na agenda
Novembro/Dezembro 2009

Um dos gêneros no geral mais menosprezados pelo cinema nacional recebe de presente de fim de ano uma mostra extremamente abrangente no CCBB-RJ. Com curadoria do mesmo Eugênio Puppo, já responsável por seminais mostras sobre o Cinema Marginal, Ozualdo Candeias e Mojica (entre outras), Horror no Cinema Brasileiro traça um panorama incrivelmente amplo, que mostra as principais incursões nacionais pelo cinema que margeia ou se entrega de todo ao terror, indo de 1936 a 2009. Entre 22 de dezembro e 10 de janeiro, a mostra exibe filmes dos nomes mais comumente relacionados ao cinema de gênero nacional (como o próprio Mojica ou Ivan Cardoso), mas também possui trabalhos de nomes como Carlos Hugo Christensen, além de filmes bastante raros e pouquíssimos exibidos. A mostra chega até os dias de hoje através de filmes como O Fim da Picada, Mangue Negro ou Encarnação do Demônio, além de promover a estréia nacional de O Maníaco do Parque, filme baseado em caso verídico. Como é de praxe nas mostras organizados por Puppo, também podemos esperar um farto catálogo com documentação importante, que logo se tornará material histórico primordial para o estudo do assunto abordado pela mostra.
(Eduardo Valente)

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Termina no próximo dia 20 de dezembro no Rio, mas prossegue até o dia 27/12 no CCBB-SP a mostra Cinema da Geórgia: Um Século de Filmes. Embora trate-se de uma panorama histórico curto (apenas 12 longas), é mais do que relevante a oportunidade de ver obras raríssimas no país, vindas de uma cinematografia pouquíssimo pensada nas suas especificidades históricas, geralmente tendo apenas um ou outro filme passados pelas mostras ou festivais internacionais dentro da enormidade de produção mundial exibida nestes. A mostra passa filmes realizados entre 1928 e 2004, cruzando nomes essenciais do cinema georgiano (como os mais reconhecidos por aqui Sergei Parajanov e Otar Iosseliani) e épocas tão distintas quanto o fim da década de 20, a virada dos anos 60 para os anos 70, até meados da década de 80. Assim como aconteceu mais cedo no ano com o cinema polonês, é sempre uma oportunidade de dar conta de uma entre as várias ignorâncias que carregamos do cinema feito fora dos grandes centros produtores e exportadores.
(Eduardo Valente)

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Em meio às comemorações pelos 20 anos da queda do Muro de Berlim aconteceentre 6 e 22 de novembro na Cinemateca Brasileira (SP), e no CCBB de Brasília, entre 25 de novembro e 06 de dezembro, a mostra O outro lado do muro: o cinema da Alemanha Oriental, dedicada aos filmes da produtora estatal da República Democrática Alemã, a DEFA (Deutsche Film-Aktiengesellschaft). Criada em 1946, somente um ano após o final da II Guerra Mundial, a produtora esteve ativa por 45 anos acompanhando um intenso percurso da história na Alemanha Oriental. Produção praticamente desconhecida aqui no Brasil, os filmes parecem indicar uma relação com o cinema e com a história que contraria a idéia de um “cinema de propaganda”. Impressiona na programação filmes que foram posteriormente censurados pela própria RDA como é o caso de O coelho Sou Eu (Kurt Maetzig, 1965), acusado de anti-socialista; e A Bicicleta (Evelyn Schimidt, 1981), filme feminista rejeitado na Alemanha Ocidental, mas bem aceito na Oriental. As guerras, o sistema burocrático e o cotidiano de uma sociedade sob controle são temas preponderantes, mas os filmes prometem enfoques interessantes como A Lenda de Paul e Paula (Heiner Carow, 1972), uma história de amor entre uma jovem e um burocrata casado que arrastou 3 milhões de espectadores para os cinemas, com a trilha de uma famosa banda alemã, a Puhdys. A mostra promete descobertas.
(Lila Foster)

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Adorado por muitos e esnobado por outros tantos, Woody Allen ganha pela primeira vez uma retrospectiva completa de sua obra aqui no Brasil. A mostra A elegância de Woody Allen teve início no último dia 03 e permanece até dia 29 no CCBB do Rio, enquanto no CCBB paulista ela acontece de 18 de novembro a 13 de dezembro. Numa atitude cada vez mais rara – e, por isso mesmo, extremamente louvável – a produção da mostra fez questão de programar todos os 40 filmes para cinema de Woody Allen em película (39 deles em 35mm, e a estréia de Woody Allen na direção, What's Up, Tiger Lily?, em 16mm), além de preparar um amplo catálogo com textos críticos para todos os seus filmes, o que torna a mostra uma oportunidade imperdível para recolocar toda a obra do cineasta em perspectiva.
(Leonardo Mecchi)


