na agenda
Relembre destaques da agenda do primeiro semestre de 2007

Dezembro 2007

Se o cinema brasileiro patina eternamente em sua busca por mais espaço no mercado interno, nossa música, por sua vez, nada de braçada junto ao público. Enquanto a participação de mercado de nosso cinema gira atualmente em torno de 12%, a música brasileira domina mais de 80% do consumo local. Não surpreende, portanto, que os filmes brasileiros tenham em muitos momentos buscado se fiar nessa popularidade da canção popular brasileira para alcançar um público mais amplo – e o sucesso de 2 Filhos de Francisco ou Cazuza também deve ser analisado à luz dessa relação. Entre o final dos anos 60 e início dos 80, essa aproximação entre cinema e música (ou, mais precisamente, entre o cinema e as estrelas da canção popular) foi mais intensa e resultou em filmes de grande sucesso de público.

É justamente sobre esse período que se debruça a mostra Cinema de Estrelas, que acontece de 12 a 23 de dezembro no CCBB-SP. Além dos incontornáveis filmes protagonizados por Roberto Carlos (serão exibidos dois deles, que juntos tiveram mais de 5 milhões de espectadores), estão programados filmes com Teixeirinha (cujos 12 longas metragens produzidos ao longo de 15 anos foram um fenômeno regional sem precedentes no sul do país, acumulando mais de 15 milhões de espectadores), Gilberto Gil (no filme Corações a Mil, de Jom Tob Azulay), Sidney Magal (no raro Amante Latino) e duplas sertanejas como Tião Carreiro e Padrinho, Tonico e Tinoco e Milionário e José Rico. A última dupla, inclusive, foi responsável pelo maior sucesso de bilheteria de Nelson Pereira dos Santos – Estrada da Vida (1980, 1.3 milhões de espectadores), também programado na mostra –, reforçando assim o apelo que essas “estrelas” da música popular tinham junto ao público.

Embora menos freqüente e com uma aproximação diferente (filmes sobre músicos e não mais protagonizados por eles), essa associação entre cinema e música brasileira continua trazendo bons resultados para o cinema brasileiro – basta ver os resultados dos já citados 2 Filhos de Francisco ou de Cazuza, ambos entre as maiores bilheterias dos anos 2000 –, além dos inúmeros documentários sobre artistas da MPB que vêm sendo realizados nos últimos anos. Pois tal projeto de cinema aparentemente terá nos próximos anos continuidade com filmes como Menino da Porteira (remake do sucesso da década de 70, que fez 3.1 milhões de espectadores, com o cantor Daniel no papel que foi de Sérgio Reis) e Religião Urbana (projeto de Antonio Carlos da Fontoura sobre a vida de Renato Russo). Dentro da atual dificuldade dos filmes brasileiros a encontrar seu público, só podemos torcer que alguns destes tenham ao menos parte do sucesso de alguns de seus antecendentes. (Leonardo Mecchi)

***

Com os lançamentos brasileiros aumentando a cada ano (São Paulo viu, até sexta-feira passada, a estréia de 68 longas metragens nacionais em 2007 – uma média de 1.4 estréias brasileiras por semana), e o tempo de permanência de cada um deles nas salas de cinema diminuindo proporcionalmente, é natural que mesmo o espectador mais dedicado tenha perdido muitos desses filmes – e a redação da Cinética não é exceção aqui. Nesse cenário, a já tradicional Retrospectiva do Cinema Brasileiro do CineSesc, que este ano ocorre de 13 a 27 de dezembro, acaba surgindo como a última chance de se ver muitos desses filmes na tela grande. A retrospectiva também se presta a desmentir a afirmação muitas vezes propagada de que o espectador brasileiro não se interessa por sua própria produção: com ingresso a R$ 4,00 (R$ 2,00 para idosos e estudantes), as sessões costumam lotar. É possível ainda comprar um passaporte (R$ 30 a inteira) que dá acesso a todas as sessões. Assim como o dia dedicado pela rede Cinemark ao cinema brasileiro, esta iniciativa mostra que há sim interesse do público pelos filmes brasileiros. O que não há é nem a disposição de desembolsar quase R$ 20 por um ingresso de cinema, num um planejamento mínimo da chegada da maioria destes títulos ao mercado. (Leonardo Mecchi)

Novembro 2007

O leitor da Cinética tem nos ouvido falar muito ao longo do último ano da cena cinematográfica mineira, seja pela efervescência de sua produção independente, seja pela aproximação da revista – e de seu editor Cléber Eduardo, em particular – com as mostras realizadas por lá. Entretanto, nem só de Tiradentes, Ouro Preto e CineBH vivem os cinéfilos de Minas Gerais e, justiça seja feita, uma das melhores iniciativas de difusão do cinema mundial contemporâneo em terras mineiras chega agora a São Paulo.

Trata-se do Indie –Mostra de Cinema Mundial, cuja primeira edição paulistana (reduzida do original) será realizada de 30 de novembro a 06 de dezembro, no CineSesc e com entrada franca. Realizada há sete anos em Belo Horizonte pelo pessoal da Zeta Filmes – Daniella Azzi, Eduardo Cerqueira e Francesca Azzi (esta, responsável pela curadoria da Mostra de Tiradentes antes de Cléber Eduardo) –, o Indie tem em Minas Gerais um papel semelhante à Mostra em São Paulo e ao Festival no Rio, no sentido de levar ao público daquele estado uma seleção do que de melhor o cinema mundial contemporâneo tem produzido.

