na
agenda Novembro/Dezembro 2009
Um dos gêneros no geral mais menosprezados pelo cinema
nacional recebe de presente de fim de ano uma mostra extremamente abrangente no
CCBB-RJ. Com curadoria do mesmo Eugênio Puppo, já responsável por seminais
mostras sobre o Cinema Marginal, Ozualdo Candeias e Mojica (entre outras), Horror
no Cinema Brasileiro traça um panorama incrivelmente amplo, que mostra as
principais incursões nacionais pelo cinema que margeia ou se entrega de todo ao
terror, indo de 1936 a 2009. Entre 22 de dezembro e 10 de janeiro, a mostra
exibe filmes dos nomes mais comumente relacionados ao cinema de gênero nacional
(como o próprio Mojica ou Ivan Cardoso), mas também possui trabalhos de nomes
como Carlos Hugo Christensen, além de filmes bastante raros e pouquíssimos exibidos.
A mostra chega até os dias de hoje através de filmes como O Fim da Picada,
Mangue Negro ou Encarnação do Demônio, além de promover a estréia
nacional de O Maníaco do Parque, filme baseado em caso verídico. Como é
de praxe nas mostras organizados por Puppo, também podemos esperar um farto catálogo
com documentação importante, que logo se tornará material histórico primordial
para o estudo do assunto abordado pela mostra. (Eduardo Valente)
*
* * Termina no próximo dia 20 de dezembro
no Rio, mas prossegue até o dia 27/12 no CCBB-SP a mostra Cinema
da Geórgia: Um Século de Filmes. Embora trate-se de uma panorama histórico
curto (apenas 12 longas), é mais do que relevante a oportunidade de ver obras
raríssimas no país, vindas de uma cinematografia pouquíssimo pensada nas suas
especificidades históricas, geralmente tendo apenas um ou outro filme passados
pelas mostras ou festivais internacionais dentro da enormidade de produção mundial
exibida nestes. A mostra passa filmes realizados entre 1928 e 2004, cruzando nomes
essenciais do cinema georgiano (como os mais reconhecidos por aqui Sergei Parajanov
e Otar Iosseliani) e épocas tão distintas quanto o fim da década de 20, a virada
dos anos 60 para os anos 70, até meados da década de 80. Assim como aconteceu
mais cedo no ano com o cinema polonês, é sempre uma oportunidade de dar conta
de uma entre as várias ignorâncias que carregamos do cinema feito fora dos grandes
centros produtores e exportadores. (Eduardo Valente) *
* * Em meio às comemorações pelos
20 anos da queda do Muro de Berlim aconteceentre 6 e 22 de novembro na
Cinemateca Brasileira (SP), e no CCBB de Brasília, entre 25 de
novembro e 06 de dezembro, a mostra O outro lado do muro: o cinema da Alemanha
Oriental, dedicada aos filmes da produtora estatal da República Democrática
Alemã, a DEFA (Deutsche Film-Aktiengesellschaft). Criada em 1946, somente um ano
após o final da II Guerra Mundial, a produtora esteve ativa por 45 anos acompanhando
um intenso percurso da história na Alemanha Oriental. Produção praticamente desconhecida
aqui no Brasil, os filmes parecem indicar uma relação com o cinema e com a história
que contraria a idéia de um “cinema de propaganda”. Impressiona na programação
filmes que foram posteriormente censurados pela própria RDA como é o caso de O
coelho Sou Eu (Kurt Maetzig, 1965), acusado de anti-socialista; e A Bicicleta
(Evelyn Schimidt, 1981), filme feminista rejeitado na Alemanha Ocidental, mas
bem aceito na Oriental. As guerras, o sistema burocrático e o cotidiano de uma
sociedade sob controle são temas preponderantes, mas os filmes prometem enfoques
interessantes como A Lenda de Paul e Paula (Heiner Carow, 1972), uma história
de amor entre uma jovem e um burocrata casado que arrastou 3 milhões de espectadores
para os cinemas, com a trilha de uma famosa banda alemã, a Puhdys. A mostra promete
descobertas. (Lila Foster) * * * Adorado
por muitos e esnobado por outros tantos, Woody Allen ganha pela primeira vez uma retrospectiva completa
de sua obra aqui no Brasil. A mostra A elegância de Woody
Allen teve início no último dia 03 e permanece até dia 29 no CCBB do Rio,
enquanto no CCBB paulista ela acontece de 18 de novembro a 13 de dezembro.