Agosto 2009

Entre os inúmeros clichês que assobram a maior parte das discussões cinematográficas, um dos mais recorrentes recentemente é o que, a quase todo filme brasileiro a ser elogiado ou criticado, interpõe-se uma comparação ao cinema argentino - "o filme tem uma sensibilidade do cinema argentino" ou "não fazemos um cinema tão bom quanto o argentino", etc. O que mais incomoda no clichê é que no geral ele é baseado em 3 ou 4 filmes/diretores argentinos vistos por aquele que utiliza as frases - um Filho da Noiva aqui, um Nove Rainhas ali, um Pântano lá, um Plata Quemada acolá, quiçá um Bonaerense e, no máximo, um Lisandro Alonso visto em mostras. Grassa, portanto, uma ignorância geral sobre o que é de fato o cinema argentino - não só na sua atualidade muito mais abrangente e complexa, mas principalmente na sua história. Quem sabe, então, a mostra Do Novo ao Novo Cinema Argentino sirva, no mínimo que seja, para embasar um pouco mais este manancial enorme de clichês, dando a eles pelo menos um pouquinho mais de substância. Mas, idealmente, o evento, que ocupará os três CCBBs nos meses vindouros (em SP, de 19 de agosto a 6 de setembro; em Brasília, de 8 a 27 de setembro; no Rio de Janeiro, de 15 de setembro a 4 de outubro - lamentavelmente em paralelo ao Festival do Rio na maior parte de sua duração), é capaz de mais que isso. Porque a curadoria de Fabián Nuñez e Priscila Miranda caprichou no escopo, trazendo para o Brasil 12 longas realizados entre 1958 e 1966 (o chamado primeiro "novo cinema argentino") e mais 15 longas da fase recente, pós-1997 - sendo que a maioria está inédita no Brasil, numa rara mostra que não se contenta em reaquecer as mesmas cópias já disponíveis e vistas (tanto que não tem nenhum longa de Martel, Alonso, Piñeyro ou Burman na lista). Como se fosse pouco, a produção caprichou ainda e traz a enorme maioria dos filmes no formato original de 35mm. Chance imperdível de cobrir essa falha no nosso conhecimento cinematográfico - embora, sejamos sinceros: quem gosta de clichê vai preferir nem ver, para poder continuar falando sem culpa..
(Eduardo Valente)

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Apesar das projeções em DVD, como já é praxe no Centro Cultural São Paulo, a mostra Invenções no Cotidiano, composta do que foi denominado pela curadoria de Silvana Olivieri e Henri Arraes Gervaiseau de "documentários urbanos", vale ser destacada por alguns dos títulos raros e inusitados que serão exibidos. Entre os filmes programados, há desde médias-metragens de Eduardo Coutinho (Santa Marta, Duas Semanas no Morro, 1987) e Jia Zhang-ke (Em Público, 2001) até longas de Agnès Varda (Daguerreotipos, 1975) e Amos Gitaï (que estará presente com o díptico Wadi 1981-1991 e Wadi Grand Canyon 2001). A mostra acontece até 20 de agosto, com entrada franca. (Leonardo Mecchi)

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Seja nos âmbitos artísticos e midiáticos, seja no âmbito acadêmico, o real, enquanto conceito e expressão, parece ser o grande problema contemporâneo. Face a essa questão (também abordada de certa forma pela recente mostra de cinema brasileiro “Baseado em caso real”), o Seminário Internacional Retornos do Real: Cinema e Pensamento Contemporâneos propõe discutir, a partir de cinematografias recentes, como a brasileira, a argentina, a iraniana e a chinesa, uma pluralidade de práticas artísticas e implicações políticas. O Seminário, que acontecerá entre os dias 19 e 21 agosto de 2009, no Fórum de Ciência e Cultura da UFRJ no Rio de Janeiro, é uma realização do Fórum de Ciência e Cultura, do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da UFRJ e da University of London, Birkbeck College. Segundo a Comissão Organizadora, este será o primeiro evento da Rede de Pesquisadores “Recoveries of the Real”, que terá um segundo desdobramento no final deste ano em Londres e no início do ano que vem em Buenos Aires. No evento brasileiro, além de pesquisadores nacionais como Ismail Xavier, César Guimarães e Karl Erik Schöllhammer, para citar alguns, diversos pesquisadores internacionais estarão presentes, como Yangjin Zhang, especialista em cinema chinês; Davi Oubiña, pesquisador do cinema argentino contemporâneo; Laura Marks e Tom Cohen, para mencionar os que estão vindo ao Brasil pela primeira vez ou não vinham há muito tempo. Veja a programação completa.
(Ilana Feldman)

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A França também é tema da III Jornada de Cinema Silencioso que acontece entre os dias 07 e 16 de agosto na Cinemateca Brasileira. A edição deste ano mantém o mesmo perfil ao unir música contemporânea, filmes raros, debates sobre história do cinema e preservação, mas a programação traz tanta coisa boa, rara e de dificílimo acesso para o público brasileiro que está difícil elencar destaques. Eric Le Roy, do Centro Nacional de Cinematografia (CNC), fez uma compilação de 74 filmes dos Irmãos Lumière, restaurados pela instituição, e uma coletânea de documentários, filmes científicos, viagens e vistas da França com filmetes que vão de 1907 a 1920 – incluindo os curiosos De onde vêm os cabelos falsos (D'où viennent les faux cheveux, 1909) e Hábitos das aranhas do campo (Moeurs des araignées des champs, 1913) – e filmes do período da colonização francesa na África como O Dia de uma muçulmana (La Journée d’une musulmane, 1912) e Imagens da Tunísia (Images de Tunisie, 1925). A sessão especial Destaques de Pordenone, com curadoria de Paolo Cherchi Usai, apresentará Filhinha Querida (The Patsy, 1928) dirigido por King Vidor e estrelando Marion Davis, mulher não reconhecida de William Randolph Hearst, empresário-inspiração do Citizen Kane e dono da Cosmopolitan Productions, produtora do filme. O ciclo A “Cinema do Povo” e os Anarquistas no Cinema traz filmes da cooperativa Cinéma Du Peuple, criada em 1913, e conta com três conferências sobre cinema e anarquismo com a historiadora Isabelle Marinone. Um pouco escondido sob o nome Imagens Francesas de Sieurin estão filminhos de 1899 e 1900, que foram guardados por este cineasta sueco durante anos em um só rolo de nitrato, e com a restauração foram separados e identificados. Entre as preciosidades, filmes de Alice Guy Blaché, identificada como a primeira diretora do cinema. Em homenagem aos 100 anos de Eva Nil, atriz brasileira da qual não temos nenhuma imagem em movimento preservada, a Jornada estréia o curta Eva Nil Cem Anos Sem Filmes. (Lila Foster)