O que o leitor mais desavisado pode se perguntar é o que o Indie, diante do gigantismo da recém-terminada Mostra de São Paulo, pode oferecer de novo ao cinéfilo paulistano. Pois o que se esquece muitas vezes é que, por trás do panorama aparentemente totalizante de um evento desse porte, esconde-se sim um olhar seletivo – o mesmo olhar que deixou de fora na edição deste ano, por exemplo, um filme fundamental como Floresta dos Lamentos, de Naomi Kawase. E é aí que um evento mais reduzido como o Indie, com um olhar mais assumidamente curatorial, pode fazer a diferença.

Em sua primeira edição paulistana, a mostra mineira trás diretores que passam ao largo da Mostra de SP, como o chinês Ying Liang e o argelino Rabah Ameur-Zaïmeche (premiado em Cannes e Berlim). Mas o principal destaque da programação é, sem dúvida nenhuma, a retrospectiva do diretor coreano Hong Sang-Soo, um dos nomes fundamentais do cinema contemporâneo e que vem sendo sistematicamente ignorado pela Mostra de São Paulo (e, mesmo no Festival do Rio, só chegou na edição deste ano, com seu muito comentado filme A Mulher na Praia).

Mesmo que fosse apenas por essa retrospectiva, a edição paulistana do Indie já teria se justificado plenamente. Essa diversidade de olhares e recortes sobre o cinema mundial contemporâneo mostra-se, dessa forma, fundamental. Parafraseando o filme recém-produzido por Leon Cakoff, bem-vindo a São Paulo, Indie – e longa vida à sua edição paulistana.
(Leonardo Mecchi)

***

Com sua nova (e belíssima) sala em plena atividade, a Cinemateca vem há alguns meses emendando boas mostras em seqüência, numa continuidade fundamental para consolidá-la finalmente como um reduto cinéfilo (após um longo período com programações esporádicas e pouco estruturadas). Atualmente, por exemplo, estão em cartaz retrospectivas de José Mojica Marins (de 10 a 25 de novembro – em parceria com o CCBB-SP) e de Leon Hirszman (de 13 a 18 de novembro).

Do primeiro, trata-se da mais completa retrospectiva já feita da obra de Mojica, com a exibição de 21 longas, 2 médias e 5 curtas dirigidos pelo diretor, além de alguns filmes onde ele “apenas” atua (incluindo aí clássicos como O Abismo, de Rogério Sganzerla, e O Vampiro da Cinemateca, de Jairo Ferreira). Já Leon Hirszman terá alguns de seus clássicos recém-restaurados exibidos na nova sala da Cinemateca, incluindo Eles Não Usam Black-Tie, ABC da Greve e Pedreira de São Diogo, o episódio de Leon Hirszman para o longa Cinco Vezes Favela.

Terminada a homenagem a Leon Hirszman, a Cinemateca emenda a mostra América Latina: Diversidade e Semelhança, que através de 17 títulos e 4 mesas de debate ecoa uma questão levantada por nosso editor Cleber Eduardo em recente debate no FAM – Florianópolis Audiovisual Mercosul: seria possível, a partir da produção cinematográfica contemporânea, encontrar um denominador comum para a identidade da América Latina? Como alimento para o debate, serão exibidos filmes como O Céu de Suely, Cinema, Aspirinas e Urubus, Serras da Desordem, Nascido e Criado (de Pablo Trapero) e Suíte Havana (de Fernando Pérez), além de outros inéditos vindos da Argentina, Uruguai, Peru, México, Bolívia, Cuba e Equador. (Leonardo Mecchi)

***

Já o CCBB-Rio realiza, de 20 de novembro a 02 de dezembro, uma retrospectiva completa do diretor chileno Alejandro Jodorowski (que passará por São Paulo de 26 de novembro a 09 de dezembro e em Brasília de 28 de novembro a 09 de dezembro). Mais do que apenas celebrar a chance de ver esquisitices de grande força cinematográfica como El Topo, A Montanha Sagrada e Santa Sangre (de uma forma ou de outra vistos, por exemplo, no Festival do Rio de 2006), vale notar ainda que o próprio Jodorowski estará no Brasil junto com a mostra, realizando desde debates até (sim!) leituras de tarô. Como bônus, escondido na programação da mostra, será exibido (em DVD) Cabezas Cortadas, de Glauber Rocha. (Eduardo Valente)

***

Já o Itaú Cultural, em São Paulo, abriga uma mostra que consegue reunir, numa mesma programação, filmes como O Homem do Sputnik, de Carlos Manga, e Stalker, de Andrei Tarkovski. Trata-se da mostra Futuro Mais-Que-Perfeito, que ocupa o espaço de 15 a 20 de novembro. A programação é dividida em quatro blocos temáticos: “Visões Futuristas” (com obras ambientadas no futuro e dirigidas por nomes como Godard, Tarkovski, Gondry, Spielberg e Wong Kar Wai), “Chanchada, Paródia e Ficção Científica” (cujo título auto-explicativo reúne filmes como O Homem do Sputnik, Uma Aventura aos 40 e Os Cosmonautas), “Depois do Limite” (onde a mostra esgarça para além do recomendável seu escopo, prestando uma homenagem a Limite, de Mário Peixoto) e “Cineastas do Futuro” (onde serão exibidas obras audiovisuais mais experimentais de diretores como Jon Jost, Harun Farocki, Eija Liisa Athila e dos brasileiros Wagner Morales e Eder Santos). (Leonardo Mecchi)

***

Com as atenções todas voltadas para a cobertura da recém-encerrada Mostra de SP, acabamos comendo mosca em alguns eventos bem importantes que aconteceram em Rio, SP e Brasília nas últimas semanas. No entanto, como a maioria deles foi bastante bem coberta e anunciada pelos principais jornais de cada cidade, temos a certeza de que nossos antenados (eita palavrinha...) leitores ficaram sabendo sobre eles em tempo. No entanto, vale destacar que dois dos mais interessantes destes eventos duram até o próximo domingo, dia 11/11, ainda com algumas belas atraçõe.