Numa atitude cada vez mais rara – e, por isso mesmo, extremamente louvável – a
produção da mostra fez questão de programar todos os 40 filmes para cinema de
Woody Allen em película (39 deles em 35mm, e a estréia de
Woody Allen na direção, What's Up, Tiger Lily?, em
16mm), além de preparar um amplo catálogo com textos críticos para todos os seus
filmes, o que torna a mostra uma oportunidade imperdível para recolocar toda a
obra do cineasta em perspectiva. (Leonardo Mecchi)
Agosto 2009 Entre
os inúmeros clichês que assobram a maior parte das discussões
cinematográficas, um dos mais recorrentes recentemente é o que,
a quase todo filme brasileiro a ser elogiado ou criticado, interpõe-se
uma comparação ao cinema argentino - "o filme tem uma sensibilidade
do cinema argentino" ou "não fazemos um cinema tão bom
quanto o argentino", etc. O que mais incomoda no clichê é que
no geral ele é baseado em 3 ou 4 filmes/diretores argentinos vistos por
aquele que utiliza as frases - um Filho da Noiva aqui, um Nove Rainhas
ali, um Pântano lá, um Plata Quemada acolá,
quiçá um Bonaerense e, no máximo, um Lisandro Alonso
visto em mostras. Grassa, portanto, uma ignorância geral sobre o que é
de fato o cinema argentino - não só na sua atualidade muito mais
abrangente e complexa, mas principalmente na sua história. Quem sabe, então,
a mostra Do Novo ao Novo Cinema Argentino sirva, no mínimo que seja,
para embasar um pouco mais este manancial enorme de clichês, dando a eles
pelo menos um pouquinho mais de substância. Mas, idealmente, o evento, que
ocupará os três CCBBs nos meses vindouros (em SP, de 19
de agosto a 6 de setembro; em Brasília, de 8 a 27 de setembro;
no Rio de Janeiro, de 15 de setembro a 4 de outubro - lamentavelmente em
paralelo ao Festival do Rio na maior parte de sua duração), é
capaz de mais que isso. Porque a curadoria de Fabián Nuñez e Priscila
Miranda caprichou no escopo, trazendo para o Brasil 12 longas realizados entre
1958 e 1966 (o chamado primeiro "novo cinema argentino") e mais 15 longas
da fase recente, pós-1997 - sendo que a maioria está inédita
no Brasil, numa rara mostra que não se contenta em reaquecer as mesmas
cópias já disponíveis e vistas (tanto que não tem
nenhum longa de Martel, Alonso, Piñeyro ou Burman na lista). Como se fosse
pouco, a produção caprichou ainda e traz a enorme maioria dos filmes
no formato original de 35mm. Chance imperdível de cobrir essa falha no
nosso conhecimento cinematográfico - embora, sejamos sinceros: quem gosta
de clichê vai preferir nem ver, para poder continuar falando sem culpa..
(Eduardo Valente)
* * * Apesar
das projeções em DVD, como já é praxe no Centro
Cultural São Paulo, a mostra Invenções no Cotidiano,
composta do que foi denominado pela curadoria de Silvana Olivieri e Henri Arraes
Gervaiseau de "documentários urbanos", vale ser destacada por
alguns dos títulos raros e inusitados que serão exibidos. Entre
os filmes programados, há desde médias-metragens de Eduardo Coutinho
(Santa Marta, Duas Semanas no Morro, 1987) e Jia Zhang-ke (Em Público,
2001) até longas de Agnès Varda (Daguerreotipos, 1975) e
Amos Gitaï (que estará presente com o díptico Wadi 1981-1991
e Wadi Grand Canyon 2001). A mostra acontece até 20 de agosto,
com entrada franca. (Leonardo Mecchi) * * * Seja
nos âmbitos artísticos e midiáticos, seja no âmbito acadêmico, o real, enquanto
conceito e expressão, parece ser o grande problema contemporâneo. Face a essa
questão (também abordada de certa forma pela recente mostra de cinema brasileiro
“Baseado em caso real”), o Seminário Internacional Retornos do Real: Cinema
e Pensamento Contemporâneos propõe discutir, a partir de cinematografias recentes,
como a brasileira, a argentina, a iraniana e a chinesa, uma pluralidade de práticas
artísticas e implicações políticas. O Seminário, que acontecerá entre os dias
19 e 21 agosto de 2009, no Fórum de Ciência e Cultura da UFRJ no Rio de Janeiro,
é uma realização do Fórum de Ciência e Cultura, do Programa de Pós-Graduação em
Comunicação da UFRJ e da University of London, Birkbeck College. Segundo a Comissão
Organizadora, este será o primeiro evento da Rede de Pesquisadores “Recoveries
of the Real”, que terá um segundo desdobramento no final deste ano em Londres
e no início do ano que vem em Buenos Aires. No evento brasileiro, além de pesquisadores
nacionais como Ismail Xavier, César Guimarães e Karl Erik Schöllhammer, para citar
alguns, diversos pesquisadores internacionais estarão presentes, como Yangjin
Zhang, especialista em cinema chinês; Davi Oubiña, pesquisador do cinema argentino
contemporâneo; Laura Marks e Tom Cohen, para mencionar os que estão vindo ao Brasil
pela primeira vez ou não vinham há muito tempo. Veja a programação
completa. (Ilana Feldman) * * * A
França também é tema da III Jornada de Cinema Silencioso que acontece entre
os dias 07 e 16 de agosto na Cinemateca Brasileira. A edição deste
ano mantém o mesmo perfil ao unir música contemporânea, filmes raros, debates
sobre história do cinema e preservação, mas a programação
traz tanta coisa boa, rara e de dificílimo acesso para o público brasileiro que
está difícil elencar destaques. Eric Le Roy, do Centro Nacional de Cinematografia
(CNC), fez uma compilação de 74 filmes dos Irmãos Lumière, restaurados pela instituição,
e uma coletânea de documentários, filmes científicos, viagens e vistas da França
com filmetes que vão de 1907 a 1920 – incluindo os curiosos De
onde vêm os cabelos falsos (D'où viennent les faux cheveux,
1909) e Hábitos das aranhas do campo (Moeurs
des araignées des champs, 1913) – e filmes do período da colonização francesa
na África como O Dia de uma muçulmana (La Journée
d’une musulmane, 1912) e Imagens da Tunísia (Images de Tunisie, 1925). A sessão especial
Destaques de Pordenone, com curadoria de Paolo Cherchi Usai, apresentará Filhinha
Querida (The Patsy, 1928) dirigido por King Vidor e estrelando Marion
Davis, mulher não reconhecida de William Randolph Hearst, empresário-inspiração
do Citizen Kane e dono da Cosmopolitan Productions, produtora do filme. O ciclo
A “Cinema do Povo” e os Anarquistas no Cinema traz filmes da cooperativa Cinéma
Du Peuple, criada em 1913, e conta com três conferências sobre cinema e anarquismo
com a historiadora Isabelle Marinone. Um pouco escondido sob o nome Imagens Francesas
de Sieurin estão filminhos de 1899 e 1900, que foram guardados por este cineasta
sueco durante anos em um só rolo de nitrato, e com a restauração foram separados
e identificados. Entre as preciosidades, filmes de Alice Guy Blaché, identificada
como a primeira diretora do cinema. Em homenagem aos 100 anos de Eva Nil, atriz
brasileira da qual não temos nenhuma imagem em movimento preservada, a Jornada
estréia o curta Eva Nil Cem Anos Sem Filmes. (Lila Foster)
Julho
2009
O Ano da França no Brasil tem sido generoso
com os cinéfilos. Depois de Chantal Akerman, Marguerite Duras, Jacques Tati e
Chris Marker, agora é a vez de Jean Rouch. E, ao que tudo indica, a Mostra
Jean Rouch – que já passou por Belo Horizonte e São Paulo e aporta no Instituto
Moreira Salles (IMS) entre os dias 18 de julho e 18 de agosto – está
à altura do cineasta. É uma das duas maiores já vistas no mundo, comparável apenas
àquela realizada pela Cinemateca Francesa em 1999. São 78 filmes (entre curtas,
médias e longas) do cineasta, além de outros 14 sobre ele. Segundo os curadores
(o filósofo e ensaísta Mateus Araújo e o antropólogo Andrea Paganini), estes são
todos os filmes do autor em condições de exibição na atualidade. Nome essencial
da história do cinema, Rouch arremessou o documentário à questão da relação com
o outro, crucial para os campos de origem do cineasta, a antropologia e a etnologia.