Julho 2009

O Ano da França no Brasil tem sido generoso com os cinéfilos. Depois de Chantal Akerman, Marguerite Duras, Jacques Tati e Chris Marker, agora é a vez de Jean Rouch. E, ao que tudo indica, a Mostra Jean Rouch – que já passou por Belo Horizonte e São Paulo e aporta no Instituto Moreira Salles (IMS) entre os dias 18 de julho e 18 de agosto – está à altura do cineasta. É uma das duas maiores já vistas no mundo, comparável apenas àquela realizada pela Cinemateca Francesa em 1999. São 78 filmes (entre curtas, médias e longas) do cineasta, além de outros 14 sobre ele. Segundo os curadores (o filósofo e ensaísta Mateus Araújo e o antropólogo Andrea Paganini), estes são todos os filmes do autor em condições de exibição na atualidade. Nome essencial da história do cinema, Rouch arremessou o documentário à questão da relação com o outro, crucial para os campos de origem do cineasta, a antropologia e a etnologia. O seu cinema apresentaria diversas novas soluções para o problema, deslocando o foco da informação para a fabulação. A ficção como um instrumento de compreensão da realidade. Pois para ele, a premissa da não-intervenção era uma falácia. E lá foi Rouch colecionar obras-primas: Os Mestres Loucos (1954), Eu, um Negro (1958), Crônica de um Verão (1960), etc. Como introdução à retrospectiva, o IMS ainda abrigará um colóquio internacional sobre o realizador francês, de 7 a 11 de julho. São oito mesas temáticas para pensar o legado de Rouch: o que ele representa para a história do cinema, suas relações com a filmografia de outros realizadores e com o trabalho de alguns antropólogos, e os seus vínculos diretos e indiretos com o Brasil – faltava talvez uma discussão mais contemporânea, pois Rouch está na base de muito do que melhor tem se feito hoje no cinema. Entre pesquisadores, antropólogos e críticos, as falas serão proferidas em português e francês, com tradução simultânea. É preciso se inscrever - para fazê-lo e conferir a programação, acesse a página do IMS.
(Julio Bezerra)

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De 8 a 19 de julho, o CCBB-SP brinda o público paulistano com a mostra The Lubitsch Touch - O cinema de Ernst Lubitsch, que reúne 15 filmes de um dos nomes incontornáveis do cinema mundial. Com curadoria assinada por Arndt Röskens, alemão radicado no Rio de Janeiro, o evento traz pelo menos quatro pérolas na programação: cópias em 35mm de versões restauradas de Ana Bolena (1920, talvez o maior momento da fase alemã do diretor) e Gatinha selvagem (1921, comédia visualmente delirante com Pola Negri), e de duas obras-primas mais conhecidas, Ninotchka (1939, que fez Garbo rir) e Ser ou não ser (1942, que provou que Lubitsch era mestre até no timing da História). Poucos dos primeiros filmes de Lubitsch sobreviveram até os dias de hoje, e um dos mais antigos, Sapataria Pinkus (1916) será exibido em cópia no formato 16mm – é uma bela chance de conferir a fase pré-Touch, menos "sofisticada", do cineasta. Um raro filme sério, Os olhos da múmia (1918), e aquele que é tradicionalmente apontado como o momento da primeira grande virada da carreira de Lubitsch, A princesa das ostras (1919), também têm destaque na programação, que conta ainda com um fragmento de A chama (1923), última produção européia de Lubitsch, recuperado pela equipe do Munich Filmmuseum há alguns anos. Mostras dessa natureza são tão raras hoje em dia no Brasil, que, com todos os elogios maiúsculos que a iniciativa merece, é de se lamentar, porém, o recorte que exclui pelo menos uma dezena de filmes importantíssimos. É impossível compreender a dimensão da obra de Lubitsch sem que se testemunhe a sequência inigualável de obras-primas produzidas na transição para o cinema sonoro, a começar pelo melodrama Amor eterno (1929) e pelos musicais Alvorada do amor (1929), Monte Carlo (1930), O tenente sedutor (1931) e Uma hora contigo (1932) – felizmente disponíveis em caixa de DVDs do selo Eclipse, da Criterion Collection, e também em diversas edições de baixo nível em DVD no Brasil. Ladrão de alcova (1932) e Sócios no amor (1933), também indispensáveis, e que representam talvez o momento máximo do "toque de Lubitsch", também são ausências especialmente sentidas numa mostra intitulada, er, The Lubitsch Touch. A coisa só não é tão grave porque A viúva alegre (1934), provavelmente seu melhor musical, e o pouco celebrado mas notável A oitava esposa do barba azul (1938), escrito por Billy Wilder e Charles Brackett, marcam presença na programação. A mostra pula ainda mais duas obras-primas de fim de carreira - A loja da esquina (1940), que junto com Aconteceu naquela noite (1934), de Capra, pode ser considerado o parâmetro pelo qual todas as comédias românticas modernas tentam se medir; e O diabo disse não (1943) - para se encerrar com O pecado de Cluny Brown (1946), um filme menor, mas charmoso, com uma Jennifer Jones hipnótica, no auge da beleza. A mostra exibe ainda um documentário intitulado Ernst Lubitsch em Berlim (Robert Fischer, 2006), que traz depoimentos de cineastas alemães da atualidade - nomes como Tom Tykwer, Wolfgang Becker e Dani Levy, entre outras empulhações que, com Lubitsch, só dividem o país de origem.
(Fernando Veríssimo)