É o caso, no Rio de Janeiro, da mostra O Baú de Jim Jarmusch, raro exemplo de mostra retrospectiva dedicada a um cineasta estrangeiro fora dos grandes festivais. O CCBB-RJ exibiu, desde o dia 30 de outubro, todos os longas de Jarmusch, além de alguns de seus curtas e uma série de seus declarados "filmes favoritos" (entre os quais, Accatone, de Pasolini; Acossado, de Godard; e Os Corruptos, de Lang). A mostra (que continua rolando no CCBB de Brasília, de 7 a 18 de novembro) ainda exibe no último final de semana carioca dois dos longas de Jarmusch mais difíceis de se ver em cinema no Brasil: o primeiríssimo Permanent Vacation (com sessões na sexta e no domingo) e o essencial Dead Man (sessões na sexta e no sábado).

Já a Cinemateca Brasileira, em SP, exibe desde a terça (dia 6) até o domingo dia 11 uma mostra completa do animador canadense Norman McLaren - mostra que, em seguida, viaja pelo país. A genialidade e a importância de McLaren na história da animação mundial são de tal maneira um fato consumado que nem é realmente necessário insistir na obrigatoriedade do programa - até porque, mesmo sendo exibida em DVD, a mostra exibe pela primeira vez no Brasil a totalidade da obra do cineasta, numa versão recentemente restaurada pelo National Film Board (organização que ele ajudou a criar). Dividida em 10 programas (com títulos como Clássicos, Primeiros Filmes, A Arte do Movimento, etc), é um convite à imersão - especialmente na belíssima sala BNDES. (Eduardo Valente)

 

Outubro 2007

Há alguns meses indiquei aqui a retrospectiva que se iniciava no CCBB-SP sobre a obra do cineasta e polemista-de-plantão Arnaldo Jabor. Agora essa mesma mostra, com sete longas e dois curtas, chega ao CCBB-RJ. De 16 a 28 de outubro, a mostra Arnaldo Jabor – 40 anos de opinião pública irá exibir ao público carioca filmes como Toda Nudez Será Castigada, Eu Te Amo, Eu Sei Que Vou Te Amar e Opinião Pública, além de outros títulos menos conhecidos (estes, porém, com exibição em DVD). Haverá ainda debates sobre a obra de Jabor com Pedro Plaza Pinto, Arthur Autran e o próprio diretor. (Leonardo Mecchi)

***

Enquanto isso, no CCBB-SP, está rolando desde o dia 10 até 21 de outubro a mostra Mestres do Anime, uma das mais populares manifestações audiovisuais japonesas. O principal destaque fica, sem dúvida nenhuma, para a exibição de alguns dos primeiros filmes do mestre Hayao Miyazaki, que tornou-se definitivamente reconhecido no mundo com o sucesso de A Viagem de Chihiro. Dele, serão exibidos Nausicaä do Vale dos Ventos (1984), Meu Vizinho Totoro (1988) e Princesa Mononoke (1997). Vale a pena reviver a época de cinefilia nipônica da São Paulo da década de 60. (Leonardo Mecchi)

***

Por fim, o fenômeno Tropa de Elite continua a ter repercussões as mais inesperadas. Numa jogada de marketing bem elaborada, a Playarte reabre as portas do Cine Marabá – um dos últimos cinemas de rua tradicionais do centro de São Paulo, que já havia sido fechado para a reforma que o transformaria em mais um multiplex – para a exibição, durante todo o mês de outubro, do polêmico longa de José Padilha. Como é sabido, grande parte da perda de público do cinema brasileiro da década de 70 para cá deveu-se ao fechamento dessas salas de rua no centro das grandes cidades e no interior do país, salas essas que recebiam a parcela mais popular do público de cinema. Com o fechamento dessas salas, iniciou-se o hoje já estabelecido processo de elitização do cinema. Com a popularidade mais do que comprovada do filme Tropa de Elite (segundo dados do DataFolha, mais de 1.5 milhão de pessoas já viram o filme em cópias piratas), esse mês de exibição no Cine Marabá tem tudo para ser um tremendo sucesso – e um caso que vale a pena ser acompanhado de perto. (Leonardo Mecchi)