O seu cinema apresentaria diversas novas soluções para o problema, deslocando
o foco da informação para a fabulação. A ficção como um instrumento de compreensão
da realidade. Pois para ele, a premissa da não-intervenção era uma falácia. E
lá foi Rouch colecionar obras-primas: Os Mestres Loucos (1954), Eu,
um Negro (1958), Crônica de um Verão (1960), etc. Como introdução à
retrospectiva, o IMS ainda abrigará um colóquio internacional sobre o realizador
francês, de 7 a 11 de julho. São oito mesas temáticas para pensar o legado
de Rouch: o que ele representa para a história do cinema, suas relações com a
filmografia de outros realizadores e com o trabalho de alguns antropólogos, e
os seus vínculos diretos e indiretos com o Brasil – faltava talvez uma discussão
mais contemporânea, pois Rouch está na base de muito do que melhor tem se feito
hoje no cinema. Entre pesquisadores, antropólogos e críticos, as falas serão proferidas
em português e francês, com tradução simultânea. É preciso se inscrever - para
fazê-lo e conferir a programação, acesse a
página do IMS. (Julio Bezerra) * * * De
8 a 19 de julho, o CCBB-SP brinda o público paulistano com a mostra
The Lubitsch Touch - O cinema de Ernst Lubitsch, que reúne 15 filmes de
um dos nomes incontornáveis do cinema mundial. Com curadoria assinada por Arndt
Röskens, alemão radicado no Rio de Janeiro, o evento traz pelo menos quatro pérolas
na programação: cópias em 35mm de versões restauradas de Ana Bolena (1920,
talvez o maior momento da fase alemã do diretor) e Gatinha selvagem (1921,
comédia visualmente delirante com Pola Negri), e de duas obras-primas mais conhecidas,
Ninotchka (1939, que fez Garbo rir) e Ser ou não ser (1942, que
provou que Lubitsch era mestre até no timing da História). Poucos dos primeiros
filmes de Lubitsch sobreviveram até os dias de hoje, e um dos mais antigos, Sapataria
Pinkus (1916) será exibido em cópia no formato 16mm – é uma bela chance de
conferir a fase pré-Touch, menos "sofisticada", do cineasta.
Um raro filme sério, Os olhos da múmia (1918), e aquele que é tradicionalmente
apontado como o momento da primeira grande virada da carreira de Lubitsch, A
princesa das ostras (1919), também têm destaque na programação, que conta
ainda com um fragmento de A chama (1923), última produção européia de Lubitsch,
recuperado pela equipe do Munich Filmmuseum há alguns anos. Mostras dessa natureza
são tão raras hoje em dia no Brasil, que, com todos os elogios maiúsculos que
a iniciativa merece, é de se lamentar, porém, o recorte que exclui pelo menos
uma dezena de filmes importantíssimos. É impossível compreender a dimensão da
obra de Lubitsch sem que se testemunhe a sequência inigualável de obras-primas
produzidas na transição para o cinema sonoro, a começar pelo melodrama Amor
eterno (1929) e pelos musicais Alvorada do amor (1929), Monte Carlo
(1930), O tenente sedutor (1931) e Uma hora contigo (1932) – felizmente
disponíveis em caixa de DVDs do selo Eclipse, da Criterion Collection, e também
em diversas edições de baixo nível em DVD no Brasil. Ladrão de alcova (1932)
e Sócios no amor (1933), também indispensáveis, e que representam talvez
o momento máximo do "toque de Lubitsch", também são ausências especialmente
sentidas numa mostra intitulada, er, The Lubitsch Touch. A coisa só não
é tão grave porque A viúva alegre (1934), provavelmente seu melhor musical,
e o pouco celebrado mas notável A oitava esposa do barba azul (1938), escrito
por Billy Wilder e Charles Brackett, marcam presença na programação. A mostra
pula ainda mais duas obras-primas de fim de carreira - A loja da esquina
(1940), que junto com Aconteceu naquela noite (1934), de Capra, pode ser
considerado o parâmetro pelo qual todas as comédias românticas modernas tentam
se medir; e O diabo disse não (1943) - para se encerrar com O pecado
de Cluny Brown (1946), um filme menor, mas charmoso, com uma Jennifer Jones
hipnótica, no auge da beleza. A mostra exibe ainda um documentário intitulado
Ernst Lubitsch em Berlim (Robert Fischer, 2006), que traz depoimentos de
cineastas alemães da atualidade - nomes como Tom Tykwer, Wolfgang Becker e Dani
Levy, entre outras empulhações que, com Lubitsch, só dividem o país de origem.