Junho 2009

Depois do Rio de Janeiro, é a vez do CCBB de Brasília receber a impressionante mostra Chris Marker - Um Bricoleur Multimídia, descrita abaixo por Daniel Caetano. Depois de passar pela capital entre 16 e 28 de junho, a mostra segue para o CCBB-SP, onde termina a turnê brasileira entre os dias 24/6 e 5/7.
(Eduardo Valente)



Maio 2009

Está em cartaz no CCBB do Rio de Janeiro uma mostra de filmes do francês Chris Marker. É coisa imperdível – num ano de várias mostras dedicadas a grandes realizadores, essa é certamente uma das maiores. Ela vai até o dia 7 de junho e, em meio a um bocado de filmes raros de se ver, vai exibir jóias como Nível 5, O Fundo do Ar É Vermelho, o célebre La Jetée e o encantador Gato Escutando a Música, além dos filmes coletivos Longe do Vietnam e Já que dizemos que é possível, e também de filmes feitos em parceria, como Até Breve, Espero (co-assinado por Mario Marret) e a pequena obra-prima com que Marker iniciou a carreira, o impressionante As Estátuas Também Morrem, co-assinado por Alain Resnais (de quem Marker havia sido assistente em Noite e Neblina). Vale repetir: é imperdível. Marker é um realizador incomum e são bem raras as oportunidades de acesso a tantos filmes dele. A programação pode ser vista no blog do cinético Julio Bezerra.
(Daniel Caetano)


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Tratamos abaixo, em abril, da mostra Marguerite Duras: Escrever Imagens, que aconteceu no Rio de Janeiro, e que estava com viagem anunciada por outras quatro capitais brasileiras. A itinerância de fato começa agora em maio, com paradas em Porto Alegre (Sala PF Gastal, 1 a 7 de maio) e São Paulo (Cinusp, 18 a 29). No entanto é importante esclarecer que a mostra viaja numa versão "pocket", com apenas 7 dos 16 títulos exibidos no Rio. Embora seja uma pena a impossibilidade de conhecer nos cinemas a quase totalidade do surpreendente trabalho da cineasta, ainda assim o "apenas" acima deve ser relativizado, uma vez que alguns dos mais importantes e/ou deliciosos filmes da mostra estarão entre estes 7, como é o caso de India Song, As Crianças ou L'homme atlantique. Ou seja: integral ou não, é mostra a não se perder.
(Eduardo Valente)



Abril 2009

Depois das mostras dedicadas a Chantal Akerman e Marguerite Duras, o Ano da França no Brasil vai se confirmando como fonte de deleite constante garantido ao amante do cinema, com a realização da mostra O Mundo de Tati - e o melhor é que já sabemos que vem mais por aí, começando por Chris Marker ainda em maio... Embora ainda não tenhamos 100% de certeza se a mostra será exibida em película ou em DVD (ou parcialmente em cada formato), ainda assim a chance de ver a totalidade dos trabalhos de Jacques Tati é motivo suficiente para ir ao CCBB-RJ entre os dias 28 de abril e 3 de maio. Afinal de contas, é um cineasta cujos filmes certamente ganham muito com a tela grande e a possibilidade do espetáculo coletivo que ainda pode e deve ser o cinema. Chequem então a programação da mostra.
(Eduardo Valente)

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Em seguida à mostra dedicada a Stan Brakhage (ler nota abaixo), a Caixa Cultural-RJ mostra que 2009 vai ser um ano em que o cinéfilo carioca realmente terá que adicionar o espaço ao seu circuito obrigatório. O espaço abriga entre 14 e 26 de abril, a mostra Marguerite Duras: Escrever Imagens, que exibe o impressionante total de 16 filmes realizados pela escritora e cineasta, a maioria exibida em 35mm (entre eles o essencial India Song). Sem ter sido algo planejado (pois realizados por diferentes curadores e espaços), a mostra complementa curiosamente os eventos dedicados a cineastas franceses nos últimos seis meses, incluindo aí a retrospectiva de Alain Resnais (cujo Hiroshima Mon Amour foi roteirizado por Duras) e Chantal Akerman (cujo diálogo com o cinema de Duras já foi destacado em alguns textos e mostras pelo mundo). Parte da programação do Ano da França no Brasil, a mostra circula depois por Porto Alegre (Sala PF Gastal, 1 a 7 de maio); São Paulo (Cinusp, 18 a 29 de maio), Salvador (Sala Walter da Silveira, 5 a 11 de junho) e Belo Horizonte (Cine Humberto Mauro, 15 a 21 de junho), num bem sacado circuito de cinemas programados ou mantidos por instituições de diferentes níveis de governo (estadual, municipal).
(Eduardo Valente)