Setembro 2007

Para o público paulistano que não pode ir ao Rio acompanhar o Festival, vale uma conferida na 3a Semana do Cinema Contemporâneo Italiano, que acontece de 28 de setembro a 04 de outubro no Cinemark Iguatemi. A mostra, produzida pela Câmara Ítalo-Brasileira de Comércio e Indústria, traz 7 longas-metragens inéditos, lançados entre 2006 e 2007, com um foco maior nas comédias. Entre os filmes que serão exibidos, entretanto, os destaques ficam para os dramas Em Minha Memória, selecionado para o Festival de Berlim e exibido agora no Festival do Rio (gerando reações opostas entre eu e Valente), e N (Eu e Napoleão), selecionado em diversos festivais internacionais. Como complemento à programação da Semana, pode-se conferir ainda O Inocente, último filme de Luchino Visconti, que reestréia em sessão diária, sempre às 19h, no HSBC Belas Artes. (Leonardo Mecchi)

***

Em julho último destaquei aqui a mostra “TV e Grandes Autores”, que destacava a produção para TV de nomes como Robert Altman, Tsai Ming-Liang, Andrzej Wajda, Godard e Bergman. Pois agora o mesmo CCBB-RJ hospeda, de 18 a 30 de setembro, a mostra Rossellini TV Utopia (que já passou pelo CCBB-DF), que foca nos chamados “filmes didáticos” do diretor, produzidos especialmente para a TV, numa época em que o pai do neo-realismo italiano havia declarado a morte do cinema. Os filmes de Rossellini desse período (que se estendeu de 1970 a 1973) buscavam educar o espectador de TV sobre a história da humanidade, retratando figuras como Sócrates, Pascal, Descartes, Santo Agostinho e os Médici. A mostra contará com um debate sobre essa proposta do diretor, com a participação do curador Steve Berg, do crítico e colaborador cinético Pedro Butcher, do montador Ricardo Miranda, do antropólogo Robson Cruz e do diretor Joel Pizzini. Assim como os extras de um bom DVD, a mostra terá ainda a exibição de Ano Um, o penúltimo filme de Rossellini feito para cinema, e de A Morte do Pai, documentário de Pizzini sobre as três passagens do diretor italiano pelo Brasil. (Leonardo Mecchi)

***

Ang Lee tornou-se definitivamente o queridinho do Festival de Veneza. Seus dois últimos filmes – Brokeback Mountain (2005) e Lust, Caution (2007) – saíram do Lido com o Leão de Ouro, vitória dupla que apenas outros 3 diretores já conseguiram: Louis Malle (Atlantic City e Adeus, Meninos), André Cayatte (Justice est Faite e Le Passage du Rhin) e Zhang Yimou (A História de Qiu Ju e Nenhum a Menos). Com isso, é natural que as atenções se voltem novamente ao diretor e, nesse sentido, é providencial a programação da Sessão Cinéfila do Espaço Unibanco (SP). A sala paulistana programou para os dias 15, 22 e 29 de setembro os três primeiros filmes de Ang Lee: A Arte de Viver, O Banquete de Casamento e Comer Beber Viver. Trata-se de um bom aperitivo enquanto se espera a estréia de Lust, Caution, já confirmada para o Festival do Rio. (Leonardo Mecchi)

***

Poucos filmes este ano geram discussões tão acaloradas e uma cisão tão evidente entre as opiniões da mídia impressa e da eletrônica quanto Conceição – Autor Bom é Autor Morto, o filme-coletivo dos alunos da UFF. Independentemente de opiniões pessoais, trata-se de um filme incontornável. Se você não está entre as pouco mais de mil pessoas que assistiram ao filme em sua meteórica carreira pelo circuito comercial, a Cinemateca Brasileira traz uma oportunidade imperdível para se correr atrás do prejuízo. De 19 a 23 de setembro a sala programou sessões diárias do filme (duplas, no final de semana), que se intercalam com projeções do documentário Fabricando Tom Zé. O último a assistir Conceição é a mulher do padre. (Leonardo Mecchi)

***

Depois da já clássica sessão com seus curtas dentro do Festival de SP, o Vampiro da Cinemateca volta a atacar. Entre 12 e 16 de setembro, a Cinemateca Brasileira realiza a mostra Jairo Ferreira para o São Paulo Shimbun, exibindo 14 títulos nacionais comentados por Jairo na coluna que teve no jornal diário da colônia japonesa, entre 1967 e 1973. Entre os destaques, além da abertura com Orgia ou o Homem que Deu Cria seguido de debate com seu diretor João Silvério Trevisan e o pesquisador Alessandro Gamo, temos títulos como A Herança, de Candeias; A Mulher de Todos, de Sganzerla; ou O Caso dos Irmãos Naves, de Person. Mas, o mais auspicioso mesmo é a notícia de que este será apenas o primeiro ciclo de uma programação permanente na Cinemateca dedicada aos principais críticos de cinema do Brasil, publicando trechos de seus textos no folheto de programação das mostras. Mais informações no site da Cinemateca. (Eduardo Valente)

Agosto 2007

A esta altura todos já estão sabendo (ou acompanhando) o Festival Internacional de Curtas de São Paulo, que ocorre de 23 de agosto a 01 de setembro em diversas salas da capital paulista. O que muitos talvez não saibam é este ano a programação está cheia de boas surpresas: além do Cachaça Cinema Clube que rolou no último sábado com filmes de Sganzerla e Tonacci, temos algumas sessões especiais, como as dedicadas a Jairo Ferreira (com cinco curtas recém telecinados – incluindo O Guru e os Guris, exibido na comemoração do Prêmio Jairo Ferreira) e Cao Guimarães (com oito curtas); e escondidinho ainda passa o longa inédito Ainda Orangotangos, de Gustavo Spolidoro, na sessão Do Curta ao Longa, no Arteplex, dia 29, 20h. Sobre dicas dos curtas recentes, vale ficar de olho na comunidade da revista no orkut, onde temos conversado diariamente sobre títulos variados. (Leonardo Mecchi)