(Fernando Veríssimo)
Junho
2009
Depois do Rio de Janeiro, é
a vez do CCBB de Brasília receber a impressionante mostra Chris
Marker - Um Bricoleur Multimídia, descrita abaixo por Daniel Caetano.
Depois de passar pela capital entre 16 e 28 de junho, a mostra segue para
o CCBB-SP, onde termina a turnê brasileira entre os dias 24/6
e 5/7. (Eduardo Valente)
Maio
2009
Está em cartaz no CCBB do Rio
de Janeiro uma mostra de filmes do francês Chris Marker. É coisa imperdível
– num ano de várias mostras dedicadas a grandes realizadores, essa é certamente
uma das maiores. Ela vai até o dia 7 de junho e, em meio a um bocado de
filmes raros de se ver, vai exibir jóias como Nível 5, O Fundo do Ar
É Vermelho, o célebre La Jetée e o encantador Gato Escutando a Música,
além dos filmes coletivos Longe do Vietnam e Já que dizemos que é possível,
e também de filmes feitos em parceria, como Até Breve, Espero (co-assinado
por Mario Marret) e a pequena obra-prima com que Marker iniciou a carreira, o
impressionante As Estátuas Também Morrem, co-assinado por Alain Resnais
(de quem Marker havia sido assistente em Noite e Neblina). Vale repetir:
é imperdível. Marker é um realizador incomum e são bem raras as oportunidades
de acesso a tantos filmes dele. A programação pode ser vista no blog
do cinético Julio Bezerra. (Daniel Caetano)
*
* *
Tratamos abaixo, em abril, da mostra
Marguerite Duras: Escrever Imagens, que aconteceu no Rio de Janeiro, e
que estava com viagem anunciada por outras quatro capitais brasileiras. A itinerância
de fato começa agora em maio, com paradas em Porto Alegre (Sala PF Gastal,
1 a 7 de maio) e São Paulo (Cinusp, 18 a 29). No entanto é importante
esclarecer que a mostra viaja numa versão "pocket", com apenas
7 dos 16 títulos exibidos no Rio. Embora seja uma pena a impossibilidade
de conhecer nos cinemas a quase totalidade do surpreendente trabalho da cineasta,
ainda assim o "apenas" acima deve ser relativizado, uma vez que alguns
dos mais importantes e/ou deliciosos filmes da mostra estarão entre estes
7, como é o caso de India Song, As Crianças ou L'homme
atlantique. Ou seja: integral ou não, é mostra a não
se perder. (Eduardo Valente)
Abril
2009
Depois das mostras dedicadas a
Chantal Akerman e Marguerite Duras, o Ano da França no Brasil vai se confirmando
como fonte de deleite constante garantido ao amante do cinema, com a realização
da mostra O Mundo de Tati - e o melhor é que já sabemos que
vem mais por aí, começando por Chris Marker ainda em maio... Embora
ainda não tenhamos 100% de certeza se a mostra será exibida em película
ou em DVD (ou parcialmente em cada formato), ainda assim a chance de ver a totalidade
dos trabalhos de Jacques Tati é motivo suficiente para ir ao CCBB-RJ
entre os dias 28 de abril e 3 de maio. Afinal de contas, é um cineasta
cujos filmes certamente ganham muito com a tela grande e a possibilidade do espetáculo
coletivo que ainda pode e deve ser o cinema. Chequem então a programação
da mostra. (Eduardo Valente)
* * * Em
seguida à mostra dedicada a Stan Brakhage (ler nota abaixo), a Caixa Cultural-RJ
mostra que 2009 vai ser um ano em que o cinéfilo carioca realmente terá que adicionar
o espaço ao seu circuito obrigatório. O espaço abriga entre 14 e 26 de abril,
a mostra Marguerite Duras: Escrever Imagens, que exibe o impressionante
total de 16 filmes realizados pela escritora e cineasta, a maioria exibida em
35mm (entre eles o essencial India Song). Sem ter sido algo planejado (pois realizados
por diferentes curadores e espaços), a mostra complementa curiosamente os eventos
dedicados a cineastas franceses nos últimos seis meses, incluindo aí a retrospectiva
de Alain Resnais (cujo Hiroshima Mon Amour foi roteirizado por Duras) e
Chantal Akerman (cujo diálogo com o cinema de Duras já foi destacado em alguns
textos e mostras pelo mundo). Parte da programação do Ano da França no Brasil,
a mostra circula depois por Porto Alegre (Sala PF Gastal, 1 a 7 de maio); São
Paulo (Cinusp, 18 a 29 de maio), Salvador (Sala Walter da Silveira, 5 a 11 de
junho) e Belo Horizonte (Cine Humberto Mauro, 15 a 21 de junho), num bem sacado
circuito de cinemas programados ou mantidos por instituições de diferentes níveis
de governo (estadual, municipal). (Eduardo Valente)
* * * É
chegado o momento, anualmente proporcionado pelo CineSESC, no Festival
SESC dos Melhores Filmes, de rever alguns dos principais filmes exibidos no
circuito comercial brasileiro ao longo do ano anterior (o que vem muito a calhar
já que só agora estamos mesmo subindo nossa retrospectiva do ano de 2008 aqui
na revista). Entre 9 e 30 de abril, a chance é ótima para ver alguns dos
filmes que se possa ter perdido (algo especialmente importante neste ano em que
destaques nacionais como Encarnação do Demônio, Cleópatra ou Falsa
Loura ficaram tão pouco tempo em cartaz) ou para rever alguns filmes que,
mesmo já disponíveis em DVD (como A Questão Humana ou Não Estou Lá),
talvez nos brindem com algumas das últimas chances de serem vistos na tela grande,
como é sempre melhor. Este será certamente o caso dos filmes lançados pelas majors
americanas (caso de Sweeney Todd, por exemplo), pois sabidamente estas
se desfazem das cópias em película num prazo incrivelmente curto. (Eduardo
Valente) * * * Entre os dias 7 e 26 de abril,
o CCBB-RJ é tomada de assalto pela Mostra do Filme Livre,
evento já tradicional do calendário audiovisual carioca que se firma
a cada ano junto aos realizadores independentes do Brasil como uma das poucas
plataformas para exibir seus filmes. O grosso da programação é
formada por 25 sessões de curtas, separados entre uma mostra competitiva
e outra informativa. Embora o gigantismo seja compreensível politicamente,
pelo desejo de exibir o máximo possível de trabalhos, ele também
dificulta um pouco qualquer olhar mais abrangente sobre caminhos que a mostra
encontre curatorialmente na produção de curtas brasileiros atual.