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É chegado o momento, anualmente proporcionado pelo CineSESC, no Festival SESC dos Melhores Filmes, de rever alguns dos principais filmes exibidos no circuito comercial brasileiro ao longo do ano anterior (o que vem muito a calhar já que só agora estamos mesmo subindo nossa retrospectiva do ano de 2008 aqui na revista). Entre 9 e 30 de abril, a chance é ótima para ver alguns dos filmes que se possa ter perdido (algo especialmente importante neste ano em que destaques nacionais como Encarnação do Demônio, Cleópatra ou Falsa Loura ficaram tão pouco tempo em cartaz) ou para rever alguns filmes que, mesmo já disponíveis em DVD (como A Questão Humana ou Não Estou Lá), talvez nos brindem com algumas das últimas chances de serem vistos na tela grande, como é sempre melhor. Este será certamente o caso dos filmes lançados pelas majors americanas (caso de Sweeney Todd, por exemplo), pois sabidamente estas se desfazem das cópias em película num prazo incrivelmente curto.
(Eduardo Valente)

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Entre os dias 7 e 26 de abril, o CCBB-RJ é tomada de assalto pela Mostra do Filme Livre, evento já tradicional do calendário audiovisual carioca que se firma a cada ano junto aos realizadores independentes do Brasil como uma das poucas plataformas para exibir seus filmes. O grosso da programação é formada por 25 sessões de curtas, separados entre uma mostra competitiva e outra informativa. Embora o gigantismo seja compreensível politicamente, pelo desejo de exibir o máximo possível de trabalhos, ele também dificulta um pouco qualquer olhar mais abrangente sobre caminhos que a mostra encontre curatorialmente na produção de curtas brasileiros atual. Para isso, talvez seja mais fácil se ater às homenagens sempre antenadas (este ano dedicadas a Sérgio Ricardo e à produtora catarinense Canibal Filmes) e/ou às sessões de longas, cujo recorte mais "rigoroso" (entendido aqui pelo simples fato de precisar selecionar um número menor) aponta para uma série de filmes que, na maior parte, são ignorados pelos festivais maiores e pelo circuito comerical - muitos deles acabam só sendo exibidos no Rio de Janeiro durante a MFL. A programação completa tem ainda debates, palestras, festas, exibições em cineclubes pela cidade... em suma, muita coisa legal.
(Eduardo Valente)

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Correndo a página até o mês de fevereiro, o leitor poderá ver a menção à mostra 100 Anos da Cinematografia Polonesa, que depois de passar por Rio e São Paulo chega agora a Curitiba, onde acontece entre 17 e 30 de abril na Cinemateca de Curitiba. Lembrando que todas as projeções são em DVD, ainda assim é preciso mencionar a força de alguns filmes difíceis de se encontrar e que valem a visita - em especial O Interrogatório e Mimetismo, programa duplo fortíssimo no dia 25/4.
(Eduardo Valente)

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O cinema asiático toma conta das salas públicas de São Paulo este mês, com três mostras dedicadas a diferentes cinematografias da região. Nos finais de semana do mês de abril, até o dia 26, a Biblioteca Pública Roberto Santos hospeda a mostra China: Horizonte Vermelho, que exibe em DVD um panorama do cinema chinês com filmes de 1948 (Primavera Numa Aldeia, de Fei Mu) a 2006 (Summer Palace, de Lou Ye), passando por nomes como Zhang Yimou (que comparece na mostra com Sorgo Vermelho e Lanternas Vermelhas) e Jia Zhang Ke (de quem se exibem Pickpocket, seu primeiro filme, e Em Busca da Vida).

Enquanto isso, o Centro Cultural São Paulo emenda duas mostras asiáticas em sua programação. De 7 a 19 de abril acontece a mostra Um Perfil do Cinema Japonês Contemporâneo - que, ao contrário do que ocorre normalmente no espaço, terá todas as suas projeções em película 16mm. Serão exibidos filmes como Verão Negro - Falsa Acusação, de Kei Kumai (premiado em Berlim em 2001); A Garota Que Saltou no Tempo, premiada animação de Mamoru Hosoda; e A Espada Oculta, de Yoji Yamada. Na seqüência, de 28 de abril a 03 de maio, voltam as projeções em DVD para a mostra As Nuanças do Cinema Sul-Coreano, que tem como principal destaque Cão Que Ladra Não Morde, de Bong Joon-ho.
(Leonardo Mecchi)


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Depois de um março caprichado, como se pode ver abaixo, abril começa igualmente recheado de opções marcantes para o cinéfilo – em especial o carioca. A distinção geográfica se justifica pela exclusividade da realização na Caixa Cultural-RJ de um evento da importância deste Stan Brakhage – A Aventura da Percepção, entre 7 e 12 abril. Ao longo destes dias serão exibidos no formato original em 16mm um total de 27 títulos (entre longas, médias e, predominantemente, curtas) realizados por este cineasta americano chamado pela curadoria do evento, não sem razão, de “mais influente cineasta experimental de todos os tempos”. Trata-se de oportunidade inédita no país, a ser celebrada com intensidade. Mais detalhes sobre a programação e sobre o cineasta, o leitor encontra no site da mostra.
(Eduardo Valente)

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A Cinemateca Brasileira permite ao espectador paulistano um contato mesmo que tardio com uma obra instigante na mostra Carlos Nader: Ensaios Audiovisuais, realizada entre 1 e 12 de abril. Trazido definitivamente à atenção de um público mais amplo no ano passado, com a vitória no É Tudo Verdade e o posterior lançamento comercial de Pan-Cinema Permanente, Carlos Nader é realizador que transita entre formatos bem distintos, do documentário à videoarte. A mostra, cuja programação apresenta sua numerosa obra completa, terá ainda debates com artistas como Antonio Cícero, Caetano Veloso e Carlos Adriano.
(Eduardo Valente)