***

Outra iniciativa interessante dentro do Festival de Curtas, e que este ano chega à sua terceira edição, é o projeto Crítica Curta, sob coordenação do crítico Sérgio Rizzo, que reúne 23 alunos de escolas de cinema de São Paulo para oficinas e produção de crítica cinematográfica. O objetivo é preparar os alunos para cobrirem as sessões dos programas brasileiros e latino-americanos do Festival, com os textos resultantes sendo publicados num site específico do programa. A idéia é tão bacana que será replicada no festival de curtas do Rio, o Curta Cinema. Lá, a Oficina de Crítica ficará a cargo do pessoal da Contracampo, que ministrará as aulas ao longo do mês de setembro. São iniciativas interessantes para a formação de uma “novíssima geração” da crítica cinematográfica brasileira. (Leonardo Mecchi)

***

Esta semana temos ainda uma programação inusitada: o Iguatemi FilmeFashion, festival dedicado à relação entre moda e cinema. Entre os dias 24 e 30 de agosto, o festival chega à sua terceira edição, com uma mostra dos figurinos mais representativos do cinema brasileiro desde a década de 20. Estão entre os selecionados desde Sangue Mineiro (1929,  de Humberto Mauro) e Bonequinha de Seda (1936, de Adhemar Gonzaga) até Carlota Joaquina (1995) e Madame Satã (2002). A década com o maior número de representantes na mostra é a de 60, com uma seleção bastante heterogênea: Noite Vazia, Esta Noite Encarnarei no seu Cadáver, Todas as Mulheres do Mundo e Bebel, Garota Propaganda. Taí um recorte no mínimo diferente dos que estamos acostumados a ver por aí. (Leonardo Mecchi)

* * *

Durante três dias (27 a 29 de agosto), o Odeon BR, no Rio de Janeiro, recebe o evento O Cinema que Pensa, organizado por Paula Gaitán, Eryk Rocha e Juan David Posada. Serão três dias de debates e exibição de filmes, com destaque para uma sessão de Der Leone Has Sept Cabezas, de Glauber, dois curtas de João César Monteiro e alguns outros curtas e longas (entre eles, Temporal, sobre o qual comentei aqui). Trata-se da quarta edição do evento, que agora acontece isoladamente, depois de dois anos realizado durante o Festival do Rio. Se assim ele consegue possivelmente uma visibilidade maior (retirado da correria cheia de “eventos” do grande festival), também é inegável que a lista de filmes e convidados parece ter perdido um pouco em abrangência. Para descobrir se perdeu-se ou ganhou-se mais, só mesmo freqüentando as mesas de debate, que incluem nomes como Ruy Guerra, Cacá Diegues, Orlando Senna, João Luiz Vieira e Ivana Bentes, entre outros. Este ano o tema será Os povos e corpos do cinema afro-luso-brasileiro, o que explica tanto os filmes de Monteiro quanto o destaque ao cinema caboverdiano, representado in loco pelos cineastas Zezé Gamboa e Tambla. (Eduardo Valente)

* * *

Mais abaixo eu falava do modesto tributo que Bergman receberia aqui em São Paulo, com a programação de O Sétimo Selo no HSBC Belas Artes. Agora é a vez de Antonioni, que será homenageado pela Cinemateca Brasileira, no próximo dia 21 de agosto. A sala programou duas sessões de O Passageiro: Profissão Repórter, justamente o título do diretor que teve uma edição em DVD recentemente lançada. Homenagens a diretores do porte de Bergman e Antonioni são sempre importantes, pela possibilidade de levarem suas obras a um novo público, eventualmente atraído a esses filmes pela efeméride. Agora, que um diretor da envergadura de Antonioni receba como homenagem da principal instituição brasileira dedicada ao cinema uma simples sessão de seu filme mais disponível beira quase à “desomenagem”, e diz muito da indisponibilidade de um real acervo de cópias em película no Brasil. (Leonardo Mecchi)

***

Já o Centro Cultural São Paulo programou uma mostra verdadeiramente imperdível: Mizoguchi & Ozu. Entre os dias 14 e 23 de agosto serão exibidos 10 títulos dos mestres japoneses Yasujiro Ozu e Kenji Mizoguchi. São obras tardias dos diretores, onde as principais características que definiram seus respectivos estilos encontram-se plenamente estabelecidas. Uma excelente oportunidade de se voltar a seus filmes, com um bônus adicional: diferentemente do que já se tornou hábito no CCSP (que costuma programar mostras inteiras em DVD sem o menor pudor) esta terá todas as suas exibições em 16mm. (Leonardo Mecchi)

* * *

Nesta que talvez seja sua iniciativa mais ambiciosa nos últimos anos, a Cinemateca Brasileira programou, entre os dias 10 e 19 de agosto, a I Jornada Brasileira de Cinema Silencioso. Durante esses 10 dias, a Cinemateca se transformará em um templo dedicado aos primórdios do cinema, com a exibição de mais de 40 filmes produzidos entre 1897 e 1932 (muitos com acompanhamento musical ao vivo), além de exposições, conferências e oficinas sobre o assunto.