Para isso, talvez seja mais fácil se ater às homenagens sempre antenadas
(este ano dedicadas a Sérgio Ricardo e à produtora catarinense Canibal
Filmes) e/ou às sessões de longas, cujo recorte mais "rigoroso"
(entendido aqui pelo simples fato de precisar selecionar um número menor)
aponta para uma série de filmes que, na maior parte, são ignorados
pelos festivais maiores e pelo circuito comerical - muitos deles acabam só
sendo exibidos no Rio de Janeiro durante a MFL. A programação
completa tem ainda debates, palestras, festas, exibições em
cineclubes pela cidade... em suma, muita coisa legal. (Eduardo Valente)
*
* * Correndo a página até o mês de fevereiro,
o leitor poderá ver a menção à mostra 100
Anos da Cinematografia Polonesa, que depois de passar por Rio
e São Paulo chega agora a Curitiba, onde acontece entre 17 e 30 de abril
na Cinemateca de Curitiba. Lembrando que todas as projeções
são em DVD, ainda assim é preciso mencionar a força de alguns
filmes difíceis de se encontrar e que valem a visita - em especial O
Interrogatório e Mimetismo, programa duplo fortíssimo
no dia 25/4. (Eduardo Valente)
* * * O
cinema asiático toma conta das salas públicas de São Paulo
este mês, com três mostras dedicadas a diferentes cinematografias
da região. Nos finais de semana do mês de abril, até o
dia 26, a Biblioteca Pública Roberto Santos hospeda a mostra
China: Horizonte Vermelho, que exibe em DVD um panorama do cinema chinês
com filmes de 1948 (Primavera Numa Aldeia, de Fei Mu) a 2006 (Summer
Palace, de Lou Ye), passando por nomes como Zhang Yimou (que comparece na
mostra com Sorgo Vermelho e Lanternas Vermelhas) e Jia Zhang Ke
(de quem se exibem Pickpocket, seu primeiro filme, e Em Busca da Vida).
Enquanto isso, o Centro Cultural São Paulo
emenda duas mostras asiáticas em sua programação. De 7
a 19 de abril acontece a mostra Um Perfil do Cinema Japonês Contemporâneo
- que, ao contrário do que ocorre normalmente no espaço, terá
todas as suas projeções em película 16mm. Serão exibidos
filmes como Verão Negro - Falsa Acusação, de Kei Kumai
(premiado em Berlim em 2001); A Garota Que Saltou no Tempo, premiada animação
de Mamoru Hosoda; e A Espada Oculta, de Yoji Yamada. Na seqüência,
de 28 de abril a 03 de maio, voltam as projeções em DVD para
a mostra As Nuanças do Cinema Sul-Coreano, que tem como principal
destaque Cão Que Ladra Não Morde, de Bong Joon-ho. (Leonardo
Mecchi)
* * *
Depois
de um março caprichado, como se pode ver abaixo, abril começa igualmente recheado
de opções marcantes para o cinéfilo – em especial o carioca. A distinção geográfica
se justifica pela exclusividade da realização na Caixa Cultural-RJ de um
evento da importância deste Stan Brakhage – A Aventura da Percepção, entre
7 e 12 abril. Ao longo destes dias serão exibidos no formato original em
16mm um total de 27 títulos (entre longas, médias e, predominantemente, curtas)
realizados por este cineasta americano chamado pela curadoria do evento, não sem
razão, de “mais influente cineasta experimental de todos os tempos”. Trata-se
de oportunidade inédita no país, a ser celebrada com intensidade. Mais detalhes
sobre a programação e sobre o cineasta, o leitor encontra no site da mostra. (Eduardo
Valente)
* * * A Cinemateca Brasileira permite
ao espectador paulistano um contato mesmo que tardio com uma obra instigante na
mostra Carlos Nader: Ensaios Audiovisuais, realizada entre 1 e 12 de
abril. Trazido definitivamente à atenção de um público mais amplo no ano passado,
com a vitória no É Tudo Verdade e o posterior lançamento comercial de Pan-Cinema
Permanente, Carlos Nader é realizador que transita entre formatos bem distintos,
do documentário à videoarte. A mostra, cuja programação apresenta sua numerosa obra
completa, terá ainda debates com artistas como Antonio Cícero, Caetano Veloso
e Carlos Adriano. (Eduardo Valente)
* * * Um dos
acontecimentos mais importantes em termos de difusão e debate de filmes em São
Paulo é sem dúvida o Cineclube Equipe (sobre o qual já falamos na revista
em um artigo) . Não só pelo que é exibido nas
suas sessões, mas sobretudo, porque eles ancoram seus ciclos anuais a conceitos
muito bem definidos. Este ano, estimulados pelo livro Historiografia Clássica
do Cinema Brasileiro, de Jean-Claude Bernardet, o cineclube empreende uma "Investigação
do cinema no Brasil". A programação deste seu quarto ano de atividades
começa nesse sábado dia 04 de abril discutindo o cineclubismo no Brasil,
com a exibição às 16h de Iracema - Uma Transa Amazônica (Jorge Bodanzky
e Orlando Senna, 1974), que segundo o cineclube "obteve grande público em
exibições alternativas em cineclubes e centros culturais". O debate começa
em seguida, com André Gatti, professor de história do cinema brasileiro e ativista
do movimento cineclubista. O endereço do auditório do Colégio Equipe é R. Bento
Frias, 223 - Pinheiros, São Paulo (tel. 3579-9150). (Francis Vogner dos Reis)
*
* * O começo de ano tem sido mesmo auspicioso para o amante
do cinema no Rio de Janeiro. Para além de algumas preciosas mostras sobre as quais
tratamos acima e abaixo desta nota, abril marcará a segunda adição de uma sala
de repertório regular diferenciado à programação constante de cinema da cidade.