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Um dos acontecimentos mais importantes em termos de difusão e debate de filmes em São Paulo é sem dúvida o Cineclube Equipe (sobre o qual já falamos na revista em um artigo) . Não só pelo que é exibido nas suas sessões, mas sobretudo, porque eles ancoram seus ciclos anuais a conceitos muito bem definidos. Este ano, estimulados pelo livro Historiografia Clássica do Cinema Brasileiro, de Jean-Claude Bernardet, o cineclube empreende uma "Investigação do cinema no Brasil". A programação deste seu quarto ano de atividades começa nesse sábado dia 04 de abril discutindo o cineclubismo no Brasil, com a exibição às 16h de Iracema - Uma Transa Amazônica (Jorge Bodanzky e Orlando Senna, 1974), que segundo o cineclube "obteve grande público em exibições alternativas em cineclubes e centros culturais". O debate começa em seguida, com André Gatti, professor de história do cinema brasileiro e ativista do movimento cineclubista. O endereço do auditório do Colégio Equipe é R. Bento Frias, 223 - Pinheiros, São Paulo (tel. 3579-9150).
(Francis Vogner dos Reis)

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O começo de ano tem sido mesmo auspicioso para o amante do cinema no Rio de Janeiro. Para além de algumas preciosas mostras sobre as quais tratamos acima e abaixo desta nota, abril marcará a segunda adição de uma sala de repertório regular diferenciado à programação constante de cinema da cidade. Depois do Cine Glória (do qual tratamos mês passado), agora é a vez do cinema do Instituto Moreira Salles, que até março cumpria principalmente o papel de final de circuito do Arteplex local. Capitaneado pelo crítico José Carlos Avellar, o cinema estréia a nova fase prometendo “propor mostras com conceitos mais abertos (que poderãotambém se combinar com filmes em circuito), buscando estabelecer conexões menos óbvias entre os filmes apresentados, favorecendo uma percepção mais instigante do cinema, fugindo aos conceitos mais recorrentes que costumam nortear as reflexões sobre cinema”. É uma declaração de princípios ousada, que tem abertura no dia 3 de abril com uma mostra denominada Bolívia, a partir do filme argentino homônimo, dirigido por Israel Adrián Caetano em 2001, que tem contrato de distribuição com o Brasil mas permanecia inédito. Entre outros, juntam-se ao filme-titulo a pré-estréia do filme de Eryk Rocha, Pachamama; e um clássico do cinema boliviano, Sangue de Condor (1969), de Jorge Sanjinés. A programação (que pode ser vista aqui) segue a linha de alguns cinemas de repertório parisienses ou novaiorquinos, revezando os filmes em múltiplas apresentações ao longo do mês, fugindo tanto do modelo comercial (que não consegue dar conta de filmes como o próprio Bolívia) quanto das mostras temáticas de duração mais curta, com menos exibições de cada título. É torcer para que a sala, infelizmente localizada em espaço de difícil acesso, seja descoberta logos pelos cinéfilos mais aventureiros para que o perfil tenha continuidade que a permita firmar-se.
(Eduardo Valente)

Março 2009

A notícia é muito boa para o cinéfilo carioca: o Cine Glória está passando por uma reformulação grande na sua programação e a partir deste mês começa a abrigar cursos e eventos especiais, tentando fazer da simpática sala na Glória, ainda pouco conhecida e frequentada, um pólo agregador de pessoas a fim de ver, pensar e fazer cinema no Rio de Janeiro. Um dos eventos mensais agregados ao cardápio será o Cinema Falado, uma sessão seguida sempre de debate com críticos, teóricos e/ou realizadores. A primeira delas, nesta quinta, dia 26/03, exibe Meu Nome é Dindi, o premiado londa de estréia de Bruno Safadi (em Tiradentes e Santa Maria da Feira levou o prêmio principal). Tendo cumprido passagem-relâmpago pelo circuito comercial, o filme tem assim mais uma chance de ser visto, numa sessão seguida de debate com o próprio diretor e Ruy Gardnier, da Contracampo. Acima de tudo, a torcida é para que a nova fase do Cine Glória "pegue", e os cariocas ganhem um espaço verdadeiramente alternativo e inteligente.
(Eduardo Valente)

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A Cinemateca Brasileira vem prestando um ótimo serviço para a difusão de uma cinematografia pouco vista por aqui com a mostra Bollywood e Cinema Indiano, que chega à sua terceira edição entre os dias 17 e 29 de março. E assim como na mostra de cinema polonês (vide nota mais abaixo), por se tratar de uma cinematografia pouco vista mesmo por nós da revista, fomos atrás de recomendações de amigos críticos e cinéfilos do país em questão. Dentre a programação desta edição da mostra “Bollywood e Cinema Indiano”, a crítica indiana Taran Khan recomenda Johnny Gaddaar, de Sriram Raghavan (espécie de film noir indiano); Bombay, de Mani Ratnam (melodrama musical com trilha de A.R. Rehman – o mesmo premiado no Oscar por Quem Quer Ser Um Milionário?); Black Friday, de Anurag Kashyap (filme sobre o terrorismo perpetrado contra os muçulmanos na Índia); The Terrorist, de Santosh Sivan (produção independente inspirada por eventos em torno do assassinato do ex-Primeiro Ministro Rajiv Gandhi, foi o primeiro filme indiano exibido no Festival de Sundance Film Festival); e Bobby, de Raj Kapoor (um clássico de Bollywood de 1973). É mais uma chance de ir à fascinante fonte original, deixando de lado mediadores como Danny Boyle e Glória Perez... (Leonardo Mecchi)