As exibições, que ocorrerão nas duas salas da Cinemateca, são divididas em blocos que incluem filmes americanos da virada do século XIX para o XX (onde os destaques ficam por conta de Salomé, de Charles Bryant, e uma série de curtas documentais que retratam o início da vida moderna em cidades como Nova York e Chicago), uma programação especial com filmes restaurados do importantíssimo Ciclo do Recife (incluindo Aitaré da Praia e A Filha do Advogado), títulos alemães anteriores ao movimento expressionista, além de clássicos de Fritz Lang, Murnau e Lubitsch.

Entre as conferências, destacam-se a do pesquisador norte-americano Ben Singer (curador da seleção de filmes norte-americanos da Jornada), que discute a relação do cinema com a modernidade do início do século XX, e a mesa “O Estágio Atual das Pesquisas sobre Cinema Brasileiro Silencioso”, com a presença dos estudiosos Eduardo Morettin, Glênio Povoas, Hernani Heffner e Sheila Schvarzman. Uma programação imperdível que, espera-se, não se torne uma iniciativa isolada. (Leonardo Mecchi)

***

Durante o curso realizado no CineSesc em comemoração ao primeiro aniversário da Cinética, um dos assuntos recorrentes em várias das aulas foi a demanda no audiovisual contemporâneo por uma certa legitimação da ficção através do real. Embora essa “demanda de real” possa ser encontrada desde os primórdios do cinema, ela se tornou praticamente uma bandeira programática durante o Neo-Realismo Italiano. Pois é justamente esse movimento que será abordado pelo Cineclube Equipe em seu ciclo Panorama Estórias do Cinema (iniciativa que já foi discutida aqui na revista). No próximo dia 18 de agosto o cineclube irá exibir o clássico Ladrões de Bicicleta, de Vittorio De Sica, seguido de debate com Maurício Hirata (coordenador executivo do programa DocTV) e nossa cinética Ilana Feldman, cuja aula no curso acima intitulava-se justamente O apelo realista das novas narrativas do espetáculo: uma atualização da secular “vontade de verdade”. (Leonardo Mecchi)

***

Apesar da tradicional gritaria dos excluídos do edital da Petrobras, o resultado deste ano trouxe algumas gratas surpresas. Entre elas, a seleção do novo projeto de Edgard Navarro, O Homem Que Não Dormia. Depois de 17 anos sem filmar, o cineasta baiano ressurgiu no cenário cinematográfico brasileiro no ano passado, com o memorialístico Eu Me Lembro. Para muitos espectadores, era o primeiro contato com a obra do diretor que, entretanto, havia realizado no final da década de oitenta uma obra fundamental em nossa cinematografia: o média-metragem Superoutro.

Pois para comemorar seu quinto aniversário, o Cachaça Cinema Clube programou para o próximo dia 15 de agosto uma sessão especial dedicada justamente a Edgar Navarro. Serão exibidos, além do já clássico Superoutro, o curta-metragem Lin e Katazan, de 1986, e a “trilogia freudiana”, composta pelos curtas Alice no País das Mil Novilhas, O Rei do Cagaço e Exposed, realizados entre 1976 e 1978. Tive a oportunidade de acompanhar essa mesma programação no último Festival de Santa Maria da Feira, em Portugal, e posso afirmar que trata-se de uma experiência sui generis. Uma sessão dupla com Conceição, atualmente em cartaz, é uma bela amostra de um outro cinema brasileiro possível – um cinema que não teme provocar e desafiar o espectador, sem com isso perder o deboche e a (auto)ironia. Experiências como essas fazem falta para ajudar a arejar um pouco a produção brasileira contemporânea. (Leonardo Mecchi)

* * *

Mês passado destaquei aqui uma mostra que analisava a obra de alguns diretores paulistas contemporâneos. Agora é a vez de um dos grandes representantes do cinema realizado em São Paulo durante as décadas de 60/70 receber uma justa homenagem. De 03 a 09 de agosto, o Espaço Unibanco exibe a Mostra Luiz Sergio Person, com quatro títulos clássicos da cinematografia paulistana: São Paulo S/A, Cassy Jones – O Magnífico Sedutor, O Caso dos Irmãos Naves e Panca de Valente. (Leonardo Mecchi)

***
E já que estamos falando em cinema regional, o CINUSP teve a maravilhosa idéia de programar aqui em São Paulo, entre os dias 06 e 24 de agosto, uma Retrospectiva do Cinema Pernambucano Contemporâneo. Uma das produções mais interessantes e instigantes da última década, o cinema pernambucano tem sido o berço de alguns dos mais relevantes diretores brasileiros da atualidade, como Cláudio Assis, Marcelo Gomes, Lírio Ferreira e Paulo Caldas. A retrospectiva do CINUSP irá exibir seis longas dos diretores citados, além de 16 curtas-metragens produzidos em Pernambuco desde 1993, incluindo não apenas os primeiros passos desses quatro diretores, mas também de outros de igual importância como Hilton Lacerda, Eric Laurence e o colaborador eventual cinético Kleber Mendonça Filho. Programação obrigatória. (Leonardo Mecchi)