Depois do Cine Glória (do qual tratamos mês passado), agora é a vez do cinema
do Instituto Moreira Salles, que até março cumpria principalmente o papel
de final de circuito do Arteplex local. Capitaneado pelo crítico José Carlos Avellar,
o cinema estréia a nova fase prometendo “propor mostras com conceitos mais abertos
(que poderãotambém se combinar com filmes em circuito), buscando estabelecer conexões
menos óbvias entre os filmes apresentados, favorecendo uma percepção mais instigante
do cinema, fugindo aos conceitos mais recorrentes que costumam nortear as reflexões
sobre cinema”. É uma declaração de princípios ousada, que tem abertura no dia
3 de abril com uma mostra denominada Bolívia, a partir do filme
argentino homônimo, dirigido por Israel Adrián Caetano em 2001, que tem contrato
de distribuição com o Brasil mas permanecia inédito. Entre outros, juntam-se ao
filme-titulo a pré-estréia do filme de Eryk Rocha, Pachamama; e um clássico
do cinema boliviano, Sangue de Condor (1969), de Jorge Sanjinés. A programação
(que pode ser vista aqui) segue a linha de
alguns cinemas de repertório parisienses ou novaiorquinos, revezando os filmes
em múltiplas apresentações ao longo do mês, fugindo tanto do modelo comercial
(que não consegue dar conta de filmes como o próprio Bolívia) quanto das
mostras temáticas de duração mais curta, com menos exibições de cada título. É
torcer para que a sala, infelizmente localizada em espaço de difícil acesso, seja
descoberta logos pelos cinéfilos mais aventureiros para que o perfil tenha continuidade
que a permita firmar-se. (Eduardo Valente)
Março
2009
A notícia é muito boa para
o cinéfilo carioca: o Cine Glória está passando por
uma reformulação grande na sua programação e a partir
deste mês começa a abrigar cursos e eventos especiais, tentando fazer
da simpática sala na Glória, ainda pouco conhecida e frequentada,
um pólo agregador de pessoas a fim de ver, pensar e fazer cinema no Rio
de Janeiro. Um dos eventos mensais agregados ao cardápio será o
Cinema Falado, uma sessão seguida sempre de debate com críticos,
teóricos e/ou realizadores. A primeira delas, nesta quinta, dia 26/03,
exibe Meu Nome é Dindi, o premiado londa de estréia de
Bruno Safadi (em Tiradentes e Santa Maria da Feira levou o prêmio principal).
Tendo cumprido passagem-relâmpago pelo circuito comercial, o filme tem assim
mais uma chance de ser visto, numa sessão seguida de debate com o próprio
diretor e Ruy Gardnier, da Contracampo. Acima de tudo, a torcida é para
que a nova fase do Cine Glória "pegue", e os cariocas ganhem
um espaço verdadeiramente alternativo e inteligente. (Eduardo Valente)
*
* *
A Cinemateca Brasileira vem prestando
um ótimo serviço para a difusão de uma cinematografia pouco vista por aqui com
a mostra Bollywood e Cinema Indiano, que chega à sua terceira edição entre
os dias 17 e 29 de março. E assim como na mostra de cinema polonês (vide
nota mais abaixo), por se tratar de uma cinematografia pouco vista mesmo por nós
da revista, fomos atrás de recomendações de amigos críticos e cinéfilos do país
em questão. Dentre a programação desta edição da mostra “Bollywood e Cinema Indiano”,
a crítica indiana Taran Khan recomenda Johnny Gaddaar, de Sriram Raghavan
(espécie de film noir indiano); Bombay, de Mani Ratnam (melodrama
musical com trilha de A.R. Rehman – o mesmo premiado no Oscar por Quem Quer
Ser Um Milionário?); Black Friday, de Anurag Kashyap (filme sobre o
terrorismo perpetrado contra os muçulmanos na Índia); The Terrorist, de
Santosh Sivan (produção independente inspirada por eventos em torno do assassinato
do ex-Primeiro Ministro Rajiv Gandhi, foi o primeiro filme indiano exibido no
Festival de Sundance Film Festival); e Bobby, de Raj Kapoor (um clássico
de Bollywood de 1973). É mais uma chance de ir à fascinante fonte original, deixando
de lado mediadores como Danny Boyle e Glória Perez... (Leonardo Mecchi)
*
* * Durante todo o mês de março, a Cinemateca
do MAM - RJ exibe, sempre em sessões únicas, uma mostra com justiça nomeada
de Clássicos do Cinema Japonês. Com títulos que vão de 1936 (Filho Único,
primeiro filme sonoro de Yasujiro Ozu) a 1993 (Sonatine, de Takeshi Kitano),
a programação (disponível no site
do Museu) traz filmes de Kenji Mizoguchi, Akira Kurosawa, Mikio Naruse, Hiroshi
Teshigahara, Masahiro Shinoda, Nagisa Oshima e Teinosuke Kinugasa, incluindo-se
aí filmes fundamentais do cinema mundial como Viagem a Tóquio, de Ozu ou
Contos da Lua Vaga, de Mizoguchi. O fato da maior parte dessas cópias circularem
com alguma frequência nas salas cariocas (há ainda alguns filmes passando em DVD,
uma minoria), não deve desanimar o espectador, pois afinal o ato de rever é tão
essencial quanto o de ver. (Eduardo Valente e Fábio Andrade)
*
* *
Com um escopo bem amplo, a Caixa Cultural
do Rio apresenta, de 10 a 22 de março, a mostra Retomando a Questão
da Indústria Cinematográfica Brasileira, que realizará um panorama histórico
das principais tentativas de se implantar uma indústria cinematográfica no Brasil,
enquanto passa também por movimentos como o Cinema Novo, Cinema Marginal e a Pornochanchada.
