Olhar para trás é/e olhar para a frente
por Cléber Eduardo e Eduardo Valente

Embora tenhamos completado 1 ano de vida em maio, não houve tempo livre para os editores conseguirem se dedicar a comemorações – nem na revista, nem na “vida real”. Enquanto Eduardo Valente capitaneava a cobertura de Cannes, Cléber Eduardo estava ocupado com a coordenação da programação do CINEOP – II Mostra de Cinema de Ouro Preto, que acabou de acontecer na cidade histórica mineira entre 14 e 19 de junho.

O evento possui uma programação híbrida, com filmes contemporâneos e de cinco décadas atrás. No segmento contemporâneo, predominaram os documentários (quatro deles de Minas Gerais – com algumas recorrências, o que foi tema de um debate), que já eram maioria absoluta entre os inscritos e entre os trabalhos possíveis de serem convidados. Já o recorte histórico foi uma variação daquele adotado na primeira edição, centrada na discussão sobre preservação e na exibição de filmes restaurados. A segunda edição enfocou os anos 50 e os primeiros passos de Nelson Pereira dos Santos: em entrevista para o catálogo da mostra, ele explica porque se sente mais próximo de seus colegas dos anos 50 (com quem viveu os anos de formação, juventude, militância cultural e posturas programáticas para o cinema brasileiro) do que da turma do Cinema Novo, por quem foi adotado quando já se encaminhava para o quinto longa, Vidas Secas.

Se a cobertura de Cannes, depois de há um ano ter sido o principal destaque na primeira ida ao ar da revista, comprovou em 2007 sua capacidade de aumentar significativamente os acessos diários à revista, também o CINEOP representa uma continuidade: a do trabalho realizado na 10 Mostra de Tiradentes, em janeiro último. Ao coordenar a programação dos dois eventos, queremos reiterar a importância da figura do curador, cujo trabalho é um complemento do que fazemos aqui na Cinética.

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Ambos os editores, portanto, passaram a comemorativa virada de maio para junho retomando fios do trabalho semanal (porque não dizer diário) que realizamos na revista ao longo deste primeiro ano. Pois é justamente assim que começamos agora, com este mês de atraso justificável, nossa comemoração oficial dentro da revista: nesta primeira atualização comemorativa retomamos alguns dos principais temas ou artigos que marcaram o primeiro ano da revista.

Em Olhares, voltamos agora a dois dos mais comentados artigos aqui publicados: Felipe Bragança retoma e continua uma análise bastante pessoal do estado do cinema contemporâneo, enquanto Eduardo Valente volta ao tema do Big Brother Brasil a partir de uma perspectiva até aqui inédita em textos analíticos – um olhar de dentro do processo de produção, ao qual teve acesso justamente pela repercussão do artigo publicado na revista em março último.

A aproximação com o mercado do cinema brasileiro, que deu origem à série “Cinema brasileiro para quem?”, volta semana que vem com o começo de uma série de entrevistas (que projetamos longa e constante) onde nos colocamos “olho no olho” com os principais agentes deste mercado: produtores, exibidores, distribuidores, instituições governamentais. Queremos entender um pouco mais profundamente o que cada uma das partes enxerga sobre este problema que é o acesso do brasileiro aos filmes aqui produzidos – questão que aliás está longe de ser uma exclusividade nossa, e que permeia os debates em quase todos os paises do mundo, que não os EUA e os estados de exceção (como a Índia ou os mercados “restritos” como o Irã ou a China). Mais do que buscar soluções mágicas (inexistentes), é o caso de se dar tempo para falar e refletir um pouco mais sobre o tema, sem a pressão de momentos de passada de leis ou de crises profundas, que é quando geralmente ele vem à tona – para, quase sempre, ser soterrado em frases feitas ou interesses imediatistas.

Se esta primeira atualização comemorativa lança um olhar para o já feito, buscando dar continuidade e aprofundamento ao trabalho, criando assim um sentido de acumulação essencial para qualquer iniciativa de reflexão e análise; na segunda parte desta comemoração de aniversário (que entra no ar em quinze dias) iremos olhar diretamente para o futuro, tentando trilhar caminhos novos na aproximação com a análise audiovisual.

Continuidade e novidade: tentar dar conta da combinação destes dois elementos é o que desejamos para os próximos aniversários da Cinética.

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