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Durante todo o mês de março, a Cinemateca do MAM - RJ exibe, sempre em sessões únicas, uma mostra com justiça nomeada de Clássicos do Cinema Japonês. Com títulos que vão de 1936 (Filho Único, primeiro filme sonoro de Yasujiro Ozu) a 1993 (Sonatine, de Takeshi Kitano), a programação (disponível no site do Museu) traz filmes de Kenji Mizoguchi, Akira Kurosawa, Mikio Naruse, Hiroshi Teshigahara, Masahiro Shinoda, Nagisa Oshima e Teinosuke Kinugasa, incluindo-se aí filmes fundamentais do cinema mundial como Viagem a Tóquio, de Ozu ou Contos da Lua Vaga, de Mizoguchi. O fato da maior parte dessas cópias circularem com alguma frequência nas salas cariocas (há ainda alguns filmes passando em DVD, uma minoria), não deve desanimar o espectador, pois afinal o ato de rever é tão essencial quanto o de ver.
(Eduardo Valente e Fábio Andrade)

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Com um escopo bem amplo, a Caixa Cultural do Rio apresenta, de 10 a 22 de março, a mostra Retomando a Questão da Indústria Cinematográfica Brasileira, que realizará um panorama histórico das principais tentativas de se implantar uma indústria cinematográfica no Brasil, enquanto passa também por movimentos como o Cinema Novo, Cinema Marginal e a Pornochanchada. Serão exibidos clássicos da Cinédia (Alô, Alô, Carnaval e O Ébrio, até hoje considerado uma das maiores bilheterias do cinema brasileiro), da Atlântida (Carnaval Atlântida), da Vera Cruz (O Cangaceiro), além de outros sucessos de bilheteria, de Dona Flor e Seus Dois Maridos a Cidade de Deus. A cada dia, estudiosos e pesquisadores discutirão cada um dos momentos retratados na programação, com participações de Hernani Heffner, Arthur Autran, Luis Alberto Rocha Mello e Pedro Butcher, entre outros.
(Leonardo Mecchi)

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Reforçando uma tendência recente, o CCBB apresenta em março, num trabalho conjunto dos seus três centros pelo Brasil (em SP, de 4 a 22 de março; no Rio, de 10 a 26; no DF, de 17 a 29), a mostra O Cinema de Chantal Akerman. Embora tenha alguns dos mesmos atributos positivos (como a aposta numa mostra que depende de grande investimento e trabalho de pesquisa fora dos acervos nacionais, já um tanto esgotados em sua disponibilidade de trazer novidades e/ou variedade de oferta no que se refere ao cinema mundial), a grande diferença desta mostra para eventos recentes, como as retrospectivas dedicadas a Alain Resnais ou Robert Altman, está justamente no fato do nome da cineasta belga radicada na França não trazer um grau de reconhecimento imediato mais fácil, nem mesmo para boa parte do público cinéfilo. Reconhecidamente, ao longo de mais de 40 anos de trabalho, sua obra é uma das mais importantes do cinema francês recente, mas mesmo assim muitos de seus filmes têm sido completamente ignorados mesmo pelos principais festivais internacionais do país. Até por isso, a oportunidade de assistir em conjunto duas dezenas de seus trabalhos (que passam de 40, entre diferentes durações, registros e variando entre produções para cinema e TV) é mais do que urgente. Ainda mais quando acompanhada da presença no Brasil da própria diretora, e da publicação de mais um caprichado catálogo que acaba completando um trabalho de cinema ao suprir ausências também do nosso circuito editorial. Desde já, um dos eventos do ano.
(Eduardo Valente)

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Logo em seguida à mostra dedicada ao cinema polonês (ver nota no mês abaixo), o CCBB-RJ apresenta um programa dedicado à cinematografia continental menos conhecida e exibida internacionalmente (não só no Brasil). Com a mostra Clássicos Africanos Restaurados, que exibe entre 3 e 8 de março, o centro cultural reforça uma muito bem vinda tendência de, em trabalho conjunto com as embaixadas, dar a ver ao cinéfilo carioca filmes que ele absolutamente não tinha tido ainda a chance de ver. Curiosamente, no caso da mostra africana, a embaixada com que se trabalha é a francesa - o que certamente explica por que, entre os 16 títulos exibidos (9 longas, 7 curtas), uma quantidade razoável trata do tema da relação entre as ex-colônias e a França, ou da vida dos imigrantes no país europeu. Colonialismo à parte, é histórico o papel importante das instituições culturais francesas no financiamento e difusão do cinema de países como Senegal ou Mali (que concentram a maior parte dos filmes deste recorte francófono da África - para além dos dois, há filmes de Nigéria e Madagascar). Com maior número de produções dos anos 70 e 80, a mostra contempla filmes de 1957 a 1997, exibindo somente realizadores sem maior reconhecimento no Brasil. Chance única, portanto.
(Eduardo Valente)

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Provando que muitas vezes o cinema desconhecido do espectador não precisa ser aquele mais distante geograficamente, o CCBB-DF promove, entre 3 e 15 de março a mostra Watson Macedo, dedicada ao cinema de um realizador de carreira prolífica (da qual se exibem 14 filmes), mas no geral pouco conhecido pelo espectador brasileiro - mesmo o mais interessado pelo cinema nacional. Uma das hipóteses para este desconhecimento/esquecimento, levantada pelo curador da mostra, Filipe Furtado, é a posição curiosa de Macedo, realizador que trafegava dentro do cinema popular com um cuidado e habilidade cinematográfica incomuns (além de diretor, ele trabalhou como montador, câmera, cenógrafo, roteirista). A mostra exibe, ao lado de Aviso aos Navegantes, filme que ganhou maior reconhecimento recente (inclusive por ter sido restaurado e exibido no Festival do Rio), uma série de obras muito pouco vistas e lembradas, dando à sua própria realização inegável e histórica (no sentido estrito) importância.
(Eduardo Valente)