* * *
Diante de momentos como o recente falecimento de Ingmar Bergman (discutida aqui por Felipe Bragança), não há melhor homenagem do que voltar aos seus filmes. Grande parte da obra do diretor sueco vem sendo lançada aqui em DVD pela Versátil, que promete mais oito longas a partir do ano que vem. Mas para aqueles que não abrem mão de revisitar os filmes onde eles devem ser vistos, o Estação Paissandu presta uma bela Homenagem a Ingmar Bergman (e a seus fãs) ao programar de 03 a 09 de agosto sete filmes do diretor, incluindo alguns de seus filmes mais importantes como A Fonte da Donzela, O Sétimo Selo, Cenas de um Casamento e Morangos Silvestres. Já o público paulistano terá que se contentar com uma homenagem mais modesta, a programação de O Sétimo Selo no HSBC Belas Artes, numa sessão única diária às 19h10, também a partir do dia 03 de agosto. (Leonardo Mecchi)

* * *
Nem só na faixa dos milhões de espectadores vivem os (raros) sucessos de bilheteria do cinema brasileiro. Em 2006, uma pequena comédia mineira tornou-se um dos maiores fenômenos de público da produção nacional recente. Lançado com apenas 2 cópias e exclusivamente no estado de Minas Gerais, Acredite! Um Espírito Baixou em Mim conseguiu no boca-a-boca um público de mais de 30 mil espectadores, que lhe garantiu a 20a posição no ranking de estréias nacionais do ano passado. Apenas como referencial, seus 15 mil espectadores/cópia representam quase o triplo da média atingida por Didi – O Caçador de Tesouros, a segunda maior bilheteria do ano, que estreou com 190 cópias e fez pouco mais de 1 milhão de espectadores. Agora, o Espaço Unibanco de São Paulo programou o filme dentro de sua edição mensal da Odisséia de Cinema, no próximo dia 03 de agosto. Finalmente uma oportunidade para o público paulistano conferir o filme e verificar se trata-se mesmo de um fenômeno regional isolado ou se o filme tem potencial de repetir seu sucesso em outras praças. (Leonardo Mecchi)


Julho 2007

Vez por outra surgem mostras ou festivais cujo único critério de seleção dos filmes que serão programados parece ser a disponibilidade e/ou facilidade de acesso às cópias. É o caso, por exemplo, da Sessão Cinéfila – Mostra Cinemateca Francesa, que o Espaço Unibanco de São Paulo programou para os sábados de 28 de julho a 1o de setembro. Assumindo no próprio nome seu critério de seleção, a mostra exibe seis clássicos do acervo da Cinemateca da Embaixada da França, incluindo títulos de René Claire, Marcel Carné, Robert Bresson e Godard. Com o recente apelo da produção francesa junto a uma certa parcela do público brasileiro (já analisada aqui por Eduardo Valente), corre-se o risco dessa mostra ser um grande sucesso. Mal não vai fazer. (Leonardo Mecchi)

***

Longe de figurar entre os grandes sucessos de bilheteria do cinema brasileiro, a produção paulista contemporânea (ao menos parte dela) é marcada por um forte traço autoral. Diretores como Beto Brant, Lais Bodanzky e Ricardo Elias possuem características que, apesar da curta filmografia, explicitam um estilo e abordagem bastante particulares em seus respectivos cinemas.

Buscar a origem desses traços autorais é o objetivo da mostra Do Curta ao Longa – A Criação Autoral no Cinema Paulista da Retomada, que ocupou o CCBB-SP de 24 a 29 de julho. Com curadoria do redator cinético Paulo Santos Lima, a mostra exibiu, sempre na mesma sessão, um curta e um longa metragem dos diretores paulistas José Roberto Torero, Eliane Caffé, Lina Chamie, Paulo Sacramento, Roberto Moreira e Toni Venturi, além dos outros três nomes já citados, permitindo assim ao espectador traçar aproximações e divergências entre essas produções.

Considerando-se que todos esses diretores estrearam em longa entre 1997 e 2004 – logo detentores de uma filmografia ainda muito recente – esse olhar para seus curta-metragens, acompanhado por uma amostra de sua produção em longa, é fundamental para se tentar determinar as bases sobre as quais suas futuras obras serão construídas. (Leonardo Mecchi)

* * *

Mês passado chamei a atenção para a sessão em homenagem ao diretor africano recentemente falecido Ousmane Sembène que a Cinemaison programou no Rio. Pois agora é a vez dos paulistanos apreciarem seu derradeiro filme, Moolaadé, que o Consulado Geral da França traz para o Cine Sesc, com projeção única no próximo dia 10 de julho, às 21h30. Embora já tenha sido exibido na Mostra de São Paulo, trata-se de oportunidade única de ser revisto no cinema. (Leonardo Mecchi)

* * *

Começa na segunda-feira, dia 9 de julho, a décima-segunda edição do maior festival brasileiro dedicado ao cinema feito nas universidades: o Festival Brasileiro de Cinema Universitário. E ele já começa neste ano de maneira especial, com a primeira exibição carioca de Conceição – Autor Bom é Autor Morto, filme que é o primeiro longa-metragem realizado por alunos de uma universidade brasileira (a UFF) como trabalho curricular, de final de curso. Bastante bem recebido na sua estréia em Tiradentes, e recentemente ganhador do prêmio do júri popular no Cine Esquema Novo (Porto Alegre), Conceição dá início a duas semanas movimentadas, com sede principal no Centro Cultural dos Correios: mostras competitivas brasileira e internacional, homenagem a Ismail Xavier com exibição de filmes comentados por ele, oficinas, mostras e sessões especiais tornam o Rio de Janeiro o centro pensante do jovem cinema brasileiro ao longo destes 15 dias. (Eduardo Valente)