Serão exibidos clássicos da Cinédia (Alô, Alô, Carnaval e O Ébrio,
até hoje considerado uma das maiores bilheterias do cinema brasileiro), da Atlântida
(Carnaval Atlântida), da Vera Cruz (O Cangaceiro), além de outros
sucessos de bilheteria, de Dona Flor e Seus Dois Maridos a Cidade de
Deus. A cada dia, estudiosos e pesquisadores discutirão cada um dos momentos
retratados na programação, com participações de Hernani Heffner, Arthur Autran,
Luis Alberto Rocha Mello e Pedro Butcher, entre outros. (Leonardo Mecchi) *
* *
Reforçando uma tendência recente,
o CCBB apresenta em março, num trabalho conjunto dos seus três
centros pelo Brasil (em SP, de 4 a 22 de março; no Rio, de 10 a 26;
no DF, de 17 a 29), a mostra O Cinema de Chantal Akerman. Embora tenha
alguns dos mesmos atributos positivos (como a aposta numa mostra que depende de
grande investimento e trabalho de pesquisa fora dos acervos nacionais, já
um tanto esgotados em sua disponibilidade de trazer novidades e/ou variedade de
oferta no que se refere ao cinema mundial), a grande diferença desta mostra
para eventos recentes, como as retrospectivas dedicadas a Alain Resnais ou Robert
Altman, está justamente no fato do nome da cineasta belga radicada na França
não trazer um grau de reconhecimento imediato mais fácil, nem mesmo
para boa parte do público cinéfilo. Reconhecidamente, ao longo de
mais de 40 anos de trabalho, sua obra é uma das mais importantes do cinema
francês recente, mas mesmo assim muitos de seus filmes têm sido completamente
ignorados mesmo pelos principais festivais internacionais do país. Até
por isso, a oportunidade de assistir em conjunto duas dezenas de seus trabalhos
(que passam de 40, entre diferentes durações, registros e variando
entre produções para cinema e TV) é mais do que urgente.
Ainda mais quando acompanhada da presença no Brasil da própria diretora,
e da publicação de mais um caprichado catálogo que acaba
completando um trabalho de cinema ao suprir ausências também do nosso
circuito editorial. Desde já, um dos eventos do ano. (Eduardo
Valente) * * *
Logo
em seguida à mostra dedicada ao cinema polonês (ver nota no mês
abaixo), o CCBB-RJ apresenta um programa dedicado à cinematografia
continental menos conhecida e exibida internacionalmente (não só
no Brasil). Com a mostra Clássicos Africanos Restaurados, que exibe
entre 3 e 8 de março, o centro cultural reforça uma muito
bem vinda tendência de, em trabalho conjunto com as embaixadas, dar a ver
ao cinéfilo carioca filmes que ele absolutamente não tinha tido
ainda a chance de ver. Curiosamente, no caso da mostra africana, a embaixada com
que se trabalha é a francesa - o que certamente explica por que, entre
os 16 títulos exibidos (9 longas, 7 curtas), uma quantidade razoável
trata do tema da relação entre as ex-colônias e a França,
ou da vida dos imigrantes no país europeu. Colonialismo à parte,
é histórico o papel importante das instituições culturais
francesas no financiamento e difusão do cinema de países como Senegal
ou Mali (que concentram a maior parte dos filmes deste recorte francófono
da África - para além dos dois, há filmes de Nigéria
e Madagascar). Com maior número de produções dos anos 70
e 80, a mostra contempla filmes de 1957 a 1997, exibindo somente realizadores
sem maior reconhecimento no Brasil. Chance única, portanto. (Eduardo
Valente)* * *
Provando
que muitas vezes o cinema desconhecido do espectador não precisa ser aquele
mais distante geograficamente, o CCBB-DF promove, entre 3 e 15 de março
a mostra Watson Macedo, dedicada ao cinema de um realizador de carreira
prolífica (da qual se exibem 14 filmes), mas no geral pouco conhecido pelo
espectador brasileiro - mesmo o mais interessado pelo cinema nacional. Uma das
hipóteses para este desconhecimento/esquecimento, levantada pelo curador
da mostra, Filipe Furtado, é a posição curiosa de Macedo,
realizador que trafegava dentro do cinema popular com um cuidado e habilidade
cinematográfica incomuns (além de diretor, ele trabalhou como montador,
câmera, cenógrafo, roteirista). A mostra exibe, ao lado de Aviso
aos Navegantes, filme que ganhou maior reconhecimento recente (inclusive por
ter sido restaurado e exibido no Festival do Rio), uma série de obras muito
pouco vistas e lembradas, dando à sua própria realização
inegável e histórica (no sentido estrito) importância. (Eduardo
Valente)
Fevereiro
2009
Esta vai para o paulistano que realmente
prefere um carnaval nos cinemas (e são vários): o Instituto Goethe disponibiliza
a íntegra de Berlin Alexanderplatz, de Rainer Werner Fassbinder,
que será exibido no Centro Cultural São Paulo entre os dias 25 de fevereiro