Fevereiro 2009

Esta vai para o paulistano que realmente prefere um carnaval nos cinemas (e são vários): o Instituto Goethe disponibiliza a íntegra de Berlin Alexanderplatz, de Rainer Werner Fassbinder, que será exibido no Centro Cultural São Paulo entre os dias 25 de fevereiro e 1º de março, em 14 episódios de aproximadamente uma hora cada (a exceção do primeiro capítulo e do epílogo, que possuem mais de 90 minutos). Trata-se de uma boa oportunidade para quem não viu a obra quando foi exibida na última na Mostra de SP (quando se tem um universo de centenas de filmes a serem vistos em poucos dias – sendo que em muitos casos trata-se de uma oportunidade única de vê-los) e que prefere a sala de cinema à TV (uma vez que o DVD restaurado e remasterizado foi lançado pela Versátil no final do ano passado).
(Leonardo Mecchi)

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Mesmo nos nossos principais festivais internacionais ou nos centros culturais e cinematecas, raras são as chances que temos de olhar para o passado de uma cinematografia periférica, algo essencial para que possamos olhar o "cinema mundial" realmente entendido como tal. Por isso mesmo, não se pode fazer pouco de uma oportunidade como a que nos oferece a mostra 100 Anos da Cinematografia Polonesa, que o CCBB-RJ recebe até o dia 1º de março. Organizado pela Embaixada Polonesa, o evento exibe 14 longas que vão de 1929 a 2008, a maioria deles completamente inédito no Brasil. Claro que 14 filmes passam longe de nos contar uma história completa, mas é muito mais do que geralmente temos a chance de conhecer sobre um cinema tão pouco visto para além dos suspeitos usuais (Polanski, Wajda e Kieslowski, claro, e depois já um grupo bem mais fechado formado por Skolimowski, Kawalerowicz, Zanussi e uns poucos). Finalmente, vale dividir com o leitor algumas dicas passadas por amigos estrangeiros (um deles, polonês), para aqueles que não possam mergulhar tão de cabeça no total da mostra: atenção especial então a Tchau, Até Amanhã (de Janusz Morgenstern, 1960); Hotel Pacífico (de Janusz Majewski, 1975); A Dívida (de Krzystof Krauze, 1999); O Interrogatório (de Ryszard Bugajski, 1982); e a curiosidade inevitável pelo filme de 1929, O Homem Obstinado (de Henryk Szaro) - isso tudo, é claro, além dos filmes dos já citados Wajda, Kawalerowicz e Zanussi. Atualização da nota: Tendo ido conferir a mostra no CCBB-RJ, há dois comentários a fazer. O positivo é que o material escrito que acompanha a mostra (e inclui um bem vindo pequeno resumo da história do cinema polonês - ainda que num português bastante truncado) informa que ela passa até junho por mais onze cidades brasileiras (sem datas específicas mencionadas: Belém, Belo Horizonte, Brasília, Curitiba, Erechim, Florianópolis, Goiânia, Palmas, Porto Alegre, Salvador e São Paulo), o que é uma bela notícia já que a maioria das mostras especiais quase sempre se limitam ao eixo Rio-SP-DF. O negativo é que a mostra é toda realizada em projeções de DVD, como tem sido praxe cada vez mais. Claro que em se tratando de um material tão raro, continua sendo uma oportunidade e tanto, e é de se entender que, com a ausência de abrangente acervos no Brasil, os custos (ainda mais em tempos de crise, dólar alto, diminuição dos orçamentos das mostras em geral, etc) de importação de cópias em película é mesmo muito alto. No entanto, tudo isso só nos faz apreciar mais e mais esforços como os das recentes mostras de Resnais, Altman ou da Nouvelle Vague Indiana, que passam por cima de tudo isso e priorizam, mesmo a altos custos, a exibição de um grande número de filmes no material em que foram feitos e que ainda os dá maior qualidade de apresentação. (Eduardo Valente)

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Os poucos filmes alemães recentes que têm alcançado alguma repercussão aqui no Brasil (filmes como Adeus, Lênin!, Edukators, A Queda, Sophie Scholl e A Vida dos Outros) não são mais do que uma pequeníssima amostra de uma produção que atinge mais de 100 filmes por ano. Parte dessa produção será exibida na mostra Novo Cinema Independente Alemão: Uma Outra Política do Olhar, que ocupa o CCBB-SP de 11 de fevereiro a 1º de março. A curadoria de Cristian Borges e Martine Floch selecionou 18 longas-metragens produzidos entre 1998 e 2007 e realizados por novos cineastas que costumam trabalhar fora dos grandes estúdios. Entre eles estão Christian Petzold (Controle de Identidade, Fantasmas e Yella), Christoph Hochhäusler (Caminho do Bosque, O Impostor), Hans-Christian Schmid (Luzes) e Maria Speth (Madonas), todos eles cineastas premiados em diversos festivais pelo mundo. Além da exibição de filmes inéditos no Brasil, a mostra promete ainda cursos, debates e um encontro com o diretor Christoph Hochhäusler, que irá discutir essa nova produção alemã, além de um recheado catálogo com artigos inéditos sobre os filmes desse período e entrevistas exclusivas. (Leonardo Mecchi)

Relembre destaques da agenda de 2008

Relembre destaques da agenda de 2007


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