* * *

Chega a parecer excentricidade, num país extremamente pobre tanto em locais e instituições patrocinadoras de eventos de cinema quanto em termos de acervo disponível de filmes em boas condições para exibição em película, reclamar da realização de uma mostra de cinema. No entanto, a mostra que ocupa o CCBB-RJ entre 10 e 22 de julho próximos nos força a este papel. Sob o pomposo título de Revisão do Cinema Chinês, o evento (cuja única razão de existir, claramente, é pegar carona na mostra de artes plásticas China Hoje, que ocupa com destaque o Centro Cultural) simplesmente acumula 12 filmes chineses realizados entre 1991 e o ano passado (o que o título não indica) cujo principal ponto em comum é... terem sido lançados em cinema no Brasil. Ou seja: raridade nenhuma, critério curatorial aparente muito menos (a não ser que se possa justificar minimamente Balzac e a Costureirinha Chinesa e Plataforma numa mesma mostra por qualquer outro motivo que não o oportunismo de ter cópias facilmente à mão). É verdade que complementam a mostra em película 6 filmes exibidos em DVD na sala de vídeo, dos quais 5 são inéditos no Brasil. No entanto, para um evento que se dispõe a “revisar o cinema chinês”, os números continuam sendo ridículos – e se justificaria plenamente só se fosse realizado numa capital mais distante do centro cinematográfico do país, onde os filmes acima não tivessem sido vistos. É pena que, com tanta gente tirando leite de pedra com mostras de orçamentos exíguos que apresentam títulos raros e/ou a realização mesmo de cópias novas importantíssimas para a difusão do cinema nacional, o CCBB também gaste seu já limitado tempo/dinheiro apresentando um programa tão incrivelmente desinteressante. (Eduardo Valente)

* * *

Mostras centradas em atores são uma raridade – o que, convenhamos, está longe de ser uma injustiça já que são poucos os atores (especialmente brasileiros) que mereçam uma mostra, no sentido de comporem um corpo de obra relevante por si, e não apenas como acúmulo de títulos díspares. No entanto, a Caixa Cultural (RJ) dedica esta semana, de 3 a 8 de julho, a uma dessas atrizes que têm rosto e corpo com força particular dentro da nossa cinematografia: Maria Gladys. Gladys é uma das poucas atrizes brasileiras que, mesmo participando de programas e novelas de TV, sempre teve seus momentos de brilho mais intenso nas telas de cinema, principalmente ligada a nomes como os de Rogério Sganzerla e Julio Bressane (de quem, não por acaso, são 3 dos 8 longas a serem exibidos). Está longe de ser uma mostra que esgote a cinematografia de Gladys, ou mesmo que apresente títulos de muita raridade do circuito mais alternativo (já que tanto Sganzerla quanto Bressane quanto Hugo Carvana tiveram mostras dedicadas a eles recentemente), mas que precisamos celebrar nem que seja pela chance de homenagear Maria Gladys. (Eduardo Valente)

* * *

Retrospectivas de grandes diretores, programadas em meio a festivais como o do Rio e a Mostra de São Paulo, colocam sempre um profundo dilema ao espectador cinéfilo: entre a rara oportunidade de acompanhar e analisar em panorama a obra de um cineasta fundamental e a igualmente rara (e muitas vezes única) ocasião de assistir às mais recentes produções do cinema contemporâneo, o que escolher?

Nos últimos quatro anos, por exemplo, a Mostra Internacional de Cinema já nos colocou essa questão diante de obras como a dos diretores Manoel de Oliveira, Abbas Kiarostami e João César Monteiro. Por isso, são fundamentais iniciativas como a do Centro Cultural São Paulo, que programou para os dias 03 a 08 de Julho, o ciclo O Cinema de João César Monteiro, quatro anos após a retrospectiva dedicada ao diretor pela Mostra. Serão exibidos 14 de seus 21 filmes, onde se destacam Quem Espera por Sapatos de Defunto Morre Descalço, Branca de Neve e a série com seu alterego João de Deus (Recordações da Casa Amarela, A Comédia de Deus, As Bodas de Deus e Vai e Vem).

Longe da correria habitual de um evento como a Mostra, o espectador poderá dedicar o tempo e a atenção necessários a uma obra exigente como é a do diretor português. A única ressalva, que já está se tornando praxe e que por isso mesmo não cansamos de chamar a atenção aqui, é a de que, apesar do apoio do Instituto Camões na produção desta mostra, as exibições serão todas em DVD. (Leonardo Mecchi)

* * *

Depois da montagem e da fotografia, é a vez do som: de 04 a 22 de Julho a mostra E o Som se Fez, pretende discutir a importância do som no cinema. O evento, que acontece no CCBB-SP, exibirá desde filmes realizados na passagem do mudo para o sonoro no Brasil e no mundo, até filmes do cinema moderno que se diferenciam pelo seu trabalho de som, como Uma Mulher é uma Mulher (1962), de Godard, e O Buraco (1998), de Tsai Ming Liang. Como muita gente ainda tem dificuldade de perceber até hoje o papel central do som na percepção do cinema (desde os tempos do cinema mudo, aliás), trata-se de uma chance rara de refletir acerca desta área da linguagem cinematográfica. (Leonardo Mecchi e Eduardo Valente)

Relembre destaques da agenda do primeiro semestre de 2007


« Volta