e 1º de março, em 14 episódios de aproximadamente uma hora cada (a exceção
do primeiro capítulo e do epílogo, que possuem mais de 90 minutos). Trata-se de
uma boa oportunidade para quem não viu a obra quando foi exibida na última na
Mostra de SP (quando se tem um universo de centenas de filmes a serem vistos em
poucos dias – sendo que em muitos casos trata-se de uma oportunidade única de
vê-los) e que prefere a sala de cinema à TV (uma vez que o DVD restaurado e remasterizado
foi lançado pela Versátil no final do ano passado). (Leonardo Mecchi)
*
* * Mesmo nos nossos principais
festivais internacionais ou nos centros culturais e cinematecas, raras são
as chances que temos de olhar para o passado de uma cinematografia periférica,
algo essencial para que possamos olhar o "cinema mundial" realmente
entendido como tal. Por isso mesmo, não se pode fazer pouco de uma oportunidade
como a que nos oferece a mostra 100 Anos da Cinematografia Polonesa, que
o CCBB-RJ recebe até o dia 1º de março. Organizado pela Embaixada
Polonesa, o evento exibe 14 longas que vão de 1929 a 2008, a maioria deles
completamente inédito no Brasil. Claro que 14 filmes passam longe de nos
contar uma história completa, mas é muito mais do que geralmente
temos a chance de conhecer sobre um cinema tão pouco visto para além
dos suspeitos usuais (Polanski, Wajda e Kieslowski, claro, e depois já
um grupo bem mais fechado formado por Skolimowski, Kawalerowicz, Zanussi e uns
poucos). Finalmente, vale dividir com o leitor algumas dicas passadas por amigos
estrangeiros (um deles, polonês), para aqueles que não possam mergulhar
tão de cabeça no total da mostra: atenção especial
então a Tchau, Até Amanhã (de Janusz Morgenstern,
1960); Hotel Pacífico (de Janusz Majewski, 1975); A Dívida
(de Krzystof Krauze, 1999); O Interrogatório (de Ryszard Bugajski,
1982); e a curiosidade inevitável pelo filme de 1929, O Homem Obstinado
(de Henryk Szaro) - isso tudo, é claro, além dos filmes dos já
citados Wajda, Kawalerowicz e Zanussi. Atualização da nota:
Tendo ido conferir a mostra no CCBB-RJ, há dois comentários a fazer.
O positivo é que o material escrito que acompanha a mostra (e inclui um
bem vindo pequeno resumo da história do cinema polonês - ainda que
num português bastante truncado) informa que ela passa até junho
por mais onze cidades brasileiras (sem datas específicas mencionadas: Belém,
Belo Horizonte, Brasília, Curitiba, Erechim, Florianópolis, Goiânia,
Palmas, Porto Alegre, Salvador e São Paulo), o que é
uma bela notícia já que a maioria das mostras especiais quase sempre
se limitam ao eixo Rio-SP-DF. O negativo é que a mostra é toda realizada
em projeções de DVD, como tem sido praxe cada vez mais. Claro
que em se tratando de um material tão raro, continua sendo uma oportunidade
e tanto, e é de se entender que, com a ausência de abrangente acervos
no Brasil, os custos (ainda mais em tempos de crise, dólar alto, diminuição
dos orçamentos das mostras em geral, etc) de importação de
cópias em película é mesmo muito alto. No entanto, tudo isso
só nos faz apreciar mais e mais esforços como os das recentes mostras
de Resnais, Altman ou da Nouvelle Vague Indiana, que passam por cima de tudo isso
e priorizam, mesmo a altos custos, a exibição de um grande número
de filmes no material em que foram feitos e que ainda os dá maior qualidade
de apresentação. (Eduardo Valente) *
* * Os poucos filmes alemães recentes
que têm alcançado alguma repercussão aqui no Brasil (filmes como Adeus,
Lênin!, Edukators, A Queda, Sophie Scholl e A Vida dos Outros) não são mais
do que uma pequeníssima amostra de uma produção que atinge mais de 100 filmes
por ano. Parte dessa produção será exibida na mostra Novo Cinema Independente
Alemão: Uma Outra Política do Olhar, que ocupa o CCBB-SP de 11 de
fevereiro a 1º de março. A curadoria de Cristian Borges e Martine Floch selecionou
18 longas-metragens produzidos entre 1998 e 2007 e realizados por novos cineastas
que costumam trabalhar fora dos grandes estúdios. Entre eles estão Christian Petzold
(Controle de Identidade, Fantasmas e Yella),
Christoph Hochhäusler (Caminho do Bosque, O Impostor), Hans-Christian
Schmid (Luzes) e Maria Speth (Madonas), todos eles cineastas premiados
em diversos festivais pelo mundo. Além da exibição de filmes inéditos no Brasil,
a mostra promete ainda cursos, debates e um encontro com o diretor Christoph Hochhäusler,
que irá discutir essa nova produção alemã, além de um recheado catálogo com artigos
inéditos sobre os filmes desse período e entrevistas exclusivas. (Leonardo Mecchi)
Relembre
destaques da agenda de 2008
Relembre
destaques da agenda de 2007 |