen (1969) e Quem Espera por Sapatos de Defunto Morre Descalço (1970) ou os longas Que Farei com Esta Espada (1975) e Fragmentos de um Filme Esmola (1972). É bem verdade que todos os filmes serão exibidos em DVD, mas em se tratando de um autor tão importante como Monteiro, pouquíssimo exibido no Brasil (ainda mais em uma metrópole cinematograficamente periférica), trata-se de uma obrigatória pedida para o leitor baiano. (Leonardo Mecchi)

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O mesmo espaço emenda, na seqüência, a mostra Jacquot, de Nantes - O Cinema de Jacques Demy, que vai de 22 a 28 de fevereiro. Trata-se de uma versão reduzida da mostra que passou pelo CCBB do Rio no início do mês e que agora ocupa, de 20 de fevereiro a 02 de março as duas salas da Cinemateca Brasileira, em São Paulo. A mostra exibe filmes já bastante rodados aqui no Brasil – como Os Guarda-Chuvas do Amor (1964) e Pele de Asno (1970), cuja cópia restaurada teve reestréia no circuito comercial há pouco tempo –, mas guarda espaço também para pequenas pérolas para o espectador mais atento, como Jacquot de Nantes (1991), recriação da infância de Demy realizada por Agnès Varda, e  Lola (1960), longa de estréia do diretor francês, com fotografia de Raoul Coutard e trilha de Michel Legrand (iniciando a parceria que se consolidaria quatro anos depois com Os Guarda-Chuvas do Amor). De novo, temos algumas exibições em DVD, mas as cópias novíssimas de Lola e Guarda-Chuvas já valem a mostra inteira. (Leonardo Mecchi)

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Já o CCBB-RJ hospeda de 19 de fevereiro a 09 de março, a sétima edição da Mostra do Filme Livre. Na vastíssima programação (que pode ser conferida no site oficial da Mostra), destaque especial para a Homenagem a Joel Pizzini, na qual serão exibidos os longas 500 Almas (2004) e Anabazys (2007, em sua primeira exibição no Rio), os documentários sobre Paulo José (Paulo José, um auto-retrato brasileiro, 2002), Jece Valadão (Evangelho Segundo Jece Valadão, 2001), Helena Ignez (Helena Zero, 2005) e Rogério Sganzerla (Elogio da Luz, 2004), além de outros exemplares de seu “cinema de poesia”, como o curta de estréia Caramujo-Flor (1988, Melhor Direção e Fotografia no Festival de Brasília) e Dormente (2005). (Leonardo Mecchi)

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No mesmo período, de 20 de fevereiro a 09 de março, a sala paulista do CCBB presta homenagem ao centenário da imigração japonesa no Brasil com a Mostra de Cinema Japonês – 100 anos de Japão no Brasil. A seleção, bastante eclética e ampla, ficou a cargo do cineasta André Sturm e contará com filmes de mestres como Ozu (Coral de Tóquio, Era uma vez em Tóquio), Oshima (Túmulo de Sol, Tabu), Mizoguchi (A Mùsica de Gion), Kurosawa (A Luta Solitária), Imamura (A Enguia) e Miyazaki (O Castelo Animado). (Leonardo Mecchi)

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Ficando ainda em terreno asiático, imperdível a mostra Tesouros da Cinemateca de Taiwan, que dividirá com a homenagem a Jacques Demy, de 27 de fevereiro a 09 de março, as salas da Cinemateca Brasileira. Com uma seleção enxuta de 8 títulos, exibidos em 35mm com legendas em espanhol e produzidos entre as décadas de 40 e 90, a mostra busca traçar um panorama geral do cinema realizado na China no período. Saltarão aos olhos dos cinéfilos a oportunidade de assistir Rebels of the Neon God, longa de estréia de Tsai Ming-liang, e The Sandwich Man, marco inicial do Novo Cinema Taiwanês, dirigido por Hou Hsiao-hsien, juntamente com Wan Ren e Zhuang Xiang Zeng. Mas vale a pena atentar também a Princess Iron Fan, primeiro longa de animação chinês, realizado pelos irmãos Wan, e Dragon Inn, um dos maiores clássicos do cinema de artes marciais chinês. Raridades como estas, em películas nas nossas telas, são imperdíveis! (Leonardo Mecchi)

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Saindo um pouco da seara das mostras em espaços consolidados de exibição, o Cineclube Equipe, cujas iniciativas já foram repercutidas por aqui, iniciou este mês suas atividades de 2008 com a sessão “Cinema de Vanguarda dos Anos 1920”, que exibiu curtas de Duchamp, Man Ray, René Clair e Luis Buñuel, seguidos de debate com o professor da FAAP João Guedes. A sessão faz parte do Panorama Experiências do Cinema, que ocupará o espaço do cineclube ao longo de todo o ano. As próximas sessões serão dedicadas ao cinema de Andy Warhol, o cinema de invenção brasileiro dos anos 70, Jerry Lewis e Apichatpong Weerasethakul, e contará com a participação dos cinéticos Felipe Bragança e Francis Vogner dos Reis em seus debates. Vale a pena acompanhar. (Leonardo Mecchi)

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Por fim, mas não menos importante, a revista eletrônica mineira Filmes Polvo completa um ano de vida e comemora com a I Mostra Filmes Polvo de Cinema e Crítica: entre a reflexão e a realização, que acontece no Cine Humberto Mauro, em Belo Horizonte, de 28 de fevereiro a 02 de março. O evento reunirá críticos das principais revistas eletrônicas do país (Cinética, Contracampo, Cinequanon, Paisà, além da própria Filmes Polvo) para discutir não apenas o panorama das revistas eletrônicas de crítica cinematográfica no país, mas também a relação cada vez mais umbilical entre crítica e realização, a partir da experiência de vários dos colaboradores dessas revistas que trafegam pelas duas searas. Além dos debates, a mostra contará com retrospectivas das obras dos críticos-cineastas (ou seriam cineastas-críticos) Eduardo Valente e Kleber Mendonça Filho, a exibição dos mais recentes filmes dos cinéticos Felipe Bragança (Jonas e a Baleia) e Cléber Eduardo e Ilana Feldman (Almas Passantes), além de longas como O Quadrado de Joana, de Tiago Mata Machado, Conceição – Autor Bom é Autor Morto, filme coletivo da UFF que tem entre seus realizadores Daniel Caetano, da Contracampo, e a pré-estréia de Crítico, de Kleber Mendonça Filho. Imperdível! (Leonardo Mecchi)


Janeiro 2008

Clássicos ou raros, clássicos e raros, uma coisa e/ou outra. Essa é o conceito central da mostra Clássicos e Raros do Nosso Cinema, que ocorre de 26 de dezembro a 20 de janeiro no CCBB e na Sala Cinemateca, em São Paulo, com curadoria do múltiplo e versátil Francisco César Filho, que tem atuado em diferentes frentes da atividade cinematográfica. São 24 filmes, alguns deles nem tão clássicos, outros nem tão raros, poucos realmente clássicos e raros. Não havendo organização dos filmes escolhidos por qualquer outro critério além da raridade da circulação ou da legitimidade canônica, os filmes agrupados resultam em momentos do cinema brasileiro de diferentes vertentes, mas com alta concentração de mais de 2/3 dos títulos nos anos 60/70.

Algumas raridades pouco canônicas chamam a atenção de cara ao se passar os olhos pela programação: Maluco e Mágico (1927), de Willliam Schocair; Bonecas Diabólicas (1975), de Flavio Nogueira; A Filha do Padre (1975), de Toni Vieira; O Grande Assalto (1967), de Adolho Chadler – três exemplos do cinema de empenho na comunicação popular, pautados a seu modo pelos códigos de gêneros (ficção científica, drama erótico-romântico, aventura criminal), que se contaminam pelo caráter de reciclagem  de suas matrizes e nos colocam constantemente a questão da cópia e de sua deturpação pelo próprio deslocamento cultural.

Se há espaço para um exemplo do cinema narrativo protegido contra as dissonâncias do moderno, como Lúcio Flavio, de Hector Babenco, e Simão, O Caolho, de Alberto Cavalcanti, a vertente mais quebra-pratos está presente com O Bandido da Luz Vermelha, de Rogerio Sganzerla; Bang Bang, de Andrea Tonacci; Amor Palavra Prostituta, de Carlos Reichenbach; O Estranho Mundo de Zé do Caixão, de José Mojica Marins; Jardim de Guerra, de Neville DAlmeida; Memória de um Estrangulador de Loiras, de Julio Bressane; e Hitler 3º Mundo, de José Agripino de Paula, que constituem um conjunto de manifestações radicais ou subversivas em sua organização. Já entre os clássicos do cinema moderno brasileiro, ou entre as preliminares dessa modernidade (Amei um Bicheiro e O Grande Momento), foi programado somente Os Cafajestes, de Ruy Guerra, que não se alia às questões do Cinema Novo – vertente essa colocada de lado na programação, talvez por terem circulado com alguma constância nos últimos anos.

Os demais títulos a serem exibidos, como Ainda Agarro Esta Vizinha, de Pedro Rovai; Ladrões de Cinema, de Fernando Coni Campos; As 7 Vampiras, de Ivan Cardoso; A Herança, de Ozualdo Candeiras; e Desesperato, de Sergio Bernardes, não são exatamente filmes comuns, normais, arroz com feijão, indo desde a pornochanchada ciente das experiências modernas (no filme de Rovai) até uma estranha aproximação com Antonioni (no filme de Bernardes), passando pela adaptação à Candeiras de Shakespeare, uma das experiências mais inusitadas já experimentadas pelo cinema.  (Cléber Eduardo)

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Numa rara boa nova cinéfila para além do eixo Rio-São Paulo, a Sala Walter da Silveira, em Salvador, anuncia como abertura de sua temporada 2008 a mostra O Cinema de Pedro Costa. De 04 a 10 de janeiro, a sala exibirá três filmes do diretor português que, para muitos, só se tornou conhecido após a exibição de Juventude em Marcha em festivais brasileiros. São eles Casa de Lava, Ossos e Onde Jaz o Teu Sorriso? (o documentário realizado pelo diretor sobre o casal Straub & Huillet). Absolutamente imperdível. (Leonardo Mecchi)


Relembre destaques da agenda de 2007


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